Quem foi que disse que velocidade não pode ir de mãos dadas com beleza? Vejam bem, caros leitores, não estou aqui referindo-me (minha primeira ênclise da coluna) àquelas moças do grid de largada tão criticadas pelas feministas mais radicais, mas sim à questão estética de uma forma geral.
Gosto de coisas bonitas, sim. Tenho um enorme apreço seja por boas combinações de cores, seja por linhas curvas bem feitas, pela harmonia, pelas linhas retas infinitas que nos fazem viajar na imaginação… Entendo perfeitamente que no caso de carros de Fórmula 1, aviões ou mesmo veículos de passeio, a aerodinâmica tem de falar mais alto — e não reclamo. Seria como discutir a Lei da Gravidade e, por óbvio, não faço isso porque entre meus defeitos não está ser néscia.
Mas, por que não aliar eficiência à beleza? É mais ou menos como a escolha de um parceiro de vida — marido, esposa, ou aqueles “x” ou “e”que o pessoal coloca agora no final de qualquer substantivo e que fazem com que a leitura em voz alta de qualquer texto leve o dobro do tempo e fique ridícula. Estética não deve ser preponderante, até porque a beleza no ser humano é efêmera e dura menos do que a própria pessoa, mas não precisa ser descartada, não? Considero um bônus. Se vier junto com outras qualidades, maravilha. Senão, não importa.
No caso de objetos nos quais podem ser acrescentadas cores e desenhos que os deixam mais bonitos, por que não fazer isso? Se uma pessoa pode ficar melhor com um corte de cabelo que combine mais com o formato do rosto, por que não cortar assim? Obviamente, desde que ela queira, que seja prático de manter, etc, etc, etc. E nestes tempos atuais me vejo na obrigação de fazer todas estas ressalvas — vai que alguém faz uma interpretação esquisita do meu texto e acha que estou querendo impor um corte de cabelo em alguém, que estou sendo opressora, misógina/machista, alega “lugar de fala” ou sei lá o quê, já que a toda hora surge um adjetivo novo para classificar qualquer coisa.
Mas voltemos à minha teoria. Por que não deixar algo mais bonito, se for possível? Curto muito capacete de piloto de Fórmula 1. A gotinha eternizada por Nélson Piquet é de uma simplicidade e elegância maravilhosa. Tem também um detalhe: sem halo, com o corpo mais elevado e exposto e com menos patrocinadores, antes víamos mais os capacetes que, aliás, eram os mesmos ao longo de toda a carreira de um piloto. Agora eles são trocados a cada corrida, dependendo do recado que se quer passar. Pessoalmente, não me oponho desde que sejam mantidas as características básicas dele. Não gosto de não reconhecer um capacete.
O capacete do Hamilton, desenhado pelo brasileiro e gente finíssima, Raí Caldato, que venceu um concurso internacional, é lindo — colorido na medida certa, com significado, e dentro dos parâmetros estabelecidos pelo inglês. Sem falar nos tons.. Que lindo o vermelho sobre o prata!. O vermelho “maçã” foi exigência do próprio Hamilton, assim como outros itens que tinham de ser mantidos — nada que atrapalhasse a criatividade, mas como disse, gosto que sejam mantidas as características básicas.
Aliás, o mesmo Raí pintou um caça Mirage 2000C da Força Aérea Brasileira lançado em maio para lembrar o voo supersônico realizado há 30 anos por Ayrton Senna em um Mirage III da FAB. O Mirage foi pintado com base no desenho e nas cores do capacete imortalizado por Senna. O avião foi apresentado coincidindo com os 40 anos de existência do 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea), de Anápolis.
Em comum, todos (incluindo o avião) foram executados pelo que considero o melhor estúdio de pintura do Brasil. Não conheço outros no exterior, mas pelo resultado, certamente é de nível internacional: aquele inaugurado por Sid Mosca (1937-2011) e que prossegue nas mãos do filho, Alan Mosca. A primeira vez que fui lá parecia uma criança, passeando entre carros e capacetes. Para mim, era como estar num parque de diversões. Pai e filho sempre foram fantásticos no quesito pintura de capacetes, carros, qualquer coisa. Aliás, no dia da apresentação do Mirage, Alan apresentou um capacete comemorativo pintado por ele. Para representar o maior ídolo do automobilismo brasileiro, Leonardo Senna esteve presente na cerimônia e realizou um voo no caça, usando o capacete especial com as mesmas cores que seu irmão tricampeão de F-1 tradicionalmente usava.
Em maio, em Interlagos em nova homenagem a Ayrton Senna, o Senna Day, mais uma oportunidade para que o design mostrasse que bom gosto pode, sim, andar de mãos dadas com a velocidade. No dia se lembraram os 25 anos da morte do piloto, com uma programação organizada pelo Instituto Ayrton Senna. Entre as atrações, houve um McLaren Senna na pista de Interlagos que emocionou o público. Pilotado por Cacá Bueno, pentacampeão da Stock Car Brasil, e por Sérgio Sette Câmara, piloto de testes da McLaren na Fórmula 1, o modelo tinha pintura especial que fazia alusão aos McLarens de Fórmula 1 que ficaram conhecidos nas mãos de Senna. Mais uma vez, trabalho de Raí Caldato. O modelo tinha motor V-8 4,0 biturbo de 800 cv e velocidade máxima de 340 km/h. Foi produzido em Woking, na Inglaterra, num total de 500 unidades — todas eles vendidos pelo equivalente a R$ 8 milhões cada um. Seis unidades foram comprados por brasileiros.
Mas, novamente, acho que basta ter boas noções de estética, cor e, de preferência, alguma formação em desenho para fazer coisas bonitas ligadas a carros ou aviões. Não precisa entender de velocidade. É o caso do grafiteiro paulistano Eduardo Kobra. Conhecido internacionalmente pelos murais a céu aberto em várias cidades como São Paulo, Nova York, em países como Espanha, Itália, Noruega, Inglaterra, Malaui, Índia, Japão, Emirados Árabes Unidos, e, claro, Brasil, agora eternizou Ayrton Senna no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Imola, na Itália. Kobra fez o trabalho voluntariamente, mas com a aprovação prévia do Instituto Ayrton Senna, que administra a imagem do piloto. Pintou um muro de 21 metros de comprimento por 7 metros de altura na fachada do museu Checco Costa, a poucos metros da curva Tamburello, onde Senna bateu com o Williams em 1º de maio de 1994 (foto de abertura). É claro que todos lembramos daquele circuito por ser o local da morte do tricampeão, mas o mural dará uma certa alegria a uma recordação dolorosa.
Prova que carros e aviões podem ser, como nos filmes, velozes, furiosos e… bonitos.
Mudando de assunto: assisti, é claro, à corrida de Fórmula 1 da Rússia, mas discordo do tal “destaque da corrida”. Hamilton fez uma prova impecável, sem dúvida, mas para mim o destaque foi Albon. O sujeito saiu dos boxes, passou todo mundo, ganhou 14 posições e terminou em quinto lugar. É claro que tinha que ser o destaque! Fez manobras lindas. Sei que há questões empresariais, mas a Haas renovar com Grosjean quando tem Hulkenberg disponível não tem lógica a não ser financeira — mesmo assim, questionável. O alemão cuida do carro como poucos — ao contrário do francês que dá o maior prejuízo sempre —, consegue marcar alguns pontos e faz lindas ultrapassagens… Se gosto dele? Claro. Pronto, falei.
NG