Eu disse adeus ao Renault Duster Oroch com uma certeza: quem necessita de uma picape de porte pequeno/médio deve considerá-la em sua próxima pesquisa, dar um pulinho na concessionária e fazer um test drive. Acho injusto que ela ocupe, entre todas as picapes à venda no Brasil, apenas o 8º lugar nos emplacamentos referentes ao ano de 2019 – é a 3ª entre os modelos de porte pequeno/médio, atrás (longe…) de Fiat Strada e VW Saveiro.
O que justifica as fracas vendas da Oroch? Existir apenas em versão cabine dupla e não mudar suas formas praticamente nada desde que foi lançada em 2015? Isto não me parece suficiente, ainda mais tendo em vista que a Renault tem uma bem-pulverizada rede de concessionárias e modelos como Kwid, Sandero e até mesmo o furgão Master estão sendo bem avaliados e, por consequência, vendem bem.
Seja lá como for esste 30 dias com a Oroch foram prazerosos e, como assinalado nas semanas anteriores, a picape tirou de letra a tarefa de levar uma família em viagem de férias, o fez com competência. Na ocasião sua caçamba e cabine foram usadas ao extremo e passaram pelo crivo de exigentes senhoras, jovens ou nem tanto. Isso, acreditem, é bastante relevante.
Na volta da viagem o uso urbano também fez ver boas qualidades na Oroch, nada exagerada em dimensões externas e dona de um rodar confortável, que praticamente nos faz esquecer estarmos ao volante de um veículo que, caso seja necessário, pode transportar quase meia tonelada em sua bem desenhada caçamba (carga útil é de 680 kg), convenientemente protegida por forro plástico (resistente) em piso e laterais, coberta por caprichada capota marítima (que nome!) e dotada de ganchos sem miséria.
Pontos fracos da Oroch? À parte a rasa atualização estética desde o lançamento, um capricho maior nos materiais de acabamento interno seria bem-vindo, assim como uma dose extra de tecnologia: dotá-la de controle de tração se revelou essencial, assim como mais equipamentos de segurança (bolsas infláveis além das duas de lei, ESP e etc). Tais ausências/carências escancaram tanto o projeto não ser tão recente como a vontade de manter seu preço em nível abordável, todavia qualificar um produto com potencial é algo que deveria ser considerado.
De início manifestei críticas quanto ao desempenho/consumo, mas depois raciocinei, e levando em consideração aspectos relativos à aerodinâmica “tijolo” e estabeleci um meio-termo, sem pedradas nem louvores: o 1,6 litro de 120 cv supre a necessidade dinâmica no limite, não é campeão nem em desempenho nem em economia, mas move a Oroch decentemente. Haver uma versão diesel para os que a usariam para trabalho seria maravilhoso, idem a opção 4×4.
Como usual, na semana derradeira do Teste de 30 Dias levei a Oroch para ser analisada por Alberto Trivellato, da oficina paulistana Suspentécnica. Em seu breve roteiro no qual testa carros dos clientes, pleno de imperfeições na pavimentação, chamou a atenção do profissional o bom conforto de rodagem da Oroch, fruto do ajuste preciso de carga de amortecedores e molas – além da boa escolha de rodas/pneus. Como lembrou Alberto, a suspensão traseira assim como a dianteira segue o esquema McPherson, detalhe técnico que favorece um comportamento mais preciso na “leitura” do piso.
Os comandos da Oroch não mereceram nenhuma observação relevante, mas a resposta ao acelerador fez o colaborador considerar que a cavalaria do 1,6 litro talvez seja justa demais para um uso “carga total” constante, ou seja, uso pesado mesmo, em trabalho. E deste comentário veio, a reboque, minha consideração sobre a facilidade com que os pneus dianteiros perdem a aderência. E daí se seguiu um questionamento sobre a não aplicação da eletrônica em favor desta (má) característica ou mesmo da adoção da tração integral: um controle de tração na Oroch é necessidade, não luxo. Já a transmissão 4×4 seria para quem efetivamente precisa transpor terrenos ruins de verdade.
De volta à oficina, olhos apontados para as entranhas da Oroch denotam, segundo nosso colaborador, simplicidade nas soluções técnicas, o que não depõe contra a Oroch, pelo contrário. Segundo Alberto, o que se vê já foi visto, e equipa Logan, Sandero, Captur e esta Oroch, todos veículos “filhos” de um mesmo projeto da romena Dacia, o braço da Renault no leste europeu desde 1999. Algum problema nisso? Nenhum, segundo ele. Tudo foi feito pensando em não dar problema, ser fácil de consertar e custar pouco.
