No mês anterior, as análises de números de vendas até então nos levaram à conclusão que o mercado dera sinais de arrefecimento. Era a contramão dos indicadores de recuperação macro e microeconômicos divulgados.
Confirmados os resultados de setembro, acertáramos na previsão. Quem dera pudesse prever crescimento infinito e felicidade geral. Temos muito espaço para expansão neste país, os 3,8 milhões de veículos vendidos em 2014 tinham incentivos de IPI, cortados no primeiro ato do início do segundo mandato da doutora Dilma. Porém agora temos as vendas PcD, um naco de 22% do total de automóveis é faturado sem impostos criando um outro patamar artificial, pior, numa distribuição esquisita, para dizer o mínimo. Ou seja, cinco anos depois, temos um mercado de um milhão a menos de vendas e menos arrecadação proporcional de impostos por veículo. Algo de muito errado acontece por estas terras. A reforma tributária proposta e em discussão no parlamento não corrigirá a aberração que se tornou o PcD, porém pode consertar outras distorções e o mercado evoluir.
A Anfavea teve de fazer revisões para baixo na sua previsão para 2019, o que não é comum nesta época do ano. Normalmente a que fazem no fim do primeiro semestre costuma ser mantida e ficar próxima aos números de fechamento. Isso em condições de certa estabilidade. Teriam os indícios de esfriamento do mercado sido significativos assim? Foram licenciados em setembro 224.014 automóveis e comerciais leves e 10.834 veículos pesados, totalizando 234.848 emplacamentos, queda de 3,3% em relação ao mês passado, com mesma quantidade de dias úteis, 21 em setembro e em agosto.
O menor ânimo para as compras desta vez não foi contido por mais impulso nas vendas diretas, nem descontos, estas mantiveram-se em patamar semelhante, o que pode indicar que os fabricantes resolveram optar por ajustar a produção às condições do mercado, em vez de gastar com mais incentivos e artificialidade. Nós da indústria de autopeças temos visto cortes de programa sucedendo cortes de programa e suspensão de produção em algumas unidades de manufatura dos fabricantes, anunciadas daqui até o final do ano. No gráfico do comparativo ano a ano de licenciamentos diários, notem “a quebrada” do mês de setembro de ’19.
Na tabela de vendas por região acima, nota-se o Sul com baixo crescimento. Centro-Oeste e Nordeste também vêm perdendo fôlego nos últimos dois meses.
O acumulado em três trimestres é de 2.029.621 autoveículos, incremento de 9,9% sobre mesmo período de 2018, a expansão de leves é pouco menor, de 8,7% (1.940.166 vs. 1.782.954), os pesados estão sendo os motores do crescimento, foram mais 41% em nove meses. Há modelos de caminhão que, se encomendados agora só serão entregues daqui a quatro meses. O agronegócio vive outro bom momento, consumindo boa parte da produção de brutos para escoar a safra e com isso puxa a atividade econômica para cima. Não estamos falando de nova crise e sim, alguma desaceleração de vendas, sem fatores visíveis que a justifiquem.
O comércio em geral mostra-se imune à crise política, esta que segue longe de dar tréguas, somente em outubro já tivemos a enésima tentativa de o STF soltar o Lula, numa injustificada revisão de decisão de entendimento sobre prisão em 2ª instância, ameaçando colocar dezenas de criminosos nas ruas incluindo o ex-presidente, implosão do partido do atual presidente da república PSL, atraso na votação na câmara alta da reforma da previdência (também injustificada), Trump e suas cabeçadas na geopolítica e comércio internacional, China pra baixo, dólar pra cima e bolsa retomando os 105 mil pontos. Muita coisa para nós brasileiros mesmo que já calejados por turbulências.
RANKING DO MÊS E DOS TRÊS TRIMESTRES DO ANO
GM manteve-se à frente e amplia sua distância da VW e Fiat no ano, com 40.836 emplacamentos, crescimento de 12% sobre mesmo mês do ano passado. Em seguida a marca alemã, com 35.706 unidades vendidas, seguida da Fiat, com 30.029, Renault, com 22.951, Ford em 5º, Hyundai em 6º e Toyota em 7º. No acumulado do ano, a marca da gravatinha atingiu 345.750 unidades licenciadas, +14% sobre 2018, enquanto o mercado cresceu 8,7%. A Volkswagen também cresceu outros 13%, Fiat +11% e Renault +15%. A marca francesa também abriu distância de suas rivais, elas que vinham com níveis de vendas bastante parelhos até uns meses atrás, parece agora a Renault consolida-se como a quarta maior força em nosso mercado. Num mês em que as vendas caíram 3% sobre agosto, quem se deu bem foi ela, com +14%. Outra marca que vem se destacando é a Caoa Chery. Em setembro ultrapassou Peugeot e Mitsubishi, figurando na 12ª posição no ranking e encostou na Citroën. Seus principais produtos são uma escadinha de suves, o Tiggo2, Tiggo5 e Tiggo7, e faixa de preços de 60 mil reais a 130 mil reais.
No varejo as coisas mudam um pouco, nos primeiros nove meses a GM cresceu 1%, enquanto o mercado expandiu-se 2,9%. VW, Fiat e Renault cresceram respectivamente 9%, 13% e 19% nas vendas às concessionárias. Já as vendas diretas seguem mostrando força, sua expansão no ano foi de 16,8% (veja quadro abaixo).
A GM lançou os novos Onix e Onix Plus (testado pelo AE), sendo que o sedã já teve as suas vendas iniciadas. A versão hatch deve chegar às lojas em novembro. Outro lançamento bastante aguardado foram os novos Hyundai da família HB20. Novos produtos sempre atraem compradores e espera-se que essas renovações deem uma chacoalhada no mercado e alterem participações no bolo.
Nos comerciais leves, houve um crescimento do segmento de 8.6% e foi a Strada quem novamente despontou, com +15% no ano e 6.573 unidades no mês de setembro. Toro veio em seguida, com respectivamente 5.697 emplacamentos (45.882 no ano), Saveiro, com 4.247 (30.971), Hilux, Ranger, Amarok, Fiorino, Montana e Oroch fecham o ranking dos dez primeiros.
Um segundo semestre bastante movimentado por novos produtos contrastou com ligeira queda de vendas em setembro. Esperamos nova reação do mercado, há motivos para tal.
Até mês que vem!
MAS