Quando eu era criança meu pai trabalhou durante alguns anos na Coca-Cola, ainda quando morávamos na Argentina. Não sei quanto tempo nem em qual área, mas como ele era químico imagino que em algum setor ligado à produção. Certamente eu era muito pequena, pois quando estava no jardim de infância um dia fizemos uma visita à fábrica da Coca-Cola, solicitada pelo meu pai. Era uma daquelas coisas tipo “o que meus pais fazem”.
Engraçado é que fizemos outras visitas, mas só me lembro daquela à Coca-Cola. Achei o máximo as máquinas engarrafadoras, com aquela fileira enorme de garrafas. O líquido entrava sozinho, as garrafas seguiam por uma esteira e depois, tchum, a tampinha metálica (sim, sou daquela época) era colocada no topo da garrafa automaticamente. Lembro que no final nos serviram um lanche com os típicos “sandwichs de miga” e, claro, Coca-Cola. Para quem não conhece, poucas coisas são tão argentinas como esses sanduíches: finíssimas camadas de pão parecido com o de forma de recheados com um item destes de cada vez em combinações de dois (sanduíche duplo) ou três (sanduíche triplo): queijo, presunto, tomate, alface, milho verde, atum ou pimentão. Esses são os mais frequentes, mas há muitas variedades. Geralmente com um pouco de maionese.
Acho supereducativos esses passeios, qualquer que seja a profissão dos pais. Fora que pode ajudar a decidir os rumos de alguém. Quem sabe se tivesse visitado a Nasa eu não seria astronauta? De quebra, no meu caso, me fez uma fiel consumidora dos produtos da marca — até hoje não sei se foi pela visita, porque meu pai trabalhou lá ou apenas porque o gosto me agrada mais, mas pergunta se tomo algo da Pepsi? Nem por acaso… nem os refrigerantes com gosto de cola nem os outros. E eu tinha apenas 4 aninhos naquela visita. Tudo isto embora consuma pouquíssimo refrigerante — sou ávida bebedora de água, mesmo. Mineral ou torneiral.
Em outra ocasião, ainda no jardim de infância, fizemos um descanso de travessas para o Dia das Mães. Não sei quem arrumou as bases, mas meu pai conseguiu com a Coca-Cola as cortiças já cortadas em círculos que nós apenas colamos sobre as bases. Na verdade, as cortiças eram aquelas usadas dentro das tampinhas metálicas. Nada muito complicado, pois éramos todos deveras pequenos, mas minha mãe gostou muito e o usou durante muitos anos. Ponto para a Coca-Cola.
E por que conto a vocês todas estas lembranças de infância? Porque eu tinha um caminhãozinho de entregas cheio de caixotes de Coca-Cola com o qual brincava bastante. Era realmente pequeno — calculo que não mais do que uns 15 centímetros de comprimento. Nunca tive muitos brinquedos — nem de menina nem de menino — mas de menino eram ainda mais raros. Limitavam-se a apenas alguns do meu pai ou do meu tio com os quais brincava quando ia à casa da minha nonna ou como o caminhãozinho, que ganhei em algum momento.
Lembrei dele quando, algum tempo atrás um leitor me pediu uma pauta. Anotei a solicitação dele mas, infelizmente, esqueci de copiar o nome e já me chicoteio mentalmente pela minha falha. Bom, o que ele havia escrito era: “Aproveitando o assunto, está aqui uma coisa que não entendo: por que as fabricantes de automóveis não se dedicam mais ao licenciamento de brinquedos baseados em seus veículos? Além de não estarem incentivando o interesse desde a infância de seus futuros consumidores, também estão perdendo dinheiro ao não aproveitarem esse nicho.”
Sempre achei um desperdício de nome, marca e tudo isso não fazer isso – ou, pelo menos, não fazer mais ostensivamente. O pequeno caminhão da Coca-Cola era um sucesso entre meus colegas de escola a cada aniversário ou festa em casa. Por quê não divulgar mais ou comercializar em larga escala? Por quê não aproveitar uma marca tão conhecida?
Poucas marcas fazem isso. Pesquisando bastante, encontrei algumas que, sim, licenciam suas marcas para carrinhos. Ainda assim, acho que são muitas menos do que poderia e são muito menos divulgadas do que poderiam ser. E geralmente produzem apenas carros especiais, como de seriados ou filmes. São raras as miniaturas de carros de linha.
Sete anos atrás, o shopping SP Market, em São Paulo, promoveu uma exposição de miniaturas de carros de filmes e seriados. No total, havia 40 carrinhos de seriados como Esquadrão Classe A, Super Máquina, Os Gatões e Os Flintstones e de filmes como Os Caça-fantasmas, De volta para o futuro, O Poderoso Chefão, OO&, Grease – Nos Tempos da Brilhantina, Carros. Havia também uma réplica em tamanho natural do Bat-móvel, feito a partir de um Opala por um mecânico brasileiro fã do Batman. Em vários estados do País tem havido eventos deste tipo, mas ainda a melhor opção, para aficionados das miniaturas como eu, é ficar caçando os sites especializados ou mesmo os de vendas online no exterior.
