Participar no Rali de Regularidade de Interlagos organizado pelo Jan Balder estava na minha lista de desejos. Inicialmente eu pensava em utilizar o Kadett GSi 2-L conversível que estou restaurando, mais isso ainda vai levar um tempo.
Depois de assistir ao vídeo do Bob Sharp participando com o Renault Kwid Outsider e a sua definição de “receita AE” de carro 1-litro para poder andar rápido e, ao mesmo tempo, ficar próximo do tempo de volta ideal sem precisar aliviar, decidi que minha estreia seria com essa receita.
Para isso o AE solicitou um carro à FCA especificamente para essa finalidade, uma vez que carros de teste não podem ser utilizados em nenhum tipo de competição.
O Arnaldo Keller já havia participado do rali pilotando um Sandero R.S. Racing Spirit e um Logan Expression 1-litro.
O modelo cedido pela FCA foi um Fiat Argo Drive 1,0, que como se sabe é de três cilindros com câmbio manual de 5 marchas. O carro completo continha todos os opcionais e tem peso em ordem de marcha de 1.105 kg.
O carro foi abastecido com álcool na chegada ao autódromo, portanto tinha todos os 55 litros de álcool no tanque e o motor 1-L pronto para me entregar os 77 cv a 6.250 rpm e 10,9 m·kgf a 3.250 rpm.
Experiência prévia em rali, e em Interlagos
Minha primeira e única experiência em rali de regularidade foi há muito tempo. Em 1983 participei das quatro etapas do Rali Universitário Hermes Macedo com um Passat TS 1978. Esse certame era bem interessante, pois participavam mais de 250 carros por etapa, sendo todas as duplas formadas por estudantes universitários. Apesar de o fator determinante de vitória ser a menor perda de pontos possível, com médias de velocidade baixas, havia muita amizade e diversão.
O autódromo de Interlagos é uma pista que conheço bem, pois frequento esse templo sagrado do automobilismo mundial desde o início dos anos 70. Quando ainda não tinha idade, eu só assistia às corridas. De 1989 a 2007 participei em várias edições da Mil Milhas Brasileiras, Campeonato Paulista de Super Stock e Campeonato Brasileiro de Endurance. Portanto, é um traçado que conheço muito bem, principalmente com carros de turismo.
Participar deste rali “de pista” foi bem interessante e motivante. Por um lado, foi relembrar as curvas, subidas, descidas e retas de Interlagos e, por outro ,reviver momentos de regularidade que buscava no Rali Universitário (mas não nesse caso) e, por que não, a consistência que uma prova como a Mil Milhas exige dos pilotos.
Entendendo o rali de regularidade
Em um rali de regularidade convencional, o organizador define a média horária a ser seguida por todos competidores. São espalhados pontos de controle (PC) ao longo do percurso para aferir as médias. A cada segundo adiantado ou atrasado que o competidor passar pelos diversos PCs perde um ponto. O vencedor é aquele que acumular o menor número de pontos.
Neste rali de Interlagos o conceito é parecido, porém a cronometragem considera as 8 melhores voltas de cada participante. Dessas 8 voltas é definido o tempo médio. São consideradas apenas essas 8 voltas e a cada segundo adiantado ou atrasado dessa média perde-se um ponto. O vencedor também é aquele que acumular o menor número de pontos.
Resultado
Esta etapa de que participei era a última do torneio de 2019, portanto o organizador Jan Balder decidiu colocar cinco PCs ao longo da pista de Interlagos, aumentando assim o rigor no controle da regularidade dos competidores. E, logicamente, a localização desses PCs é secreta.
O tempo médio definido pelas minhas 8 melhores voltas foi de 2’38” e a melhor volta 2’35”. Apenas para efeito de comparação, este resultado foi muito próximo ao que o Bob conseguiu com o Renault Kwid Outsider, também 1,0, que foi média de 2’37” e melhor volta 2’35”. Minha classificação final foi nono em um grid de 16 participantes na classe de carros Modernos, aqueles produzidos de 2001 em diante. Nada mau, considerando que os editores do AE participam sem navegador e sem instrumentos.
O Fiat Argo 1,0 na pista
Fiquei positivamente surpreso com o desempenho desse Argo 1,0.. O carros se mostrou com um comportamento muito neutro em curvas. Mesmo quando exigido um pouco mais, a característica subesterçante natural de um carro de turismo com tração dianteira, não atrapalhou seguir o traçado ideal das curvas.
Nas curvas de menor velocidade como entrada do “S” antigo, Pinheirinho e Bico de Pato, era muito fácil fazer o carro “apontar” para a curva e contorná-la corretamente. Reacelerando nas saídas dessas curvas não notei tendência a patinação da roda interna, e muito menos dobramento dos ombros dos pneus 175/65R14 que foram calibrados com 42 lb/pol² na dianteira e 38 lb/pol², na traseira.
Nas primeiras voltas decidi fazer a troca de marchas o mais próximo possível da rotação de potência máxima (6.250 rpm), porém como a rotação de corte do motor é de 6.300 rpm, na segunda perna da Descida do Lago, em 3ª marcha, o motor crescia muito rápido e tive alguns cortes indesejáveis.
Não tive a menor dificuldade com as trocas de marchas, contrariando a opinião quase generalizada de que o comando de câmbio dos Fiat “é ruim”. Isso pode ser constatado no vídeo
Ao longo da prova, fui baixando gradativamente o ponto de troca de marchas e notei que ao fazer a troca em rotações mais baixas 5.500/5.800, o motor caia em um regime de rotação mais próximo do torque máximo (3.250 rpm) e dessa maneira ficava mais agradável a continuidade da aceleração. Posteriormente, olhando os tempos das voltas, notei que essas foram as voltas mais rápidas.
Os freios, por serem os discos na dianteira não ventilados,eram a minha maior preocupação. Temia que pudesse ocorrer fading logo nas primeiras voltas, Portanto, não abusei muito dos freios e fiz uma tocada mais do tipo prova longa, onde o ideal é poupar todo o conjunto. E deu certo; não tive nenhum sintoma de fading durante as 17 voltas dadas em 50 minutos de prova.
Vale a pena
Se vc quer sentir as emoções de andar com seu carro na mesma pista em que seus ídolos da F-1 ou Stock Car andam, não deixe de conhecer esta experiência de participar de um rali de regularidade em Interlagos. O próximo será dia em 7 de setembro, uma edição noturna às 20h00..
Diferentemente dos Track Days que são organizados em vários autódromos, o rali de regularidade tem um tempo de volta máximo em que se pode andar. Neste caso era 2’30”, portanto você não terá o susto de ver um Porsche ou BMW passando muito rápido por você. Na verdade, mesmo com carro de 1 litro eu acabei ultrapassando vários carros durante toda a prova e até um Porsche, pois ele estava com um ritmo de regularidade mais baixo do que o meu.
Assista ao vídeo:
GB