Missões cumpridas! Assim foi a terceira semana com o Gol 1,6 MSI Automático, um carro que não me despertava nenhuma paixão especial mas que, quilômetro após quilômetro, vem se revelando uma surpresa. Uma boa surpresa! E quanto às missões cumpridas, me refiro a rodar como carro cheio — coisa que não havia feito nas semanas anteriores — lotar o porta-malas e viajar novamente com gasolina no tanque, para verificar se aquele incrível número conseguido na primeira semana, 19,2 km/l de média em consumo rodoviário, era mesmo verdadeiro.
Começando pelo consumo, atestei que sim. Uma breve viagem de 160 quilômetros com gasolina no tanque me mostrou média 17,5 km/l, que considero equivalente aos 19,2 km/l conseguidos anteriormente pelo fato de, nesta viagem mais recente, estar acompanhado (motorista e dois passageiros) e com meia carga no porta-malas, ao passo que na viagem inaugural estava só e sem bagagem. Além disso, o sistema de ar-condicionado ficou permanentemente ligado e a estrada percorrida permitia 120 km/h enquanto a estupenda média anterior foi em estrada com limite fixado em 110 km/h na maior parte do trajeto.
A economia de combustível ser um ponto alto deste Gol propulsionado pelo motor EA211 foi não apenas confirmada neste percurso rodoviário como também nos meus cruéis percursos urbanos, trajetos curtos intercalados por longas paradas, o que não permite que o motor funcione estabilizado na temperatura de exercício ideal. E fora isso, tem a topografia, a malvada topografia da zona oeste de São Paulo. Neste cenário, conseguir médias de 8 a 10 km/l é uma glória, um atestado da eficiência de um motor que, lembremos, é um 1,6 litro de 110 cv (com gasolina) e não um pequeno tricilindro de 1 litro com 40% de potência a menos.
Detalhe importante deste Gol é o câmbio ser automático, cujo casamento com o EA211 é nada menos do que perfeito, coisa ressaltada pelo uso do carro carregado. Tanto encarando as pirambeiras como rodando em vias expressas não se percebe o funcionamento do câmbio. Através do indicador na tela central do quadro de instrumentos é possível saber qual das seis marchas está sendo usada (veja na foto acima, indica D4, Drive 4ª marcha). Número frequente na condição urbana, 3, relação de câmbio que promove a manutenção da rotação em patamar adequado rodando a no máximo 50-60 km/h, explorando a energia do motor adequadamente sem exagero na rotação.
Elástico, potente e bem casado com um câmbio cujo ajuste eletrônico está no estado de arte, tal eficiência no consumo é usualmente visto apenas em carros com motores de cilindrada menor e, claro, sem câmbio automático. Contribui para isso uma característica técnica do câmbio Aisin AQ 160-6F utilizada nesse Gol (assim como Polo, Virtus, Jetta e Golf): quando o carro para e o pedal do freio está acionado, a caixa passa para o ponto-morto sem que seja necessário passar a alavanca de D para N. Após soltar o freio volta a D imediatamente.
Rodar com carro lotado confirmou o bom ajuste de suspensões do Gol, que mesmo com carga máxima preserva a capacidade de absorção sem grande perda de conforto e continua longe de raspar a frente ou a traseira nos desníveis mais acentuados. Obviamente que lotadão o Gol não oferece aos três que vão atrás um padrão de conforto exuberante. Quem vai no meio, como sempre, sofre por conta do túnel central e todos devem contar com a boa vontade dos ocupantes da “primeira classe”, que deverão avançar os bancos para garantir uma condição de viagem razoável. Sobre o porta-malas, o problema maior não é o espaço, coerente com as dimensões do carro — 285 litros — e suficiente para abrigar uma mala média, duas pequenas e uma mochila, mas a significativa altura da boca, o que exige empregar músculos para colocar e retirar carga pesada, como, por exemplo, as caixas lotadas com as compras do supermercado.
Nesta semana que antecede o encerramento do teste houve oportunidade de atestar a eficiência dos faróis com duas parábolas em breve trecho de rodovia à noite como também sob chuva intensa, condição que exaltou o bom funcionamento do sistema de ventilação e do limpador de para-brisa. Prático também é haver o ajuste dos espelhos retrovisores elétricos, situado na lateral da porta do motorista, assim como dispositivo que, quando a ré é engatada, aponta o espelho retrovisor direito para o meio-fio. Um “mimo” que se junta a outros como os para-sóis com espelho iluminado e o sistema multimídia que permite espelhar o aplicativo de navegação Waze na tela de 6,5 polegadas.
