A terceira semana ao volante da Renault Duster Oroch foi marcada pela estreia da gasolina no tanque, combustível cujo uso é predominante no Brasil. Como todos sabem, a gasolina proporciona maior autonomia, permite rodar mais quilômetros com cada litro de combustível. No caso da Oroch, esta realidade ganha relevância maior por conta de um consumo de álcool que julguei particularmente elevado nas primeiras semanas do teste.
Para além de qualquer discussão que envolva emissões de poluentes, sustentabilidade, “gretices” e o apoio (ou não…) a políticas públicas, sobrevém um fato: o que acaba determinando a escolha por um ou outro combustível no Brasil é, na esmagadora maioria das vezes, o bolso do consumidor (ao menos os que sabem fazer conta, claro). E de maneira geral, à exceção de determinadas épocas ou, quando no Estado de São Paulo usar combustível derivado da cana de açúcar não está valendo a pena.
Por conta disso, avaliar a Oroch com gasolina significa passar uma informação mais relevante para um universo maior de leitores, e assim rodei quase 400 quilômetros nesta terceira semana de avaliação, usando nossa gasolina que, na verdade, é um “blend” no qual ao menos 27% é de álcool.
Rodar com o combustível fóssil não alterou em nada o padrão de consumo da Oroch. Por mais atenta que tenha sido a tocada, suei para fazer 12 km/l, marca obtida em trecho de rodovia plana e velocidade limitada a 110 km/h, com carro vazio — apenas motorista — e sem carga. Neste mesmo trecho na volta da viagem, sem tanto cuidado com o pé, ar ligado e com dois passageiros, não consegui melhor do que 10,5 km/l, o que considero algo excessivo para um motor de mero 1,6 litro.
Certamente, consumo menor é sempre melhor, para o bolso e para uma mente autoentusiasta, que valoriza coisas como eficiência energética, sempre resultante de engenharia caprichada. Porém, vale fazer considerações antes de jogar pedra no Oroch e chamar seu motor de gastador. Lembrar que picapes não conseguem ser eficazes do ponto de vista aerodinâmico é um ponto importante: aquele degrau entre o tero e a caçamba é “do mal” para fins de um bom coeficiente de resistência aerodinâmica. A capota marítima minimiza o problema, mas mesmo com ela o escoamento do ar é sofrível.
Além disso, atrapalha a tarefa de furar a parede de ar sem muita despesa de energia a área frontal considerável de cerca de 2,47 m², a distância em relação ao solo idem e adereços como as barras de teto, que podem colaborar com a estética aventureira tão em voga atualmente, mas não com princípios de excelência aerodinâmica.
Lembrei que, grosso modo, o Duster Oroch usa basicamente o mesmo motor de um carro que passou aqui pelo 30 Dias, e que se destacou pelo bom consumo: o Nissan Kicks. Por “basicamente”, entenda-se que é o motor, o SCe, é fisicamente idêntico, mas tem ajustes diferentes que resultam em padrões de entrega do torque e potência diferentes. E consumo… Um feito para ser adequado ao pequeno suve, outro para uma picape . Certamente o Kicks também “fura” melhor a massa de ar (área frontal 2,25 m²) e ainda há outro importante dado: pesa 187 kg menos que a Oroch.
Seja como for, a experiência de levar a Oroch à rodovia ou à cidade não muda muito com a mudança de combustível, mas sim a frequência com a qual se deve ir à bomba de combustível; na melhor das hipóteses em 460 km usando álcool ou até 600 km com gasolina.
O consumo de homologação desta Oroch junto ao Denatran é de 11,1/7,6 km/l na cidade e 11,2/7,7 km/l, na estada.
Uma descoberta desta semana é a mínima diferença dinâmica verificada viajando com a caçamba vazia ou cheia, o que confirma o bom ajuste das suspensões. O mesmo vale para o uso na cidade, onde o rodar da Oroch se assemelha mais ao de um suve do que ao saltitar típico das picapes do “andar de cima”, tipo Ranger, Hilux e cia.
