A picape Renault Duster Oroch será a protagonista deste Teste de 30 Dias nº 1 do ano de 2020. Trata-se da primeira picape na mira do “30 Dias”, e a escolha deste tipo de veículo teve razões práticas: o responsável pela editoria — eu mesmo — está prestes a viajar com a família para uma semaninha de férias, com perspectiva de rodar por lugares rústicos e carregar uma infinidade de tralhas. Deste modo, a picape de cabine dupla lançada no final de 2015 pela Renault no Brasil aparenta ser uma boa escolha por unir o útil (teste, trabalho) ao agradável (viagem de férias).
A Duster Oroch, como o próprio nome avisa, é derivada do suve Duster, cujo DNA tem os dois pés no leste europeu assim como o sedã Logan e o hatch Sandero. Todos são veículos projetados pela Dacia, empresa romena comprada pela Renault em 1999, mas que desde 1968 produzia carros da marca francesa sob licença e que atualmente integra uma forte aliança industrial que tem as nipônicas Nissan e Mitsubishi como participantes
Fabricar os Dacia no Brasil e batizá-los de Renault foi uma decisão criticada, mas faz sentido: são automóveis simples e robustos, projetados para as condições do leste europeu, bem parecidas com as do Brasil. E é exatamente simplicidade e robustez que percebi no primeiro contato com a Oroch que retirei novinha novinha, com exatos 1.760 km no hodômetro.
Em versão topo de linha, Dynamique, dotada do motor 1,6 litro SCe, câmbio manual de cinco marchas e com um bom pacote de opcionais. No “monte o seu” do site Renault uma Oroch como esta do teste tem preço público sugerido de R$ 84.180 reais, dos quais quase sete mil reais são opcionais (cor metálica, couro e um “pack” com capota marítima, proteção frontal, grade no vidro traseiro e alargador de para-lamas).
Uma vez a bordo, reconheci cá e lá elementos que vi equipando Sandero, Kwid e até mesmo Captur, tais como a central multimídia, comandos do ar-condicionado e as bocas de saída da ventilação circulares, entre outras coisas. Tudo na Duster Oroch é muito funcional, e muito essencial: manter a expectativa em níveis “utilitários” é regra básica para não implicar com o interior da picape.
Apesar do viés trabalho ser a prioridade em um veículo deste segmento, a Oroch em versão Dynamique tenta agradar os olhos com um ou outro capricho, como o “black piano” aplicado em partes do revestimento do painel e portas, os tapetes de borracha com acabamento acarpetado por cima e bancos revestidos em couro cinza chumbo. O ambiente na cabine é predominantemente sóbrio, discreto, o revestimento do teto preto colabora para esta percepção.
Não há pecados flagrantes de montagem nas superfícies internas, de plásticos com texturas variadas, que não passam grande percepção de qualidade. Nichos porta-coisas estão cá e lá e os 30 dias dirão se eles são também práticos. Quanto à ergonomia, comandos fundamentais seguem padrão intuitivo: não há sofrimento para encontrar o que é importante como acionamento de luzes ou limpador de para-brisa. Porém, há uma série de teclas espalhadas no centro do painel e console que exigem desviar a atenção da via para seu uso, como, por exemplo, a que ativa o controlador de velocidade, que deveria estar no volante, onde estão as restantes teclas deste útil dispositivo.
Apesar de haver regulagem de altura, de inclinação de encosto e distância no banco, o volante não tem ajuste de distância e isso complicou minha tentativa de achar um posicionamento razoável ao volante. Bem menos difícil foi atuar na central multimídia, tanto por ser bem básica como por ser intuitiva. Sob o ponto de vista da segurança a Oroch frustrará os mais exigentes com sua receita frugal de apenas as duas obrigatórias bolsas infláveis e inexistência de qualquer dispositivo eletrônico a não ser o freio com ABS. Sim, nada de controle de estabilidade e nem de tração. Aliás, este último talvez seja um handicap sério tendo em vista a possibilidade de associar condições de carga elevada com rodagem em terrenos ruins e tração dianteira.
