Recém-chegado à quarta década de sua história, o Dakar segue sendo o maior rali-reide do mundo. realizado anualmente, segue fiel tanto quanto possível aos valores do seu criador, o francês Thierry Sabine.
Personagem dos mais ativos, capaz de circular com desenvoltura entre as competições de autos e motos e o mundo da música, ele nasceu em Neully-sur-Seine (pequena cidade de 60 mil habitantes na região de Nanterre, que faz divisa com o noroeste de Paris), no dia 13 de junho de 1949; e viveu até o dia 14 de janeiro de 1986, quando o helicóptero em que viajava foi atingido por uma tempestade de areia no deserto do Mali.
Seu pai, Gilbert Sabine, era um dentista que abandonou a profissão para levar adiante o trabalho do filho, tarefa que em 1993 ele entregou à empresa ASO (Amaury Sport Organisation). Gilbert faleceu no dia primeiro deste mês, aos 98 anos.
Inquieto, Thierry disputou provas de moto e de automóveis, inclusive as 24 Horas de Le Mans de 1975/76/80, criou o enduro motociclístico de Le Touquet, cursou jornalismo e trabalhou como assessor de imprensa do grupo “Il Était Une Fois”, um dos mais populares da França na primeira metade da década de 1970.
Não é, portanto, coincidência que o evento nascido como Paris-Dakar surgiu quando Sabine se viu perdido no deserto que une o Níger à Líbia durante a disputa do rali Abidjan-Nice em 1977. Uma vez encontrado, o inquieto organizador de eventos esportivos e culturais optou por retornar para casa percorrendo as florestas e desertos do norte da África.
O cenário dessa aventura o motivou a criar o evento cuja edição 2020 começou domingo, desta vez, no deserto da Arábia Saudita. Três brasileiros participam da prova deste ano: a dupla formada por Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, atuais campeões mundiais de rali-reide e tripulantes de um SSV Can-Am, e o joalheiro curitibano Antônio Lincoln Berrocal, que pilota uma KTM 450 RR e aos 60 anos é um dos pilotos de mais idade entre os motociclistas inscritos.
História do Dakar em vídeo
A história do rali ganhou este ano um resumo bem-humorado, em vídeo, produzido pelos organizadores e que você pode assistir aqui. Com legendas em português, este vídeo de cerca de 14 minutos de duração conta muitos detalhes que raramente são comentados. Nele você terá boas noções da história da prova, da logística que envolve os preparativos de largada, a camaradagem que une os competidores, como acontece cada etapa da competição, e até mostra o equipamento básico das cinco categorias de veículos que participam da competição.
O que ele não conta é que o primeiro Paris-Dakar poderia ter sido realizado na América do Sul: problemas burocráticos impediram que o projeto fosse adiante, ainda que em 1978 os argentinos tenham organizado uma volta à América do Sul para celebrar a disputa do Campeonato Mundial de Futebol daquele ano no país vizinho. O rali “Vuelta a la América del Sur” saiu de Buenos Aires rumo a Caracas e seu trajeto de 28.592 km — o maior de uma competição automobilística até hoje — percorreu estradas do Brasil, Bolívia Chile, Colômbia Paraguai, Uruguai e Venezuela.
Os brasileiros Christiano Nygaard e Neri Reolon foram os melhores na classe A pilotando um Fusca. Uma réplica bem detalhada desse carro está exposta no Museu do Automobilismo Brasileiro, em Passo Fundo, RS; o escocês Andrew Cowan e o inglês Colin Malkin (Mercedes 450 SLC 5.0) foram os vencedores na classificação geral.
Deslocado da África por questões de segurança, a prova de 1988 foi cancelada por ameaças terroristas, ocasião em que o Paris-Dakar foi rebatizado como apenas Dakar e passou a ser disputado na América do Sul até o ano passado, sem jamais ter passado pelo Brasil. Os vastos desertos do Oriente Médio, e a disposição de governos locais para apoiar eventos internacionais facilitaram a segunda grande mudança na história da competição. Este ano o maior rali-reide disputado anualmente em todo o mundo acontece em um único país, a Arábia Saudita.
Incluída entre as favoritas na categoria SSV (da sigla Side by Side Vehicle, nova denominação dos UTVs), a dupla Reinaldo Varela-Gustavo Gugelmin viveu uma situação inusitada na etapa de domingo: uma pedra que atingiu seu SSV forçou os brasileiros a uma solução de emergência. Varela pilotou cerca de 300 km dirigindo o seu veículo com uma chave de fenda, uma inglesa e um grifo, ferramentas transformadas em volante e coluna de direção. Eles estão em décimo lugar na categoria, que tem 46 concorrentes.
WG