Desde que publiquei minha escrevinhacão sobre carros em seriados, fiquei devendo a alguns leitores que sugeriram veículos utilitários em seriados. Bem, a paciência é recompensada não apenas na religião, mas também neste espaço. Como sempre digo, às vezes demoro mais do que gostaria, mas não deixo de cumprir minhas promessas. Ainda tenho algumas pautas em andamento, mas gosto de pesquisar bastante pois apesar de minha memória ser muito boa não confio totalmente nela e, claro, quero entregar a meus seguidores textos atualizados.
Bom, habeas corpus preventivo já estabelecido, vamos à minha seleção de veículos utilitários usados em seriados que, por diversos motivos, considero representativos de algo – pode ser um tempo, um veículo ou apenas algo que guardei com simpatia na minha lembrança.
Daktari (Daktari)
Jeep Gladiator e vários Land Rover
Um clássico da minha infância. Sempre gostei de bichos e o simpático leão vesgo Clarence era meu favorito (foto de abertura). Os jipes usados no seriado venciam valentemente as savanas da África Oriental e estavam sempre presentes. O Jeep Gladiator 1966 tinha pintura de zebra e era meu favorito. E tinha um monte de Land Rover Defender. Cultura meio inútil: daktari em swahili quer dizer “doutor”. Outra curiosidade: quando tinha que andar num dos jipes, Clarence era substituído por outro leão pois tinha medo dos carros. O seriado foi ao ar entre 1966 e 1969 e mostrava o dia a dia de um grupo de veterinários num centro de Comportamento Animal, baseado na história real de um casal de voluntários em Nairóbi.
Familia Dó ré mi (The Partridge Family)
Ônibus escolar 1957 Chevrolet Serie 6800 Superior
Outro clássico, este do início da minha adolescência. Foi um dos primeiros seriados que vi quando cheguei ao Brasil. Gostava daquela ingenuidade de uma família enorme. Jamais entendi como a mãe, ainda por cima sem a ajuda de de um marido, conseguia lidar com aquela tropa toda. E cantavam todos com o maior sorriso. Nunca se via ninguém limpando a casa, lavando roupa ou passando, mas sempre estava tudo impecável. Ela ainda aparecia com frequência sentada lendo um livro! Parecia comercial de margarina. E as músicas? Ah… aquela simplicidade ingênua, pop, com canções que depois de ver na “Sessão da Tarde” passavam o resto do dia na minha cabeça. Foi ao ar entre 1970 e 1974, baseada na família Cowsill, que cantava pelos Estados Unidos na década de 1960.
O ônibus era um ícone do pop dos anos 70, todo psicodélico. Um barato!
Duro na Queda (The fall guy)
GMC K-2500
O seriado que foi ao ar entre 1981 e 1986 mostrava uma turma de dublês que fazem freelancers como caçadores de recompensas. Costumavam ter bacanas perseguições nas ruas de Los Angeles numa GMC K-2500. Muitas vezes atores famosos faziam pontas — caso da então esposa de Lee Majors, Farrah-Fawcett e Tom Selleck, entre outros. Pessoalmente, curtia muito o Lee Majors, que achava lindíssimo e simpático. Era também “O Homem de Seis Milhões de Dólares” — por sinal, jamais entendi o fato de o sujeito ter um olho biônico e graças a isso ler a uma velocidade espantosa. Ou será que o cérebro dele também era biônico? Sugestões para esta coluna.
Dexter
Ford Escape 2008 híbrido
Seriado bastante controverso que, na minha opinião, teve algumas temporadas iniciais muito boas mas bem no final virou um pasticho. Foi ao ar de 2006 a 2013. A ideia é extremamente original: um investigador forense especialista em sangue que trabalha na polícia de Miami mas que é um serial killer. Dexter ficou órfão e foi adotado por um policial que é pai biológico de Debra, irmã que o protege sempre que pode, embora sem saber do lado sombrio do caçula. Ela é policial na mesma delegacia que Dexter. Para quem gosta de psicologia, é o pai quem ensina a Dexter táticas de assassinato e como encobrir seus crimes, sempre cometidos com base num código que ele mesmo criou. Dexter usa um suve, ideal para transportar os corpos que ele retalha. Há algumas ironias no seriado, como o fato de Dexter usar um Ford Escape híbrido. Será que ele tem alguma consciência ambiental? No entanto, não hesita em jogar os corpos das pessoas que ele mata no mar ou em pântanos da Flórida — bem, talvez ele acredite em cadeia alimentar, alimentar a fauna local, etc, etc. etc.
