Definitivamente, sou uma pessoa diferente da maioria. Meu marido sempre me classifica assim também — e na verdade, não poderia concordar mais com essa definição. No domingo passado saímos para almoçar com o tio dele e na hora dos drinques, diante de minhas dúvidas ao olhar a carta, a solícita garçonete prontamente sugeriu: “temos Aperol, se quiser. Ou Gim Tônica “. Os dois caíram na gargalhada e meu tio ainda disse para a moça, que pareceu meio assustada: é que você não conhece a Norinha…
Optei por um dos meios favoritos, o dry martini, mas estava meio mais ou menos, ao contrário do resto da comida que foi divina. Gim eu gosto, e muito, mas puro ou quase. Adoro água tônica, mas nada de misturar os dois no mesmo copo, não. Nem gelo eu coloco no uísque.
Pois é, drinque fraquinho não é comigo. Nem cerveja eu tomo porque não sou pessoa de perder tempo com 4% de álcool. Com os 12-14% de um vinho começamos a conversar, mas aprecio muito bebidas na faixa dos 40-45% e gosto muito de absinto — daquele 75%. Engraçado é que não gosto de anis e o absinto lembra um anis, mas com muito mais álcool — logo, deduzo que gosto mesmo é do álcool, hehehehe. Mas sempre em quantidades realmente pequenas. Exceto Campari, o resto é apenas uma dose, e na bebida vermelha de que tanto gosto, dois copos, no máximo, ao longo de uma noite toda. Já o vinho… bem, ele é mais fraco, né? Meia garrafa tranquilamente com um belo jantar e em boa companhia. Em minha defesa saliento que nunca fiquei bêbada. Não por princípio, não, apenas porque não gosto de beber mais do que uma pequena quantidade.
Brincadeiras à parte, às vezes acho que nada em mim é comum e muito menos para uma mulher. É gritante a diferença de atitude, de pensamento e até mesmo meus gostos pessoais em relação aos das minhas amigas. Não raro, sinto-me (a primeira ênclise do dia) uma verdadeira ET. O irônico é que adoro coisas que as feministas execram, como cozinhar, cuidar da casa ou fazer tricô. E ao mesmo tempo, calibro pneus e já troquei cabo de embreagem. Vai entender…
Quando se trata de coisas relacionadas a carros, então! Já disse muitas vezes que sou uma autoentusiasta amadora. Ao contrário do pessoal daqui do AE não tenho formação em engenharia, nunca fiz curso de mecânica e, claro, entendo muito menos do que meus colegas — mas ainda assim, bem mais do que a maioria das pessoas e certamente muito mais do que qualquer mulher, digamos, comum. Claro que deixo de fora aquelas que trabalham com automobilismo e algumas mais hábeis do que eu.
Quando era pequena brincava tanto com bonecas quanto com carrinhos ou bolinhas de gude e sempre gostei de brinquedos mais de aventura, desde uma simples bicicleta até os carrinhos de rolimã do meu primo ou mesmo meus adorados patins. Tive videogame na minha fase já quase adulta mas não sou especialmente fã. Minha falta de habilidade é lendária. Já comentei aqui neste espaço que tinha um jogo que era uma batalha espacial. Invariavelmente eu era banida da frota estelar ou ia para a corte marcial. Nunca, nunquinha, consegui algo menos desonroso do que isso.
Já nos de carrinhos não consigo fazer pontos num número minimamente decente apenas porque faço tudo aquilo que gostaria de fazer na vida real e não posso. Assim, entro a milhão nas curvas, passo tirando fina de guard-rails ou de outros carros (bem, às vezes nem fina é e bato mesmo) e tudo aquilo que sei que não terá consequências físicas de verdade. Então, aproveito a farra ao máximo. Dirigir cuidadosamente num videogame para mim é algo impensável, chato até. Como não ligo para rankings, não estou nem aí para obter algum número de pontos, ter meu nome numa lista de maiores vencedores, nada disso. Faço isso apenas pela farra. E aí, é pé no fundo mesmo e “dirigir’ no limite. Ou como diria aquele locutor “no limite extremo”— gostaria de saber onde fica o “limite intermediário”, mas deixa pra lá.
Das vezes que fui correr de kart com amigos totalmente amadores foi muito parecido. Digo parecido, não igual, pois aí sim há algum risco e aí não dá para exagerar como num simulador. Mas vou pela diversão, não para ganhar — tanto que fico em primeiro lugar apenas entre os mais braço-duros porque sou a primeira em derrapar, perder a entrada da curva e outros detalhes que fariam de mim um terror nas ruas de verdade. Meu senso de competitividade nessas horas é absolutamente igual a zero.
Quero mais é extrapolar em tudo e não dirigir certinho que isso já faço o tempo todo. Ou seja, estou mais para piloto de carrinho de bater (foto de abertura, apenas ilustrativa) do que de qualquer outra coisa motorizada. Aliás, nos carrinhos de bater sou, paradoxalmente, imbatível. E me divirto tanto quando bato nos outros (desde que eles gostem também, se não passo longe) como quando batem em mim. Não é “carrinho de bater” que chama? Então, é isso que faço.
