Um dos últimos circuitos clássicos da F-1, Spa-Francorchamps é um verdadeiro ícone na história da categoria e preserva muito da história do automobilismo de competição. Construído ao longo de estradas da região compreendida entre vilas e pequenas cidades da Floresta das Ardenhas, o traçado de 14,08 km usado no terceiro GP da história, disputado dia 18 de junho de 1950 e vencido por Juan Manuel Fangio (Alfa Romeo), foi drasticamente reduzido para 7.004 metros por questões comerciais e logísticas.
Mesmo assim é um dos preferidos da maioria dos pilotos por causa de curvas tão desafiadoras como a que passa sobre o riacho Rouge, a antológica Eau Rouge (foto de abertura), e a mais jovem freada do ponto do ônibus.
Outra característica da região situada próxima à segunda cidade belga, Liège, é a existência de vários microclimas: não raramente o asfalto do extremo de Spa, onde ficam os boxes, está seco, as curvas próximas a Malmedy são banhadas por chuvas de intensidade variada e entre um aclive e outro pode-se passar por nevoeiros. Se serve de consolo para os poucos pilotos que não gostam deste circuito, caso de Lance Stroll, a corrida tem apenas 44 voltas…
O traçado belga é também um dos que permite atingir velocidade média acima de 200 km/h, que poderia ser bem mais alta caso a chicane do Bus Stop, situado pouco antes da reta de largada, construída em nome da segurança, não existisse. É nesse trecho que está a freada mais forte de todo o circuito: segundo a Brembo, que fornece sistemas de freio para a maioria das equipes. Para completar esse trecho com sucesso é preciso reduzir de 321 km/h para 91 km/h em apenas 128 metros e aplicando uma carga de 202 kg sobre o pedal do freio durante exatos 2”71, resultando numa desaceleração de 5,8 G.
Pelos sete quilômetros da pista os freios são usados com intensidade logo em seguida, como na curva 1, o cotovelo logo após a linha de largada e palco de acidentes espetaculares (redução de 303 km/h para 85 km/h). Os sete pontos de freada de Spa tornam o circuito um dos mais exigentes dos freios, ainda que sejam usados durante 13 s dos 110 s (1’50), a referência básica de tempo de volta para o traçado.
Embora a pista seja veloz, o trecho entre Les Combes (final da grande reta) e Stavelot (um dos mais baixos da pista) demanda forte pressão aerodinâmica (downforce) nas várias curvas de velocidade média ou alta. Essa combinação de longas retas, curvas de alta e freadas fortes acaba impondo cargas elevadas aos pneus, como explica Mario Isola, da Pirelli: “Spa é um dos circuitos onde os pneus são submetidos aos mais altos níveis de estresse em toda a temporada. Por isso os compostos trazidos para a Bélgica este ano são os três mais duros da nossa linha de F-1, o que vai permitir aos pilotos impor um ritmo mais forte durante mais tempo e minimizar a preocupação com o desgaste.”
Passadas três semanas de férias, o clima no paddock é um coquetel de novidades e negociações. No primeiro caso destaca-se a mudança que envolveu Pierre Gasly, que foi tirado da Red Bull e colocado na Toro Rosso, e Alexander Albon, que fez o caminho inverso. Deixando de lado uma visão mais crua onde o francês pode acabar como a decepção do ano e Albon como a grande surpresa, analisa-se a convivência de pilotos recém-chegados à F-1 em um ambiente onde um provável futuro campeão mundial dê as cartas com base em seu estilo arrojado e agressivo — dentro e fora das pistas —-, e é acobertado pela direção da sua equipe.
Na líder inconteste Mercedes, Lewis Hamilton prepara seu ataque para conquistar seu sexto título mundial e Toto Wolff ganha rugas para amadurecer a decisão sobre o futuro de Valtteri Bottas em sua equipe. Um contra-ataque da Ferrari para renascer como segunda força da categoria e rival consistente dos alemães é outra atração da fase da temporada que começa este domingo. Na casa de Maranello os pilotos estão confirmados para 2020, mas as cabeças dos líderes nem tanto, situação perene na história da famosa Scuderia.
WG