Encerrado o primeiro semestre, observamos que a estagnação registrada na indústria nacional também afetou o setor automobilístico. Dezoito dos 26 segmentos industriais tiveram desempenho ligeiramente menor que no mesmo período de 2018. A recuperação econômica iniciada em 2017 e mantida em 2018 foi interrompida.
Não é o que os números de vendas ao mercado interno sugerem. Veículos leves registraram expansão de 10,8%, caminhões cresceram 44,6% e ônibus 72,7%. Porém um olhar mais atento a esse setor nos permite melhor compreensão. As vendas no varejo de automóveis e comerciais leves ficaram só 1,7% acima de 2018, quem puxou o número total foram as vendas diretas (PcD incluído), com 24,4% de aumento. Caminhões vêm impulsionados pelo bom momento do agronegócio, o segmento pesado (graneleiros, tanques, etc.) vendeu 70% a mais neste semestre.
O Brasil pós-crise de ’16 teve uma enorme redução na massa de trabalhadores com carteira assinada, muitos dos quais optaram por reposicionar-se em outras atividades. Já são mais de 4 milhões de motoristas e motociclistas de aplicativos. Isso ajuda a explicar o apetite das locadoras de veículos, que servem aos motoristas de Uber, Cabify, 99, etc. Metade das vendas diretas são para elas. As vendas PcD, com renúncia tributária já são mais de 22% do total de automóveis.
No gráfico acima observa-se que o patamar de vendas diretas de automóveis baixara no início do ano e em seguida retorna aos elevados patamares de acima de 43%.
Mas com crescimento econômico pífio nosso mercado também fica estagnado, as taxas de desemprego permanecem elevadas. Não se compram carros novos, há de se buscar saídas. Espera-se nesta semana a aprovação das novas regras previdenciárias pelo Congresso, mas para retomar o crescimento somente isso não basta. Há expectativa de termos neste segundo semestre as reformas tributárias, um novo programa de investimentos em infraestrutura e baixas nas taxas Selic até o final do ano, que devem estimular redução nas taxas de juros de financiamento. Os níveis de inadimplência estão baixos.
Jogam contra uma desaceleração no crescimento econômico mundial, as tensões entre EUA e seus principais parceiros comerciais (China, Europa e Japão), que por sua vez, não parecem irão cessar tão cedo. Trump tem grandes chances de se reeleger e seu modo instável e estressante de lidar com o mundo perduraria por um novo termo. Será que a continuidade desse panorama nos permitiria ir em busca de um mercado de 4 milhões, como aquele que quase tivemos em 2013?
A Anfavea sob nova gestão iniciou uma cruzada. No mês passado apresentou um estudo em que mostra nossa falta de competitividade e aponta caminhos para melhorá-lo. No início de julho tivemos a notícia da conclusão do acordo Mercosul com União Europeia. Ele certamente irá alterar nosso mercado automobilístico, porém num longo prazo.
Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, apresentou-nos na reunião do último dia 4 os números do semestre, uma revisão para baixo das projeções de exportações e a manutenção das de mercado interno. Há sinais de certa desaceleração sim, mas temos mais boas notícias do que ruins e isso nos permite seguir confiantes de que o mercado interno será cerca de 10% melhor que 2018, ou que atingiremos o licenciamento de 2.755.000 automóveis e comerciais leves. As vendas diárias em junho retornaram ao patamar de 11.000 veículos, no segundo semestre a média teria de ser pouca coisa superior a essa.
A tabela acima nos mostra que outras regiões começam a reagir positivamente.
Sem poder contar com uma recuperação do mercado argentino, que era antes da crise deles responsável por 70% de nossos embarques, seguiremos dependendo das elevadas e incômodas vendas diretas.
RANKING DO MÊS E DO SEMESTRE
Junho deste ano foi 9,4% superior a mesmo mês do ano passado. Destacaram-se no crescimento a Citroën, com +27%, Jeep, com +26%, Chevrolet e Toyota, com +17% e Fiat e VW, com +13%. Ford e Peugeot tiveram queda 8% e 6% respectivamente. Jeep ultrapassou a Honda pela primeira vez, desde que se instalou aqui e com praticamente só dois modelos, Renegade e Compass.
No semestre, Citroën com novo destaque, graças às boas vendas do Cactus, com +43%, Jeep, com +23%, Renault, com +20% e Chevrolet e Fiat, ambas com +13%, num mercado que se expandiu em 10,8%.
Onix distanciando-se na liderança, licenciou 19.500 unidades no mês e 116.906 no semestre, uma expansão de 30%. Fica difícil imaginar como será depois do lançamento de sua segunda geração, previsto para este final de ano. Em seguida vieram Ford Ka, HB20, Kwid, Argo, Gol, Prisma e Renegade. O segmento de automóveis cresceu 11,2% sobre o primeiro semestre de 2018.
O segmento de comerciais leves teve a Strada na frente, com 6.417 unidades vendidas, se ela fizesse parte do ranking de automóveis, figuraria em 7º lugar. Em seguida vieram a Toro, Saveiro, Hilux, S10, Ranger e Amarok. No semestre a compacta da Fiat cresceu 12% no período de comparação, enquanto o segmento de comerciais leves ficou com +8,4%.
No segundo semestre teremos dois lançamentos importantes que seriam as segundas gerações do Onix e do HB20, com novidades também na motorização, os 1,0 Turbo vêm para promover mudanças importantes no cenário e na preferência do consumidor.
Até mês que vem!
MAS