Sempre respeitei vagas exclusivas, seja de idosos ou de deficientes, por uma questão de princípio. Como meus leitores mais contumazes sabem, não sou de transgredir regras e normas de trânsito.
Pessoalmente acho desnecessárias vagas inventadas aqui no Brasil, muitas sem sequer respaldo legal, como as vagas privativas (hã??) para pastor na frente de templos evangélicos. Ou vagas específicas para carro híbrido. Mesmo vagas para gestantes. Mulher grávida precisa estacionar mais perto para andar menos? Acho extremamente questionável, pois se pode trabalhar até a hora de ir para a maternidade ou mesmo agredir fisicamente uma fiscal de trânsito (como aconteceu há pouco tempo), acredito que poderia andar mais uns metros no shopping. Da mesma forma, acho que chamar de idoso quem tem 60 anos ou pouco mais do que isso é meio incoerente e por isso acho que as vagas exclusivas poderiam ser para pessoas de 70 anos ou mais. Especialmente, no caso de gestantes e de pessoas com 60 anos, no caso de shoppings ou supermercados. Se a pessoa vai para andar no estabelecimento acredito que alguns metros a mais no estacionamento não fariam mal, mas sei que estou abrindo as portas do inferno com essas duas opiniões. Não importa. Não tenho medo de cara feia e se é para discutir civilizadamente e com argumentos, estou dentro. Se não é o caso, qualquer coisa que diga ou escreva o outro lado jogará pedras do mesmo jeito.
Não quero ser ingênua de dizer que vaga exclusiva só é desrespeitada no Brasil. Não é verdade, embora pelo menos nos países civilizados isso seja muito raro mesmo. Mas minha amiga e xará Nora quando se mudou da Argentina para os Estados Unidos pegava a bolsa no carrinho de compras e a levava com ela mesmo que fosse para ver um produtos a apenas um par de metros de onde estava. O marido, americano, um dia questionou, alegando que estava numa cidade onde furtos desse tipo não aconteciam e ela, de pronto, respondeu: “mas e se tiver um argentino neste supermercado?” É mais ou menos assim que sempre penso. Se estou no exterior e vejo uma vaga de deficiente ocupada por alguém sem identificação logo penso que pode ser um turista aproveitador.
Irritante, mesmo, é aquele argumento “é só um minutinho”. Aí, a criatura para na vaga de deficiente em vez de estacionar mais longe e andar — algo que pode fazer sem problema algum. Não o faz porque não quer. Por isso gostei de algumas atitudes que estão sendo adotadas para mudar esse comportamento.
Recentemente, uma das minhas primas postou numa rede (anti)social uma campanha muito legal da prefeitura de San Isidro, município da Grande Buenos Aires. Logo me chamou a atenção, claro, pela simplicidade e pelo estilo direto ao ponto. Numa tradução livre, seria algo como “coloque-se no nosso lugar, não no lugar nosso”. Em espanhol fica mais legal, mas certamente dá para entender o sutil jogo de palavras.
Em São Paulo esta semana estacionaram várias cadeiras de rodas em vagas de veículos em algumas ruas da cidade. Todas com avisos: “É só um minutinho”; “Volto já” e coisas nessa linha das desculpas esfarrapadas. O mesmo já aconteceu em outras cidades, como Blumenau, Três Lagoas (foto de abertura), Divinópolis… sempre seguindo o mesmo tema e a mesma forma.