Algum psicólogo diria que faço minha catarse nessas horas. Provavelmente é verdade. Vivo bem convencionalmente, respeitando leis, normas, regras e convenções, mas videogame, parque de diversões e semelhantes são exatamente isso, para a farra.
Quando estive na Finlândia em pleno inverno adorava pegar o trenozinho de plástico e descer as encostas do nosso chalé no hotel em Saariselka até o restaurante pelas pistas de neve próprias para isso. Mas, claro, a milhão e fazendo estrepolias. Éramos eu e as crianças de hotel na pista. E daí? Tomei cada caldo! Divertido era encalhar a ponta do trenó na neve e passar voando por cima dele ou sair da pista na curva. Afinal, neve é super macia e obviamente não estava numa velocidade assim tão alta – provavelmente nem os radares de São Paulo conseguiriam me multar por isso. Minhas idas para tomar o café da manhã renderam fotos engraçadíssimas e vídeos que estavam mais para videocassetada do que qualquer outra coisa. (fotos Finlândia 1, 2 e 3). Aliás, foi lá que descobri porque os finlandeses são tão bons nos ralis e na Fórmula 1. O pessoal já sai derrapando no gelo nos carrinhos de bebê e passa o resto da vida assim.
Descer pistas dentro de boias, seja na água ou na neve, é outra coisa que adoro. Tem gente que faz questão de ficar dentro do trilho, no meio da calha. Eu não. Gosto de subir com a boia nas laterais dos tobogãs. É muito mais divertido. Se der para começar a descida de costas, muito melhor.
Anos atrás acompanhei meu marido numa viagem de trabalho — ele trabalhando, eu de folga. O evento corporativo era num hotel dentro de um parque na Disney, uns cinco dias de duração. Já no primeiro dia, ele perguntou se eu poderia ciceronear a esposa e os filhos de um cliente dele — a empresa dava os ingressos para os parques. “Nããão, imagina!” Um dia inteirinho de montanhas russas, carrinhos e outras emoções. Para sorte do cliente do meu marido o menino gostava de brinquedos de aventura, mas a mãe e a irmã não. Sobrou para quem? Claro que eu. O garoto estava tão feliz de ter achado uma parceira como eu que me disse: Nora, você é minha ‘ídala’! Não foi lindo?
Acho bobagem essa história de não dar carrinho para menino porque seria induzi-lo a ter um comportamento masculino. Pessoalmente, acho carrinho muito legal e dou esse tipo de brinquedo para criança de ambos os sexo — desde que ela curta, é claro, ou que seja tão pequena que não conhece e aí eu entro para abrir um mundo de aventuras diante dos seus olhinhos (foto 3). Para mim não se trata apenas de um carrinho, mas de deixar a imaginação ir longe, de poder se ver em outros lugares. Como dizem, não é apenas o destino, mas a viagem que importa. O mesmo acontece com aviõezinhos ou mesmo naves espaciais.
Quando nossa afilhada tinha uns 3 anos de idade ou pouco menos, a levamos ao Simba Safári, um lindo parque em São Paulo onde se entrava de carro (próprio ou do parque). Os macacos e leões é que estavam soltos. Há anos que não vou e soube que mudou muito, mas batia ponto várias vezes por ano, especialmente para levar parentes e amigos que vinham da Argentina ou mesmo de outros países. Curiosamente, originariamente não havia leões na América Latina e os do Simba Safári haviam vindo de uma criação justamente na Argentina.
Bem, para nosso desapontamento, a Bianca não deu muita bola para os bichos, que passavam o tempo todo ao lado do carro, com as janelas abertas e protegidas por umas grades que eram colocadas na entrada do parque. Nem os macacos com suas brincadeiras chamavam muito a atenção dela. O que ela mais curtiu foi andar no colo do tio, “dirigindo” o carro. Superconcentrada, virava o volante o tempo todo e olhava a sua volta imaginando sabe-se lá o quê. A maior parte do tempo estávamos parados vendo os bichos, mas ela não tinha noção disso. Provavelmente, achava que era uma ranger no meio da savana africana. Se soubéssemos do fascínio pelo carro poderíamos ter ficado na garagem de casa…
Criança raramente não gosta de carro, seja de verdade ou de brinquedo (ao lado). Eles exercem uma magia que nos transporta para longe, como no dia do Simba Safari. E essa é uma das coisas mais legais. Deixar a imaginação ir longe ou pensar como seria dirigir no meio dos leões. Acho muito triste encaixotar coisas em estereótipos, seja não dar carrinho para menina porque é coisa de menino, seja não dar carrinho para menino porque isso afiançaria seu comportamento masculino. Carrinhos para todos, já!
Mudando de assunto: mais uma para minha coleção de piadas infames e carros — com o acréscimo de outra coisa que adoro, que é música: