Pilotos, equipes e a Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp), entre outros grupos, seguem paralisados com relação à programação do esporte para 2020. Por tradição, os calendários dos esportes motorizados que utilizam o Autódromo Municipal José Carlos Pace, na capital paulista (foto de abertura), são definidos por uma sequência que coloca os eventos internacionais, nacionais e regionais nesta ordem de importância. Ocorre que a postura adotada pela Confederação Brasileira de Automobilismo em não impor aos organizadores e promotores de campeonatos brasileiros um prazo para atuar de forma proativa aos interesses estaduais, acaba por prejudicar todo o conjunto do esporte, que se vê forçado a pagar um preço alto por tal inoperância.
Em anos anteriores houve movimentação por parte da CBA para administrar a definição do calendário nacional de maneira mais eficiente, mas o resultado foi praticamente nulo. Em linhas gerais, vive-se um cenário onde o calendário da F-1 define as datas dos campeonatos nacionais mais importantes e que contam com transmissão de TV de forma a não ocorrer coincidências e prejudicar a audiência. Nada a criticar, porém a realidade mostra que na prática a teoria é outra: nos últimos anos sempre houve mudanças de datas e locais, motivo de prejuízos financeiros e logísticos para todos os envolvidos nas categorias afetadas.
São Paulo é a praça com o calendário regional mais amplo do País e exibe um campeonato estadual com 10 etapas programadas pela Fasp e sete pela Liga Desportiva de Automobilismo. Somam-se a estas datas as solicitadas pelos promotores de motociclismo, modalidade que demanda cerca de 10 datas anuais. As categorias nacionais — Copa Truck, Endurance, Porsche Cup, Stock Car e Turismo 1600— e seus respectivos eventos de apoio, demandam entre oito e dez datas anuais. Isso perfaz 37 eventos de fins de semana em um calendário que tem 52, ou seja, há um saldo de 15 fins de semana livres.
O espaço livre é ocupado por eventos como o festival de música Lollapalooza e o Grande Prêmio do Brasil de F-1, o grande vilão da história: por contrato essa corrida ocupa o autódromo por cerca de dois meses, ou seja, oito semanas, incoerência que não ocorre em nenhum outro autódromo do mundo. De qualquer forma, posto que o calendário dessa categoria dita a ordem dos campeonatos nacionais e regionais, há meses poderia ter sido definido o equivalente do País e do Estado.
Infelizmente não é o que acontece na prática: a Fasp tenta há semanas confirmar as datas do seu calendário em conjunto com outras partes interessadas e não obtém sucesso. Enquanto isso, setores importantes da economia movimentada pelo esporte ficam paralisados e afetam desde a correta preparação e promoção dos futuros eventos, prejudicam negociações com investidores interessados em apoiar o esporte e ameaçam empregos de preparadores, fabricantes de veículos e peças de competição, oficinas mecânicas e várias categorias de prestadores de serviço.
A hipótese de que o autódromo de Interlagos está em processo de ser concedido à iniciativa privada não justifica a demora em definir as datas para as atividades nacional e regional, muito pelo contrário. Não se deve esperar uma administração mais profissional e eficiente unicamente pelo setor empresarial: a administração pública tem por obrigação e conceito promover o melhor uso dos bens da cidade e em prol da sociedade.
WG