Fiquei mais chata com essa história de vagas exclusivas quando operei um joelho, há uns 20 anos. Embora fosse uma artroscopia, a cirurgia foi uma reconstrução artística da minha articulação toda avariada e naquela época a cirurgia era um pouco mais complicada do que agora. Tive de ficar com a perna inteira imobilizada durante algum tempo. Primeiro alguns dias de cadeira de roda, mesmo pois não podia nem pensar em apoiar o pé sequer por um minuto. Depois muletas e pulei a fase da bengala graças a uma ótima fisioterapia. Mas as muletas foram cruéis. Mesmo assim, somente parei em vagas especiais na primeira etapa, em que tinha que me locomover com cadeira de rodas. Já na fase muletas parava normalmente e ia manquitolando. Um dia que fui ao um hipermercado, entrei com minhas muletas e logo veio uma atendente com uma cadeira de rodas motorizada. Aceitei, pois parecia prático, mas não contava com minha enorme falta de habilidade em dirigir essa geringonça e logo percebi que colocar as muletas no cestinho de compras era uma péssima ideia. Logo é logo, mesmo, pois ao fazer uma curva esqueci do comprimento extra e derrubei algumas latas numa prateleira. E demorei um pouco até me acostumar que a alavanquinha para a frente fazia a cadeira ir para trás, enquanto se mexesse o joystick para trás, a cadeira iria para a frente. Felizmente, não havia outros comandos a serem aprendidos se não teria passado uns dois dias dentro da loja. Quando quase dois anos atrás rompi os ligamentos do pé já estava mais prática e a cadeira motorizada da Pinacoteca de São Paulo foi um achado para percorrer meu museu favorito. Mas ela anda mais rápido do que meu cérebro para calcular distâncias e quase saio pela lateral de vidro do elevador ao estimar mal o espaço de frenagem.
O fato é que minhas deficiências temporárias me fizeram sentir na própria pele como é difícil entrar ou sair de um veículo se não houver espaço extra nas laterais — entre outras muitas complicações, como apenas andar pela rua, cheia de postes mal posicionados, árvores idem e, óbvio, buracos mil. Por isso sou acometida por pensamentos muito, muito malignos, quando vejo alguém ocupando vaga que não deveria. Chego a pensar em como seria se essa criatura fraturasse as duas pernas, só para experimentar as dificuldades que um deficiente encontra o tempo todo. Mas como já me disse uma psiquiatra amiga, o problema não é o pensamento já que ele não pode ser dominado, mas sim como agimos. E nunca quebrei as pernas de ninguém. Já o que se passa dentro do meu crânio… bem, deixa pra lá.
Existe multa para quem descumpre a lei. Por sinal, é o artigo 181, inciso XX, do Código de Trânsito Brasileiro que diz:
Estacionar o veículo:
XX – nas vagas reservadas às pessoas com deficiência ou idosos, sem credencial que comprove tal condição:
Infração: gravíssima Penalidade: multa;
Medida administrativa – remoção do veículo.
Lembro que Infração gravíssima enseja 7 pontos no registro da CNH e multa de R$ 293,47.
Não gosto de palavras da moda, mas acho que empatia define o que deve ser praticado de vez em quando. Mais do que multa ou outras penalidades, eu sentenciaria quem ocupa vaga de deficiente a se locomover sozinho numa cadeira de rodas durante um mês — sim, posso ser muito má às vezes. Reincidências seriam exponencialmente aumentadas para seis meses e assim por diante. Colaria a pessoa na cadeira com Super Bonder. Aí quero ver se depois disso ia continuar parando em vaga exclusiva. Acredito que alguns mais recalcitrantes sim, mas a maioria desistiria desse mau hábito. Putz, eu havia pedido semana passada que não me deixassem ficar ranheta, mas parece que não funcionou. Ranheta estou!.
Mudando de assunto: GP de Barcelona valeu por algumas (poucas) disputas de posição, mas não foi assim, digamos, inesquecível. Gostei de ver o Bottas na pole position e de como se segurou depois que o Vettel o “ensanduichou”. Mas acho uma pena que escuderias como Renault ou Alfa Romeo (Sauber) não consigam resultados mais consistentes. Acho legal ter mais disputas. Destaque para dois pilotos que curto muito, especialmente pela tocada suave, embora sejam agressivos e rápidos, e pela forma como cuidam dos carros: Hülkenberg e Räikkönen. Sempre são os últimos a trocar pneus, que duram mais do que os dos outros, e apesar de não terem possantes à altura dos primeiros do grid conseguem levar quase sempre os carros até o fim e inteiros. Nesse sentido, sou Ferrari: tragam as crianças para casa.
NG