Alberto mostra que o Duster Oroch está prontinho para receber a tração integral: o espaço necessário para a passagem de um cardã fica evidente ao olhar o tanque de combustível. Outra evidência diz respeito à fixação do quadro de suspensão dianteiro e traseiro, que tem espaçadores que fazem com que a altura da carroceria em relação ao solo permita o “trabalho” das suspensões, leia-se curso mais amplo face aos parentes mais urbanos Logan e Sandero.
O destaque final dado por Alberto diz respeito à funcionalidade derivada de opções simples, mas testadas. A Oroch não chama a atenção por soluções técnicas sofisticadas – suspensão traseira à parte – mas sim pelo lado racional que suas entranhas exalam. Como a Fiat Strada e VW Saveiro a Oroch, é uma picape que deriva de automóveis, mas que tem uma configuração construtiva mais parruda, que nos lembra sua origem: encarar as estradas ruins do leste europeu, uma manutenção espaçada e eventualmente aproximativa e, assim mesmo, entregar competência.
Muitos leitores se manifestaram em favor da versão mais simples da Oroch, a Express, e tem razão: leva se para casa um carro que custará cerca de 17,5 mil reais a menos (!!!) que esta versão do teste, mas que na essência é o mesmo carro. Imagine só… Para quem não faz questão de luxo (e, convenhamos, o “luxo” desta versão Dynamique é bem simplinho), a Oroch Express por R$ 66.550 é um belo negócio.
A Renault do Brasil deveria dedicar algo mais de atenção à Duster Oroch, que merece ser renovada sem, no entanto, perder essa qualidade que todo carro dedicado ao trabalho precisa ter de monte: simplicidade. “Trabalhar” melhor o carro, usando ferramentas de marketing que valorizem o lado rústico, atualizá-lo tecnicamente sem revolucioná-lo, vender no Brasil a Oroch 4×4 e desovar mais versões (cabine simples?) seria um passo em direção às boas vendas que esta picape, pelas qualidades demonstradas neste Teste de 30 Dias, merece alcançar.
Assista ao vídeo:
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana 3ª semana
Renault Duster Oroch Dynamique 1,6 16v SCe – 4ª semana
Dias: 30
Quilometragem total: 1.250 km
Distância na cidade: 513 km (41%)
Distância na estrada: 737 km (59%)
Consumo médio: 7,1 km/l (45% álcool – 55% gasolina)
Melhor média (álcool): 9,2 km/l (rodovia)/5,4 km/l (cidade)
Pior média (álcool): 8,4 km/l (rodovia)/4,4 km/l (cidade)
Melhor média (gasolina): 12,0 km/l (rodovia)/7,1 km/l (cidade)
Pior média (gasolina): 10,7 km/l (rodovia)/5,6 km/l (cidade)
Velocidade média: 26 km/h
Tempo ao volante: 48h48min
Litros consumidos: 173,9 (96,0 gasolina – 77,9 álcool)
Preço médio litro: R$ 3,97
Custo: 690,31
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,55
RENAULT DUSTER OROCH DYNAMIQUE 1,6-L | |
MOTOR | |
Designação | Renault SCe 1,6-l |
Descrição | 4 tempos, 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variador da fase na admissão, atuação indireta sem compensação hidráulica de folga, quatro válvulas por cilindro, bloco e cabeçote de alumínio, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Diâmetro e curso (mm) | 78 x 83,6 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,2/4.000 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas à frente mais ré, tração dianteira |
Relações de marchas (:1) | 1ª 3,73; 2ª 2,05; 3ª 1,32; 4ª 0,94; 5ª 0,76; ré 3.55 |
Relação de diferencial (:1) | 4,93 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, McPherson, dois braços inferiores paralelos, um braço longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira, assistência elétro-hidráulica indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,4 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/280 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 215/65R16T |
CARROCERIA | Picape cabine dupla, monobloco em aço, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 683 |
Tanque de combustível | 50 |
PESO (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.296 |
Carga útil | 680 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.693 |
Largura sem espelhos | 1.821 |
Altura | 1.695 |
Distância entre eixos | 2.829 |
Distância mínima do solo | 206 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 14/12,5 s |
Velocidade máxima (km/h | 161 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,1/7,6 |
Estrada (km/l, G/A) | 11,2/7,7 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.580 |
Rotação à vel. máxima em 4ª (rpm) | 4.940 |