FIAT STRADA HARD WORKING CABINE DUPLA, NO USO

Este modelo já foi muito bem avaliado pelo Juvenal Jorge em 2016 e a versão cabine simples pelo Arnaldo Keller em 2018. Desde então a picape não teve grandes alterações mecânicas ou estéticas, mas constatei que houve subtração de alguns itens de conforto, mas a base segue sendo a mesma.

Depois de avaliar a Saveiro Robust em outubro passado, e sendo conhecedor da Chevrolet Montana, eu tinha curiosidade de conhecer melhor a Fiat Strada e entender o que ela tem de bom para mantê-la por tantos anos na liderança folgada de vendas dessa categoria.

Este segmento tem um público cativo no Brasil, seja ele produtor rural, pequeno empresário que utiliza este tipo de picape no dia a dia do seu negócio, ou o jovem aventureiro que ainda não tem capacidade de comprar uma picape maior, mas precisa de versatilidade para levar seu hobby em uma caçamba.

Nos três modelos citados a arquitetura utilizada é antiga e permite poucas variações ou atualizações de motor, câmbio ou conectividade elétrica. Da Fiat esperava-se que a Strada mudasse para a arquitetura do Argo. Talvez esteja a caminho, porém é certo que a fabricante não têm muita pressa, pois as vendas na configuração atual seguem altas e estáveis. Até novembro deste ano a Strada teve praticamente 70.000 emplacamentos, contra 38.000 da Saveiro e 12 mil da Montana.

A Strada é a única a oferecer três estilos de carroceria. Cabine simples, cabine estendida e cabine dupla (aqui avaliada) em seu portfólio de produto. No total são sete opções para escolha do cliente.

Os preços partem de R$ 52.990 no modelo Working 1,4-L de cabine simples, e chegam a R$ 81.990 na versão Adventure cabine dupla com motor 1,8-L. A Strada é oferecida exclusivamente com câmbio manual.

A versão avaliada é a Strada Hard Working, cabine dupla de 3 portas, motor 1,4-L EVO Flex. Pelo configurador de preços do site da Fiat tem preço público sugerido de R$ 72.990, e com o Pack Convenience de opcionais instalado é acrescido em R$ 2.700, totalizando R$ 75.690.

Trem de força e desempenho

Motor de 4 cilindros em linha, 1.368 cm³, diâmetro dos cilindros e curso do pistões de 70 x 86,5 mm, taxa de compressão de 13,2:1, 8 válvulas, flex, montado transversalmente, entrega 85/88 cv a 5.750 rpm e tem torque máximo de 12,4/12,5 m·kgf a 3.500 rpm. A injeção é no duto e para partidas a frio estando com álcool no tanque de 58 litros ainda utiliza injeção de gasolina, com reservatório montado no lado direito do compartimento do motor.

Destaque para a captação de ar de admissão que é feita no interior do para-lama dianteiro direito. Esta posição permite captar ar fresco com menor risco de admissão de água ao passar por trechos alagados, o que poderia causar um calço hidráulico, com danos de grande monta ao motor. O inconveniente desta montagem é o maior ruído de aspiração de ar do motor que é transmitido para o interior da cabine.

Com 0-100 km/h completados em 12,2 segundos e atingindo uma velocidade máxima de 173 km/h (álcool), podemos dizer que o desempenho é satisfatório para o tipo de aplicação que esta picape se propõe. A 120 km/h em 5ª marcha a rotação do motor é de 3.800 rpm, o que deixa o interior da cabine com um ruído no limiar do conforto. Acima dessa velocidade causa desconforto pois atinge sonoros 90 dB(A).

O V/1000 em 5ª é de 31,5 km/h, mostrando ser um câmbio curto para dar elasticidade em retomadas, mesmo com a picape no seu carregamento máximo de 650 kg (passageiros + bagagem na caçamba). A caçamba da cabine dupla é a menor da linha Strada com apenas 1,4 m², sendo ideal para cargas altas e pouco útil para cargas como bicicleta ou outros itens mais longos.

Os alcances das marchas levando o motor a 6.000 rpm são: 1ª 35 km/h; 2ª 65 km/h; 3ª 104 km/h; 4ª 145 km/h; e 5ª velocidade máxima de 173 km/h (álcool), motor a 5.500 rpm.

A terceira curta exige atenção nas reduções para que o motor não atinja rotações elevadas e perigosas. Por exemplo, numa redução de 4ª para 3ª, vindo a 120 km/h reais, o motor vai a 7.000 rpm, podendo ocorrer atropelamento de válvulas.

O consumo de combustível está compatível com os seus competidores diretos, e está certificado junto ao Inmetro com 10,8/7,6 km/l na cidade e 12,3/8,5 km/l na estrada. Ao longo desta semana utilizei apenas álcool e alcancei 12,5 km/l no uso rodoviário, saindo de Campinas até à curva AE em Araçariguama. Complementando com uso de cidade neste período, o acumulado foi de 9,2 km/l (cidade+estrada), em um total de 650 km rodados.