Alguns fabricantes de brinquedos têm licenças para produzir miniaturas de carros de linha, mas muito poucos. Também são poucos os brinquedos baseados em carros de linha. E vejam, caros leitores, que sou ávida consumidora de jogos de mesa. Mas pessoalmente gosto dos clássicos, com dados, fichas, peças, tabuleiro. Não curto RPG nem sequer “Dungeons and Dragons” — provavelmente por falta de empenho. São de War, Staff, Academia e Rummikub, entre outros. Se tem jogos que simulam administrar uma empresa, como o Staff, por que não seria possível algum com veículos que fosse além de uma corrida? Não me refiro a videogames, pois aí é óbvio e existem aos montes, e sim a algo mais simples? Ou algo que envolvesse estratégia?
Marcas como Ferrari e Mercedes-Benz produzem miniaturas de alguns de seus modelos mais icônicos e os colocam à venda nas lojas da marca no mundo todo, mas aqui no Brasil há poucas opções – tem mais camisetas e bonés do que carrinhos. E olha que falei com vários fabricantes!
A Honda Automóveis, por exemplo, não tem produtos licenciados da marca à venda no Brasil. A Toyota tem camisetas, bonés, jaquetas, chaveiros, squeezes e canecas, entre outros produtos. A Lexus importa itens de seu fornecedor licenciado em Taiwan — itens alinhados com a sofisticação da marca, como acessórios para golfe, carteiras, e objetos domésticos como xícaras e garrafas, além das clássicas camisetas, jaquetas e bonés desenvolvidos por fornecedor oficial aqui no País, mesmo. A vantagem dos fornecedores oficiais é, geralmente, a qualidade dos produtos. Nada de camiseta que desbota na máquina de lavar e mancha todo o resto da roupa ou peças que se soltam. Mas ainda é um mercado muito, muito pequeno. No caso da Toyota, por exemplo, nem todas as concessionárias da marca no Brasil têm produtos licenciados à venda. Segundo me informou o porta-voz da empresa, há boas perspectivas no horizonte. “A Toyota acredita que este seja um caminho para consolidar nossa marca, atrair fãs e estreitar o relacionamento com nossos clientes, por isso, sempre temos novas coleções sendo lançadas. A partir deste ano, por exemplo, com a participação da Toyota na Stock Car, a linha de produtos da Gazoo Racing está ganhando força e a ideia é desenvolvermos mais produtos desta linha. Temos o plano de incluir miniaturas, que atualmente não temos em nossas coleções, pois são itens que despertam bastante interesse do público.” E a empresa sempre procura ter uma boutique com produtos licenciados nos eventos dos quais participa, como feiras e exposições. Segundo o porta-voz da empresa, mercados como o dos Estados Unidos ou o do Japão têm um mercado mais maduro para produtos licenciados e, por isso, a empresa vê grandes chances para esses itens.
Mas pensar em miniatura de carrinhos e associar isso exclusivamente a crianças é um erro. “No caso específico das miniaturas, a Toyota sempre teve um público consumidor mais adulto do que infantil, que realiza essa atividade como coleção desses produtos, nem tanto como brincadeira.”
Frederico Battaglia, Diretor de Brand Marketing Communication da Fiat, contou que entre os produtos licenciados estão miniaturas, roupas, acessórios, eletrônicos e até carrinhos de bebê das marcas Fiat Fashion, Jeep Gear e Ram Store. Eles são vendidos em diversos países e o licenciamento é global e feito pela empresa IMG, que cuida internacionalmente da qualidade dos fornecedores e viabilidade de pedidos. No Brasil, a empresa dividiu as parcerias com duas empresas: a 4Takes, responsável pela Fiat Fashion, e a Premium, que cuida da Jeep Gear e Ram Store.
A fabricante italiana não se preocupa muito com os resultados de venda destes itens. “Não avaliamos o retorno de nossos licenciamentos pela porcentagem de faturamento. Avaliamos pelo retorno de imagem. Nosso objetivo com a extensão de marca é awareness para comunicar os valores de cada uma delas e de cada nova coleção que é lançada”, explica Battaglia.
E aquela história de que brasileiro é apaixonado por carros? Para Battaglia, o brasileiro é apaixonado por carros, porém a cultura de produtos licenciados é recente no País, mas vem crescendo e a empresa afirma que está inserida nesse crescimento. “Nossas marcas de produtos licenciados foram pensadas para ir além na relação carro e motorista. Nosso objetivo sempre foi o de fazer com que o consumidor tivesse mais contato com a essência da marca através de outros produtos, seja uma camiseta, um acessório, ou um brinquedo desde de que estejam em contato com a fabricante no dia a dia. Para ele, estes produtos são uma importante comunicação de marca porque geram uma relação de valor entre o consumidor e a marca, que vai além apenas dos carros, aumentando o pertencimento do público, indo além apenas da relação carro e motorista. “Isso incentiva que a as pessoas ouçam falar das marcas da FCA dentro de casa, como marcas modernas ligadas a momentos bacanas, permitindo que elas criem imagens afetivas ao redor delas”. Lembram de minha história de amor incondicional com a Coca-Cola?
Mudando de assunto: exatamente dois anos atrás estava eu passando o carnaval na Finlândia — até escrevi sobre isso aqui. Num dos dias, pegamos um meganavio e atravessamos o Báltico para ir até a lindíssima Tallin, a capital da Estônia. Justamente semana passada, encontrei numa rede social esta foto da entrada do estacionamento da Ópera da Estônia, em Tallin. Bacana, não?