Um “pecado” sério da Renault brasileira é fabricar no Paraná uma versão 4×4 da Duster Oroch, mas designá-la apenas para exportação, algo que foge de minha compreensão sendo o Brasil um país com apenas 20% de suas vias pavimentadas. Tem certeza de que não haveria mercado para uma Oroch 4×4 aqui, Renault? Porém, para os fãs de um estilo pseudo off-road há o quebra-mato estilizado na dianteira, que confere o ar de robustez que se espera de um carro deste tipo. Mas quem cogita uma Oroch para o trabalho duro mereceria dispor da tração integral como opção na hora da compra, claro.
Quanto ao design da Duster Oroch — um Duster com caçamba — ele não deixa a desejar se o critério for a aparência musculosa, mas o peso dos anos já se faz sentir uma vez que o suve do qual deriva foi lançado há uma década.
Abrir a caçamba (que tem fechadura) traz à tona uma característica pouco simpática: a tampa pesa bastante e cai de uma vez, não havendo nenhum sistema que atenue a velocidade de abertura, apenas os clássicos limitadores de cabo de aço. O interior da caçamba é totalmente revestido e há ganchos para amarração de carga superiores e inferiores. A capota marítima e fácil de ser aberta e fechada e o estepe fica sob o assoalho.
Rodei apenas na cidade de São Paulo nesta primeira semana de avaliação e apesar de frustrado pela malsucedida busca por uma posição de dirigir que me satisfizesse, a Duster Oroch agradou no geral: direção, pedais e alavanca de câmbio são de fácil acionamento, a Oroch se deixa levar quase como um automóvel. São apenas as suspensões um tantinho mais rígidas do que as de um Duster que entregam estarmos ao volante de uma picape.
Nos míseros 84 quilômetros rodados para escrever este primeiro relato a Oroch mostrou uma sede acima da que eu esperava para o motor 1,6-litro SCe acoplado a um câmbio manual: 4,7 km/l de álcool, marca que pode ter alguma explicação na quantidade de congestionamentos que encarei e, possivelmente, na juventude do motor e seus pouco menos de 2.000 km rodados.
Para a sequência do Teste de 30 Dias o programa é o já revelado lá no início: vou lotar a caçamba, a cabine, e rumar para o litoral por rodovias e estradas de diversos tipos. A Oroch vai conhecer uma grande variedade de terrenos e eu – nós – começaremos a desvendar suas qualidades e também seus pontos eventualmente a melhorar.
RA
Renault Duster Oroch 1.6 16V SCe
Dias: 7
Quilometragem total: 84 km
Distância na cidade: 84 km (100%)
Distância na estrada: 0 km (0%)
Consumo médio: 4,7 km/l (álcool)
Velocidade média: 11,5 km/h
Tempo ao volante: 07h16min
RENAULT DUSTER OROCH DYNAMIQUE 1,6-L | |
MOTOR | |
Designação | Renault SCe 1,6-l |
Descrição | 4 tempos, 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variador da fase na admissão, atuação indireta sem compensação hidráulica de folga, quatro válvulas por cilindro, bloco e cabeçote de alumínio, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Diâmetro e curso (mm) | 78 x 83,6 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,2/4.000 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas à frente mais ré, tração dianteira |
Relações de marchas (:1) | 1ª 3,73; 2ª 2,05; 3ª 1,32; 4ª 0,94; 5ª 0,76; ré 3.55 |
Relação de diferencial (:1) | 4,93 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, McPherson, dois braços inferiores paralelos, um braço longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira, assistência elétro-hidráulica indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,4 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/280 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 215/65R16T |
CARROCERIA | Picape cabine dupla, monobloco em aço, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 683 |
Tanque de combustível | 50 |
PESO (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.296 |
Carga útil | 680 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.693 |
Largura sem espelhos | 1.821 |
Altura | 1.695 |
Distância entre eixos | 2.829 |
Distância mínima do solo | 206 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 14/12,5 s |
Velocidade máxima (km/h | 161 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,1/7,6 |
Estrada (km/l, G/A) | 11,2/7,7 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.580 |
Rotação à vel. máxima em 4ª (rpm) | 4.940 |