Alguns meses atrás eu estava dirigindo pelo meu bairro num sábado de manhã. O trânsito estava bem carregado como de costume, visto que eu estava na principal avenida do bairro. Dentro do meu carro eu estava protegido do calor escaldante lá de fora, do barulho do meu carro e de toda a confusão daquele trânsito parado.
De repente algo chamou muito a minha atenção, uma DKW-Vemag Vemaguet marrom (acredito que ’66, um chute, pois conheço pouquíssimo destes clássicos nacionais) IM-PE-CÁ-VEL. Só isso já faria o meu dia mais alegre, pois eu, como bom entusiasta automobilístico, gosto de ver os carros sendo usados pelos seus donos. Afinal, deixar um carro parado é um crime.
Por mais que gostemos deles, não podemos deixá-los sem executar a sua função primordial: “transportar pessoas”. Esse sentimento meu se acentua quando o carro está sendo dirigido principalmente para dar prazer ao condutor, uma clara evidência de que eu estou diante de um “gearhead” como eu.
Apreciando o estado quase “Pebblebeachico” da Vemaguet, tentei ultrapassar o carro à minha frente para ver o condutor e parabenizá-lo por manter sua joia de mais de 50 anos ainda rodando. Ao dar um toque singelo na buzina, abaixar meus vidros e fazer um “joinha” com a mão, me surpreendi ao ver que o condutor era um senhor de idade, com a cabeça coberta por cabelos brancos. Ele tinha, chuto, por volta dos seus 75-80 anos.
Naquele momento meu coração se encheu de alegria, principalmente ao ver ele retribuindo com um enorme sorriso o meu elogio e com um cordial gesto de mão.
Mas qual o motivo da minha alegria por ver esta cena tão singela? Passou pela minha cabeça o que aquele carro representava para aquele senhor. Talvez ele seja o seu proprietário há muitas décadas, ou ele tenha possuído um exemplar parecido na sua juventude. Com isso, imagino a quantidade enorme de sentimentos que ele deve relembrar simplesmente ao dirigir aquele carro já totalmente ultrapassado.
Claro que a tecnologia, potência ou praticidade não importam para ele, entretanto esse carro possui uma capacidade única: fazê-lo voltar no tempo! Reviver sentimentos, lembrar de pessoas que foram importantes para ele e talvez acessar memórias que, para ele, foram inestimáveis. Essas memórias só existem por ele ter dirigido o seu carro, e ele provavelmente foi testemunha ocular de diversos momentos importantes da sua vida.
São essas coisas, meus amigos, que me fazem gostar de carro! Dirijam os seus, eles foram feitos para isso, e devem ser usados desta forma. E acima de tudo, mantenho o seguinte lema para toda a minha vida automobilística: “Carro parado não faz história!”
Conrado Pimenta
Belo Horizonte, MG
A foto de abertura é ilustrativa