Olá, amigos autoentusiastas!
Hoje quero apresentar uma análise do Design do Porsche 911 turbo 1975. Acho que vocês concordam que este é’ um dos mais carismáticos e icônicos esportivos de todos os tempos. É um trabalho de 2014 mas nunca editado. Espero que gostem.
ESSÊNCIA
A primeira vez que eu vi um 911 turbo ao vivo foi no início dos anos 80. Aquilo foi um evento, um choque para mim. Na época era o carro de produção mais rápido do mundo! O que me impressionava, além da performance, era justamente a forma do carro, que embora muito simples é até hoje fantástica, única, com caráter muito forte.
O carro praticamente não tem linhas, é uma escultura pura, com uma força tremenda. A superfície é definida por dois planos principais: a linha zero, que corta o carro pelo centro, e a linha que passa pelo centro do para-choque
dianteiro, continua pela lateral e cai em direção à lanterna traseira.
As duas linhas no desenho acima ilustram isso e somente com esta duas linhas você já começa a identificar sem duvidas que se trata de um Porsche.
Na vista de planta o que impressiona é a relação entre o corpo e as caixas de rodas, bem pronunciadas.
Mesmo hoje, são poucos os carros com esta relação. Isso traz um perfil “sexy” e musculoso ao conjunto.
O responsável pelo desenho foi Ferdinand “Butzi” Porsche, neto de Ferdinand Porsche. Analisando a forma do 911 fica evidente o DNA do mais icônico de todos os carros: o Fusca.
PACKAGE
O motor atrás do eixo traseiro é um grande desafio em termos de proporção. Seu comprimento total é de 4.291 mm. O entre-eixos é curto, 2.272 mm. O motorista senta quase no meio do carro, entre os eixos, e ainda há teoricamente espaço para duas pessoas no banco traseiro. A razão principal para esta distribuição, penso que foi para melhorar o equilíbrio do veículo, pois todo peso do motor está na traseira e para melhor distribuição o motorista foi jogado a frente. Graças a esta decisão o carro assumiu uma forma única, muito diferente dos outros carros esportivos da Europa e do mundo.
O “banco traseiro” também foi um bom argumento de vendas, pois mesmo que na realidade não caiba um adulto com conforto mínimo, sempre pode-se levar uma criança ou pertences pessoais como valises e pequenas malas.
Assim, a Porsche foi uma das primeiras marcas a criar um superesportivo 2+2.
O SP2 como comparação, tinha o motorista posicionado mais para trás, criando um perfil mais extremo, com a cabine mais recuada, mas saia perigosamente de frente em curvas de alta, graças ao desequilíbrio destes elementos.
Mas mesmo assim o SPI2 não deixa de ser um dos automóveis mais bonitos, criados por brasileiros (Márcio Piancastelli e José Vicente “Jota” Novita Martins) e com forte influência do DNA da Porsche.
Nunca vi um sketch do Porsche 911 da época. O carro foi criado diretamente no modelo, na escultura. Isto não é raro, já que quando um carro vive de suas formas e não tem linhas que demarcam a finalização de superfícies, ou cantos precisos, fica quase impossível de ser visualizado no papel. Eu mesmo penei nas ilustrações.
A personalidade é evidente mas inexplicável. Quatro retângulos e dois círculos contêm o segredo deste carisma que continua a evoluir até hoje.
A superfície do capô mergulha em direção ao para-choque e os faróis circulares sustentam o início do para-choque dianteiro.
O contorno dos vidros laterais são extremamente simples, porém qualquer variação milimétrica da curva tem uma influência no caráter do carro.
Embora possa parecer tão simples, imagino que deu um trabalho muito grande para atingir a forma final, perfeita!
Os para-choques retráteis também influenciaram muito o Design da época. Eles mostravam muito bem a função através da forma.
Este corte brutal sobre a forma escultural é quase traumática.
Na realidade tratava-se de atender a uma legislação dos EUA, o para-choque dianteiro resistir a impactos a até 8 km/h sem se danificarem, mas eles se tornaram símbolos de eficiência, segurança e modernidade (forma e função). O protetor lateral contra batida de pedras tornou-se um elemento gráfico muito forte e que marcou o carro.
Seu formato de quilha inspira fluidez e velocidade. (barbatana de tubarão!)
Pode-se ler a forma das caixas de roda através dos “highlights”, que são desenhados através dos reflexos na carroceria do automóvel.
Estas zonas de luzes se movem e se transformas com o movimento do carro, o que deixa a superfície viva.
Na realidade trata-se da arte de dominar a luz e sombra da superfície e os reflexos do ambiente, e isso sem linhas de referência fica muito difícil. As passagens de superfície tem que ser perfeitas para se obter o efeito desejado.
É claro que chamado “rabo de baleia” é o elemento que mais marcou esta série.
Porém, mesmo assim, embora esta peça pareça um elemento decorativo, tratas-se do encontro da eficiência aerodinâmica, arrefecimento do motor e a forma.(spoiler traseiro)
Um amigo me disse que um Designer não tem nenhuma utilidade na definição dos modernos carros de corrida, já que a forma é 100% ditada pelo túnel de vento.
Porém a aventura que nos fez chegar até o conhecimento de hoje foi o que realmente valeu a pena.
No 911 Turbo ainda temos poesia e história em alta concentração.
INTERIOR
O interior da Porsche nesta época não era nenhuma maravilha em termos de Design. Aliás, pode-se dizer que, comparado ao refinamento dos dias de hoje, ele era “tosco”
Isto não era, de maneira nenhuma, um problema exclusivo da Porsche, mas de todos carros de alta performance da época. Os designers-chefes europeus sempre foram focados no exterior (que dá “Ibope”) e o interior era uma coisa suplementar. O importante era a performance e o “status” do exterior.
O painel se divide em três zonas horizontais onde os elementos foram fixados. Os comandos eram “modulares”, significa, com desenho “de prateleira”. Na frente do volante, com ótima pega, temos ^cinco instrumentos (também modulares), com nove funções,
As pequenas saídas de ar “centrais” eram…descentralizadas!
Na realidade, nada batia com nada, algo absolutamente impensável para os dias de hoje, onde tudo é ditado pela lógica, ergonomia e qualidade de execução.
O painel era revestido em couro, não por uma questão de luxo mas para se obter um acabamento aceitável e com bom toque e texturizado.
As laterais de porta com base plana, revestidas em couro ou tecido (o típico quadriculado alemão era uma das opções) e puxadores, tela de alto-falantes e moldura do trinco da porta fixados diretamente sobre a superfície do plano interior da porta (<i>à la</i> Fusca).
Os bancos até que eram ergonômicos com bom suporte lateral, mas nada que realmente se justifique num carro com esta performance brutal.
O resto era tudo revestido com vinil e carpete. Enfim, tudo muito básico e artesanal.
Mas nada disso importa.
O 911 Turbo é um ícone incontestável, amado pelos velhos e jovens e quem tem um, cada vez mais raro e caro, não vende, não troca e não dá.
LV