Esse grande mal, sem dúvida, é a falta de mobilidade que atinge quase todas as grandes cidades do mundo. Sua causa fundamental eu a encontrei escrita numa parede interna, em local de destaque, na Central de Controle de Trânsito de Stuttgart, Alemanha, que assim dizia: “O grande mal é que homens de hoje, dirigindo veículos do amanhã, utilizam vias de ontem.”
Esta genial observação serve como cartão de apresentação da alta importância do emprego da engenharia de tráfego, cujo principio básico é o aproveitamento ao máximo das condições viárias existentes. Motivou-me tratar deste importante item a entrevista publicada na grande mídia, aqui no Rio, onde resido, de um jovem urbanista que, por ser bisneto do grande Oscar Niemeyer, tem o dever de ser brilhante.
Paulo Niemeyer, este é seu nome, quando indagado, “A mobilidade urbana não está apenas relacionada à infraestrutura do transporte. Qual o seu ponto de vista?”, assim se pronunciou: “A mobilidade é um sistema projetado em que os meios de transporte são apenas um aspecto. Recentemente, participei de um fórum sobre mobilidade urbana com o mundo todo, e o principal discurso era sobre as calçadas. Você não pode descer do metrô e não ter o transbordo para algum outro lugar. Tem de haver integração entre os modais”.
Como acontece com todos os especialistas, não definem corretamente o que seja a mobilidade urbana, não apenas o jovem Niemeyer, que, aliás, a sua definição correta se confunde com a do trânsito resolvido ou, pelo menos, sob controle.
Vou ousar definir a minha opinião, de velho e “calejado” especialista: “A mobilidade urbana é se poder dar ao motorista uma previsão correta do tempo necessário para se deslocar para qualquer ponto de sua cidade. Esta previsão do tempo desse percurso será tanto menor quanto maior for o rendimento da malha viária, com uma tolerância máxima de dez minutos para mais”
O rendimento da malha viária é facilmente calculado numa regra de três, em que se compara a velocidade ao nos deslocamos num percurso com a média ponderada das velocidades máximas permitidas no mesmo percurso. O ideal é que seja bem acima de 50%. Atualmente, aqui no Rio, é da ordem de 20%.
Especialistas do mundo todo, especialmente do Primeiro Mundo, através suas empresas especializadas — tive o privilégio de visitar todas as principais — tentam tirar o máximo da capacidade viária dando ao tráfego de veículos o rendimento máximo das “janelas verdes” de seu sistema semafórico, baseado nos reais perfis do tráfego corretamente medidos por detectores.
Este esforço encontra o seu limite ao término da capacidade física das vias, tão bem definido na Central de Controle de Trânsito de Stuttgart, quando se conclui que e oferta é inferior à demanda.
Quando se chega a este impasse, só temos, como solução de engenharia de tráfego, o sistema por mim desenvolvido, o URV, ou seja, a Utilização Racionada da Via. Os levantamentos estatísticos mostram, pelo menos aqui no Rio, que dos 80% das vias utilizados pelos carros de passeio, cerca de 96% transportam somente o seu motorista ao não aceitarem a oferta dos modais de transporte coletivo por não atenderem os sentimentos inerentes à pessoa humana de desejo de conforto, e a preguiça, segundo confessou Henry Ford ao atribuir o sucesso de seu invento..Este desperdício é inaceitável.
O sistema URV, todo controlado por computadores, pune com uma “taxa de congestionamento” diária o carro com um ocupante e admite o veículo compartilhado entre pessoas que se conheçam, com uma “taxa de racionamento” mensal igual à metade da diária de congestionamento. Não é necessário que o veículo compartilhado viaje lotado nos períodos de pico, quando será obrigatório este sistema, mas somente o primeiro do “car pool”, medido, será dispensado da taxa diária.
No Rio,considerando um universo de 2 milhões de usuários do sistema URV, essa taxa de racionamento mensal chegará ao valor de R$ 100 milhões/mês; O custo total do transporte de ônibus, recolhido mensalmente pela Riobus, é de cerca de R$ 80 milhões.
É desta sobra de R$ 20 milhões que virão os prêmios sorteados semanalmente, uma vez que cada car pool,tem número que o identifica e digito identificando cada componente.
.A fim de incentivar o número de componentes de cada carro compartilhado existirão elevados prêmios semanais, em dinheiro, proporcionais ao número de componentes de cada “car pool” Assim, para dois componentes será de 100 mil reais, para três, 200 mil, para quatro 300 mil, por sorteio semanal, correspondente à retirada de um, dois, ou três veículos de circulação. Espera-se com estas medidas diminuir o volume de carros circulando em até 80% e, o mais importante, criando-se uma renda capaz de tornar gratuito ao menos o transporte por ônibus.
Apesar de desde 2005 eu propor este sistema às prefeituras do Rio e de São Paulo, nunca tive sucesso, o que nos dá a chance de citar o grande urbanista grego Constantinos Doxialis, que enquanto viveu foi o maior do mundo, quando disse: “Se as nossas cidades agonizam, não são nem a falta de tecnologia, nem a explosão demográfica, nem a sociedade de consumo, nem quaisquer outros pretextos comumente invocados hoje, que são responsáveis por este estado de coisas, mas nós mesmos. A crise e a civilização urbana é uma crise de imaginação e de coragem”.
E, finalizando, indicando-nos a enfrentar estes problemas, temos Doxialis declarando: “Estes problemas devem ser enfrentados com a razão e o sonho. Este é o meu lema. O sonho quer dizer a fantasia, a imaginação e a intuição. A razão é a matemática, a estatística e tudo que possa tornar o sonho realidade.
Resumindo: não falta imaginação aos especialistas mas, desgraçadamente, coragem aos políticos, a quem cabe a decisão final.
CF