Caminhando para o fim do teste, o Gol não apenas confirmou suas qualidades como também o esforço da Volkswagen em adequá-lo às exigências dos consumidores apesar do projeto datado: cogitar que o Volkswagen de entrada um dia teria câmbio automático de seis marchas pareceria improvável uma década ou algo mais atrás, assim como ver em uma tela tátil o melhor caminho a seguir, a previsão da hora de chegada e outras informações do trajeto. Para alguns o fato do Gol ter um projeto antigo é um pecado, para outros, a eficácia dinâmica global está acima da idade do projeto e é com estes que me alinho.
Agora o plano para a semana derradeira do Gol MSI 1.6 Automático é voltar ao álcool para a fase final da avaliação, e assim à potência plena de 120 cv que, veja você, é mais que a espantosa potência (à época) de 114 cv do primeiro carro nacional dotado de injeção eletrônica, o… Gol GTi, então (1988) o mais rápido dos nacionais. Com seu motor 2-litros e câmbio manual de cinco marchas, o GTI, ícone de esportividade daquele tempo, acelerava mais lentamente do que este MSI 1,6 Automático (10,7 s contra 10,1 s) e tinha velocidade máxima inferior (174 contra 185 km/h). Números que refletem o que três décadas de tecnologia significam mas também como aquilo que é elogiável e suficiente passa a ser, com o passar do tempo, banal e até passível de crítica.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Volkswagen Gol 1,6 MSI Automático
Dias: 21
Quilometragem total: 1.736 km
Distância na cidade: 948 km (55%)
Distância na estrada: 788 km (45%)
Consumo médio: 10,0 km/l (66% gasolina – 34% álcool)
Melhor média (gasolina): 19,2 km/l
Pior média (gasolina): 7,8 km/l
Melhor média (álcool): 13,8 km/l
Pior média (álcool): 5,8 km/l
Média horária: 31,2 km/h
Tempo ao volante: 55h41 minutos
FICHA TÉCNICA VW GOL 1,6 MSI AUTOMÁTICO 2019 | ||
MOTOR | ||
Designação | EA211 R4 MSI 1,6 | |
Descrição | 4-cilindros, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão em 50º, 4 válvulas por cilindro, atuação indireta por alavanca-dedo roletada com fulcrum hidráulico, correia dentada, flex | |
Diâmetro x curso (mm) | 76,5 x 86,9 | |
Cilindrada (cm³) | 1.598 | |
Taxa de compressão (:1) | 11,5 | |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 110/120/5.750 | |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 15,8/16,8/4.000 | |
Comprimento de biela (mm) | 140 | |
Relação r/l | 0,31 | |
Corte de rotação | 6.600 (teórico, sobe marcha a 6.200 rpm) | |
Formação de mistura | Injeção no duto | |
Gerenciamento do motor | Simos 15 | |
TRANSMISSÃO | ||
Câmbio | Transeixo dianteiro com câmbio automático epicíclico Aisin AQ 160-6F de 6 marchas marchas à frente mais ré, tração dianteira | |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,667; 2ª 2,533; 3ª 1,556; 4ª 1.135; 5ª 0,859; 6ª 0,686; ré 3,394 | |
Relações do eixo motriz (:1) | 3,502 | |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora de Ø 19 mm | |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado | |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica | |
Diâmetro mín. de curva (m) | 10,9 | |
Relação de direção (média, :1) | 14,9 | |
N° de voltas entre batentes | 2,9 | |
FREIOS | ||
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido a vácuo | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/256 | |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/200 | |
Controle | ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem | |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Aço 6Jx15 | |
Pneus | 195/55R15H | |
Marca e tipo no carro testado | Goodyear Efficient Grip | |
Estepe temporário | Roda de aço 5Jx14, pneu 175/70R14T Goodyear Efficientgrip | |
PESOS (kg) | ||
Em ordem de marcha | 1.040 | |
Carga máxima | 460 | |
CONSTRUÇÃO | ||
Tipo | Monobloco em aço, sedã hatchback 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro | |
AERODINÂMICA | ||
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,373 | |
Área frontal (m²) | 2,04 | |
Área frontal corrigida (m²) | 0,761 | |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | ||
Comprimento | 3.892 | |
Largura sem/com espelhos | 1.656/ 1.893 | |
Altura | 1.474 | |
Distância entre eixos | 2.467 | |
Bitola dianteira/traseira | 1.423/1.411 | |
Distância mínima do solo | n.d. | |
CAPACIDADES (L) | ||
Porta-malas | 285 | |
Tanque de combustível | 55 | |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h (G/A, s) | 10,7/10,1 | |
Velocidade máxima (G/A, km/h) | 179/185 | |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | ||
Cidade (km/l, G/A) | 11,1/7,7 | |
Estrada (km/l, G/A) | 13,6/9,6 | |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 6ª (km/h) | 45,3 | |
Rotação em 6ª a 120 km/h (rpm) | 2.650 | |
Rotação em vel. máxima, 5ª (rpm) | 5.100 |