Versatilidade de picape

Ao decidir por uma picape é esperada uma boa capacidade de carga tanto em volume quanto em peso. No caso da Strada cabine dupla ocorre uma divisão dessas cargas visto que tem banco traseiro com capacidade para levar até três ocupantes.

O acesso ao banco traseiro é facilitado pela terceira porta, localizada no lado direito da carroceria e que só pode ser aberta após abrir a porta dianteira. É possível o acesso também pelo lado esquerdo, porém com maior dificuldade e tendo que reclinar o encosto do banco do motorista e deslizá-lo à frebnte no trilho.

Na caçamba o destaque fica para a quantidade de alças para amarração de carga. São duas de cada lado na parte superior e duas de cada lado no assoalho. Adicionalmente a barra do teto tem recurso para ancorar carga e dispositivo para evitar o seu deslocamento lateral.

O protetor plástico da caçamba é bem robusto e cobre piso, lateral, assim como a porta. Esta tem a inconveniência de ser pesada e difícil a operação com apenas uma das mãos. Porém tem a vantagem de ser removível, o que traz mais versatilidade para o uso do veículo.

As barras de proteção utilizada no vidro vigia traseiro protegem o vidro quanto a impacto, mas dificultam a visibilidade pelo retrovisor interno. A visibilidade geral do veículo, desde a posição do motorista tem suas limitações dado o pequeno tamanho dos vidro laterais traseiros.

Ter iluminação na caçamba é ótimo, porém o ideal seria posicioná-la em um ponto alto, junto à terceira luz de freio, por exemplo, visto que a montagem na esquina traseira pode ser inútil, dependendo do tipo e forma da carga.

Dinâmica veicular

A arquitetura da suspensão dianteira é originária do Fiat Palio e tem construção McPherson com subchassi ancorado à carroceria sem buchas de isolação. O braço inferior de controle é fabricado em aço estampado e ancorado ao subchassi com uma bucha vertical (conforto) e uma bucha horizontal (estabilidade). Amortecedores pressurizados, batentes em Cellasto® e barra antirrolagem completam este robusto e eficiente arranjo..

A traseira utiliza eixo rígido tubular hidroformado com mola parabólica montada longitudinalmente em cada lado. Este tipo de construção tem uma vantagem em relação ao tradicional feixe de molas, não apresenta a histerese causada pelo atrito entre lâminas. E por outro lado tem vantagens em relação a mola helicoidal pois acomoda-se muito bem sob a longarina, evitando prejuízos para o interior da caçamba.

O sistema de direção tem caixa de direção do tipo pinhão e cremalheira com assistência hidráulica. O esforço estático é um pouco elevado, sem comprometer, e dinamicamente o esforço é bem adequado. O volante proporciona uma boa pega na posição 15 para as 3, com bom encaixe para o polegar. O diâmetro de giro de 10,7 m ajuda nas manobras, como para carga e descarga.

Dinamicamente o carro está bem acertado, com ótimo balanço das suspensões dianteira e traseira. Os pneus Pirelli Scorpion ATR 175/70R14 ajudam nos trajetos fora de estrada. A boa altura livre do solo permite até abusar ao passar por pisos mais ondulados ou em lombadas, sem o inconveniente de tocar o piso. É um carro bem agradável para o uso geral no dia a dia.

Interior despojado

O revestimento dos bancos, painéis de portas, carpetes e demais materiais utilizados no acabamento interno são compatíveis com a proposta de uso do veículo. Não existe luxo, mas também não existe miséria.

O quadro de instrumento surpreende positivamente ao ter termômetro de temperatura da água do motor. Item já fora de moda para outros fabricantes. A segunda surpresa fica por conta do conta-giros que tem sentido de movimento do ponteiro anti-horário, estranho num primeiro contato.

O computador de bordo tem as funções básicas, porém a leitura é prejudicada pelo tamanho pequeno dos caracteres utilizados. O mesmo acontece com o marcador do tanque de combustível.

Bancos traseiros acomodam três adultos, porém se tiverem estatura superior a 1,60 m não espere tê-los ali por longos percursos. Os bancos dianteiros tem bom conforto não causando fadiga no corpo, mesmo em trechos mais longos.

O sistema de ar-condicionado é simples em sua operação, com todos comandos manuais, porém é eficiente no seu funcionamento, atendendo muito bem os ocupantes do banco dianteiro. Apesar de não ter saída de ar climatizado para o banco traseiro, o pequeno volume da cabine colabora para o rápido resfriamento da cabine inteira.

Conclusão

A Fiat Strada é um produto que está muito bem adequado ao consumidor de picapes pequenas. Não só no Brasil, mas também no México, onde estive recentemente, a Fiat Strada tem boa presença pelas ruas. No México o modelo exportado do Brasil recebe a denominação de Dodge RAM 700.

Certamente a oferta de três tipos de cabine e as duas opções de motores (1,4 e 1,8 litro), além das diversas opções de acabamento do simples ao aventureiro ajudam a dar maior volume de vendas para a Strada, enquanto se aguarda a esperada renovação deste produto pela FCA.

GB