Recentemente em meu ultimo texto sobre os motores MWM a álcool, reacendeu-se a polêmica do por quê aqui no AUTOentusiastas chamamos o “etanol” simplesmente de álcool, com leitores apoiando tal iniciativa e outros, criticando, sob o argumento (argumento correto, diga-se de passagem) que quimicamente, abastecemos o nossos carros com “etanol”.
O assunto teria caído no esquecimento se eu, ao mexer em minha coleção de manuais de proprietário, não tivesse me deparado com um folheto de propaganda justamente da campanha “Etanol Verde: o combustível ‘completão’ “. E ai, a ideia de um novo texto.
Desde o início do Proálcool Programa Nacional do Álcool), em novembro de 1975, até à primeira década do ano 2000, o combustível vegetal produzido a partir da cana-de-açúcar é o álcool etílico hidratado combustível, chamado simples e abreviadamente de álcool pelos brasileiros. Governos faziam suas legislações chamando o carro e o combustível simplesmente de álcool combustível e mesmo no documento dos automóveis, o combustível é álcool.
Muitos ainda sem lembram do mote “Carro a álcool. Você ainda vai ter um.”
Com isso, o que até então era chamado de álcool combustível no Brasil, por usos e costumes, consistiu na especificação do etanol hidratado, contendo 92,5 a 93,8% de teor de alcoólico em porcentagem de massa e até 5% de água em porcentual massa (pelo menos em tese…). Sem esquecer o 0,5% da gasolina para descaracterizá-lo como bebida ao lhe dar gosto intragável.
Essa questão dos usos e costumes é tão séria que as palavras e siglas ligadas ao setor referem-se ao álcool. Sindicato da Indústria do Açúcar e Álcool, Instituto do Açúcar e do Álcool, setor e produção sucroalcooleira (não existe setor “sucroetanoleiro”).
No final de 2009 começa um movimento de chamar o álcool combustível de “etanol”, uma iniciativa da Unica – União da Indústria da Cana de Açúcar do Estado de São Paulo, junto à ANP, tentando, talvez. comoditizar o produto. Em 2012 a entidade criou a campanha “Etanol, o combustível completão”, cujo objetivo era mostrar ao consumidor que o álcool era a alternativa mais sustentável, que gerava empregos no Brasil e era, do ponto de vista ambiental, a mais sustentável, ressaltando sempre que a produção do álcool via cana-de-açúcar era (e é) bastante superior em termos de rendimento, ao álcool de beterraba e milho, empregado em outros países.
Peças publicitárias, trailers de cinema, ações em postos de combustível foram realizadas justamente para chamar a atenção do consumidor das “vantagens” de se abastecer com o combustível vegetal. E com isso, o nome álcool foi sendo dia a dia sepultado na bomba em favor do “etanol”.
Nesta época, mesmo no estado de São Paulo, o álcool sofreu um grande aumento de preços, chegando a custar mais de 70% do preço da gasolina em momentos de entressafra, e corroborando para a crise no setor, o governo Dilma Rousseff segurou artificialmente o preço da gasolina, o que economicamente falando, ajudou a aumentar ainda mais a crise no setor.
A frota de veículos flexíveis, de um lado, se dá ao consumidor a chance de escolher o combustível que lhe convém, por outro criou um padrão de consumo onde o álcool sempre custará cerca de 70% do valor da gasolina, uma vez que a relação média de ser indiferente o que realmente interessa, o custo para rodar (centavos de real por quilômetro), é de 70%.
Já em 2005, com o inicio da popularização do motor flexível, o IEA – Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo já alertava para essa relação de preços, que na época era bem diferente (por vezes, o álcool custou 50% do valor da gasolina).
Tendo em vista tudo o que foi explanado acima, aqui no AE chamamos o combustível vegetal simplesmente de “álcool”, uma vez que o consumidor já tem em mente o tipo do álcool brasileiro tanto para abastecer veículos quanto para limpeza, só variando a graduação alcoólica entre eles, o de limpeza, por lei, 46,2º INPM — álcool fraco, para proteger crianças arteiras — mais a ausência de outros tipos de álcool combustível no mercado.
Nos Estados Unidos onde o metanol é comum e há experiências com o emprego de butanol como combustível, nada mais natural você discriminar os tipos de álcool comercializados, por lá mas aqui no Brasil, o rigor da nomenclatura chega a ser preciosismo.
O engraçado é que os mesmos (geralmente da imprensa) que ressaltam tanto o “etanol” em vez invés de usar simplesmente o termo “álcool”, são os mesmos que falam em “1.600 cilindradas”, e “montadora” no lugar de fabricante, parecendo desconhecer o significado do acrônimo Anfavea.
Nas imagens extraídas do Google Street View dos meses de fevereiro de 2010 e fevereiro de 2011, observe as faixas anunciando o preço do combustível. São imagens do mesmo posto de combustível situado na Rua Alvilândia, Vila Madalena, em São Paulo, a duas quadras da casa de meus pais.
DA