Falta sentida no uso urbano é a de uma câmera de ré: apesar dos sensores de distância, as manobras com a Oroch seriam em muito facilitadas pelo hoje já popular sistema de monitoramento por imagem, uma vez que o que (não) se vê dos retrovisores sempre me deixou inseguro em manobras.
Uma característica incômoda da Oroch deriva da protuberância daquilo que seria um estribo, ou que ao menos está no lugar de um — na verdade são as largas soleiras das portas, o que torna quase impossível descer do carro sem esbarrar a panturrilha (a batata da perna) nele. O problema não é tanto o contato com a perna, mas sim o fato de que ali se deposita boa parte da sujeira lançada pela roda dianteira, o que acaba sempre sujando a calça.
Apesar deste detalhe não colaborar nada com o uso urbano, feito de paradas frequentes e entra e sai do carro, acabei a semana achando a Oroch um veículo razoavelmente competente para rodar na cidade: os comandos são macios, a visibilidade (menos para trás) é boa, a suspensão confortável (considerando ser uma picape) e o tamanho geral não passa a sensação ruim — ao menos para mim — de estar ocupando mais espaço das ruas e estacionamentos do que seria adequado ou socialmente correto..
Quanto ao consumo urbano, o para e anda paulistano deste fim de janeiro, com trânsito ainda relativamente fluido por conta de férias escolares, apontou para uma média de consumo de gasolina que, no melhor percurso, foi de 7,1 km/l, no pior beirou os 6 km/l, lembrando sempre que as vias que frequento são predominantemente muito acidentadas, cheias de trechos íngremes.
Para a semana derradeira, a visita à Suspentécnica encerrará, como de hábito, o Teste de 30 Dias da Renault Duster Oroch, picape que percebi ser pouco conhecida das pessoas de um modo geral: mais de uma vez fui abordado por conhecidos ou não que me perguntaram “É lançamento?”. Bem estranho ouvir isso de um carro que tem quatro anos de mercado mas que, de fato, se vê bem pouco nas ruas.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Renault Duster Oroch Dynamique 1,6 16v SCe – 3ª semana
Dias: 21
Quilometragem total: 1.194 km
Distância na cidade: 457 km (38%)
Distância na estrada: 737 km (62%)
Consumo médio: 7,2 km/l (67% álcool- 33% gasolina)
Melhor média (álcool): 9,2 km/l (rodovia)/5,4 km/l (cidade)
Pior média (álcool): 8,4 km/l (rodovia)/4,4 km/l (cidade)
Melhor média (gasolina): 12,0 km/l (rodovia)/7,1 km/l (cidade)
Pior média (gasolina): 10,7 km/l (rodovia)/5,8 km/l (cidade)
Velocidade média: 27 km/h
Tempo ao volante: 43h58min
FICHA TÉCNICA DA RENAULT DUSTER OROCH DYNAMIQUE 1,6-L | |
MOTOR | |
Designação | Renault SCe 1,6-l |
Descrição | 4 tempos, 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variador da fase na admissão, atuação indireta sem compensação hidráulica de folga, quatro válvulas por cilindro, bloco e cabeçote de alumínio, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Diâmetro e curso (mm) | 78 x 83,6 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,2/4.000 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas à frente mais ré, tração dianteira |
Relações de marchas (:1) | 1ª 3,73; 2ª 2,05; 3ª 1,32; 4ª 0,94; 5ª 0,76; ré 3.55 |
Relação de diferencial (:1) | 4,93 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, McPherson, dois braços inferiores paralelos, um braço longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira, assistência elétro-hidráulica indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,4 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/280 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 215/65R16T |
CARROCERIA | Picape cabine dupla, monobloco em aço, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 683 |
Tanque de combustível | 50 |
PESO (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.296 |
Carga útil | 680 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.693 |
Largura sem espelhos | 1.821 |
Altura | 1.695 |
Distância entre eixos | 2.829 |
Distância mínima do solo | 206 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 14/12,5 s |
Velocidade máxima (km/h | 161 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,1/7,6 |
Estrada (km/l, G/A) | 11,2/7,7 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.580 |
Rotação à vel. máxima em 4ª (rpm) | 4.940 |