Lost
Volkswagen Kombi 1971
Lembro meio vagamente deste veículo pois comecei a assistir o seriado e depois desisti. Achei extremamente confuso e excessivamente pretensioso. Algo que me aconteceu com “Westworld,” que apesar de ter um meu ídolo Ed Harris e o sempre ótimo Anthony Hopkins virou uma colcha de retalhos. A série durou de 2004 a 2010 e a história prometia: um grupo de passageiros de um avião que aparece misteriosamente numa ilha depois da queda da aeronave. A Kombi aparece como propriedade da Iniciativa Dharma, uma organização que havia ocupado a ilha antes da chegada dos sobreviventes do desastre aéreo que deu início à trama. Apareceu mais de um modelo. O básico tinha cabine, bancos removíveis. O clássico modelo da Volkswagen aparece em diversos episódios de “Lost”. Quase todas foram utilizadas pela iniciativa Dharma (“os outros”), Além do modelo básico também foi vista na série uma Kombi Pick-up na construção da Estação Cisne. O seriado chegou a fazer muito sucesso e em 2010 uma das Kombis foi leiloada por US$ 47.000 — uma boa valorização pois se ele não tivesse sido utilizado no seriado seu valor não passaria dos US$ 12.000, com muito boa vontade. Mas fã que é fã não olha para esses detalhes, né?
Esquadrão Classe A ( The A team)
GMC Vandura (G-1500)
Outro seriado dos anos 80, especificamente durou de de 1983 a 1987. Um pouco na linha de “Duro na Queda”. Um grupo de ex-soldados do Vietnã que vive ajudando inocentes em suas fugas dos militares. O nome em inglês refere-se aos boinas verdes (green berets), o que eles eram na realidade antes de cair numa armadilha em que levam a culpa sem serem realmente os únicos culpados. Na verdade, o grupo do seriado era de mercenários “do bem”. Bem ingênuo e divertidinho, começando pelo contato entre os que querem contratar os veteranos e os próprios: um velhinho que cuida de uma lavanderia. Mais ingênuo e extemporâneo, impossível. O carro, claro, era customizado, mas a base era uma GMC Vandura (G-1500)
Breaking Bad
Pontiac-Aztek e 1986 Fleetwood Bounder RV
Um seriado que ainda merece uma maratona da minha parte, pois assisti poucos capítulos e, por isso mesmo, não o entendo totalmente. Assim como o personagem principal, o carro é horroroso. Mas acho que por isso funciona, pois tem a ver com a dicotomia do personagem, um químico e professor da matéria extremamente frustrado e que descobre que tem um câncer de pulmão. Para pagar suas dívidas (e, na minha opinião, transgredir depois de anos de uma vida medíocre e sem surpresas) junta-se a um ex-aluno e ambos começam a produzir metanfetamina para vender ilegalmente. O professor usa um Pontiak Aztek ou um motor-homeFleetwood Bounder 1986. Foi ao ar entre 2008 e 2013.
CSI Miami
Hummer H2
Sempre fui fã de “CSI” mas o primeiro e, na minha opinião, o melhor, “Las Vegas”. O de “Nova York” tinha uma pegada mais introspectiva também muito boa. O “Miami” para mim era um horror de exageros, mas os três tinham como denominador comum a excelente música de abertura — os três eram de um dos meus grupos favoritos, o The Who. Todos diferentes, mas extremamente marcantes. Li em algum lugar que um dos produtores e o principal ator do”CSI” original, o excelente ator William Petersen é fã da banda e teria sido sugestão dele. O policial protagonista de “CS”I era uma espécie de faz-tudo. Descobria as tretas dos criminosos como se não houvesse todo um laboratório forense trabalhando nisso, era o primeiro a chegar e, claro, prender os bandidos ainda que estivesse do outro lado da cidade ou que não fosse necessária a presença dele, cheio de caras e bocas e trejeiros… enfim, como se diz na Argentina “eu, me, mim, comigo”. Tudo era em torno de Horatio Caine. As cores também eram propositadamente exageradas, especialmente os laranjas e verdes berrantes e havia um exagero nas frases com deixas — claro, especialmente de Horatio. Mesmo que soassem como mensagens de biscoitinhos da sorte chineses. As mulheres eram tão rebocadas que pareciam estar numa novela venezuelana de segunda categoria. O pior eram os roteiros, fraquíssimos, mas os carros eram os incríveis Hummers que passavam, literalmente, por cima de qualquer coisa. Claro que como o seriado foi ao ar entre 2002 e 2012 não havia tanta preocupação com mostrar um lado ambientalmente responsável e esses verdadeiros tanques de guerra fizeram bastante sucesso.
Mudando de assunto: podem me chamar de machista que nem vou me importar porque não sou. Como meus caros leitores sabem, adoro uma piada infame, então aí vai uma de como garantir ser aprovada no exame para tirar CNH. Ou apenas como dirigir um carro manual..