Acho que foi há cerca de duas semanas que eu estava vendo televisão e vi uma reportagem dizendo que policiais rodoviários federais passarão a fazer cursos de direção defensiva obrigatoriamente em intervalos regulares. O problema é que não sei se sonhei ou se isso aconteceu realmente, pois não consegui encontrar em nenhum lugar essa informação.
É comum eu manter a televisão ligada enquanto faço outras coisas. Na verdade, é comum eu fazer outras coisas enquanto vejo televisão. Posso estar trabalhando e escrevendo textos como este, arrumando papéis, cozinhando ou fazendo crochê ou tricô. Mas nunca vejo televisão apenas. Daí minha confusão agora com esta notícia.
O que vi, ou sonhei, era que todos os agentes públicos envolvidos diretamente no trânsito fariam cursos de direção defensiva regularmente e não mais apenas algo extremamente curto e superficial no início da convocação, como seria até agora. Bom, se isto não se confirmar — pois não encontrei absolutamente nada sobre este assunto na internet nem nos sites de notícias — será uma pena. Acredito que seja fundamental que pessoas que têm até mesmo o dever de perseguir outras pelas ruas e estradas tenham que saber como fazer isso dentro de parâmetros de segurança. Para eles mesmos e para os outros que não têm nada a ver com o furdúncio.
Quantas vezes já vimos perseguições que terminaram em verdadeiros desastres pela falta de perícia da polícia? E aqui não me refiro apenas ao Brasil, mas a muitos outros países. É claro que há operações extremamente bem executadas tanto cá como alhures, mas justamente por não serem todas assim é que acho que curso de direção defensiva, de verdade, deveria ser obrigatório e refeito periodicamente pelos agentes da lei.
É óbvio que qualquer motorista se beneficia de um curso bem feito deste tipo — e fiquei estarrecida ao encontrar na internet cursos de direção defensiva online. Peraí, como assim? Esse é o tipo de habilidade que tem de ser ensinada, treinada e testada ao vivo e em cores. Por mais adepta que eu seja da tecnologia, tem coisas que não fazem sentido. Pareceu-me mais uma coisa lançada apenas para cumprir com um requerimento burocrático, tipo obter um diploma para que algum fiscal o verifique.
Conheço uma pessoa extremamente inteligente e que sabe tudo sobre dirigir carros na teoria, mas nunca sentou atrás de um volante — para desespero da esposa, que ainda tem de ouvir os conselhos dele sobre como ela está dirigindo. Algo entre engraçado e surreal, diria.
Na teoria, alguém com esses conhecimentos teóricos poderia sair dirigindo num dia sem nenhuma ocorrência. Mas é algo que já digo acho ser impossível. Eu mesma nunca consegui andar muito mais do que um quilômetro sem ter de mostrar alguma habilidade para evitar um choque de um motorista que mudou de faixa sem olhar, alguém que freou sem ter luzes de freio que indicassem isso para quem vinha atrás ou outros tantos exemplos. Refiro-me (eis a primeira ênclise do dia) a manobras bobas mas que evitam até mesmo um esbarrão num motociclista ou um risquinho no carro. Imaginem, caros leitores, colocar alguém que só sabe direção defensiva na teoria perseguindo bandidos que, obviamente, não ligam a mínima para normas de trânsito e geralmente tampouco se incomodam em bater ou riscar o carro. Não vejo a menor chance de isso dar certo.
Na reportagem que vi ou sonhei, mostravam-se policiais treinando em pistas com obstáculos, fazendo manobras rápidas de retorno em “U” e verdadeiros slaloms que é como são as ruas e estradas do mundo real, com carros, árvores, barreiras e todo tipo de objeto do qual deve-se desviar. Certamente devem ser ensinados outros princípios, como emboscar um carro corretamente numa perseguição, como desviar de eventuais objetos atirados pelo bandido e outras coisas. Acho até que princípios da Física são fundamentais para ensinar a deixar o carro derrapar quando necessário ou como evitar uma capotagem.
Confesso que sempre quis fazer um curso de direção defensiva, mas, falha no meu curriculum, nunca fiz. Tenho muitos conhecimentos sobre como dirigir, inclusive questões técnicas e sempre tento antecipar o que os outros motoristas vão fazer. Mas, de fato, nunca fiz um curso desses. Colocarei na minha lista de objetivos para 2020-2021. Quem sabe consigo fazer isso antes de retomar à academia pela enésima vez para deixar de lado mais uma vez? Acho que direção defensiva tem mais chances, pois com o fim das minhas aulas de fisioterapia até parei com a bicicleta ergométrica para desespero do querido Alê, meu fiel fisioterapeuta. De fato, o joelho que voltou dos Bálcãs meio avariado melhorou muito, mas eu havia prometido a mim mesma que aproveitaria o embalo para prosseguir com as atividades físicas.
E no entanto cá estou, sentada na frente do computador sem ter dado uma única pedalada após o término das sessões. O Alê chegou a me mandar mensagens dizendo “estou indo para nossa sessão”, pois o combinado era que eu faria meia hora de bicicleta antes e usaríamos a sessão inteira para outros exercícios, laser, choquinhos, etc. Mas mesmo as mensagens fêiquis não funcionaram. Eu sabia que ele não estava a caminho coisa nenhuma e não ia para a bicicleta. Precisaríamos ter combinado melhor a história ou eu ter me condicionado melhor para associar obrigatoriamente a mensagem dele com o início dos exercícios. Bom, algo para ser melhor trabalhado ou para que eu melhore minha natural indisciplina.
Um dos princípios da direção defensiva é antecipar as manobras que os outros motoristas/motociclistas/ciclistas/pedestres podem fazer (foto de abertura). Ou seja, prevenir e evitar. Parece básico e óbvio, e é, mas poucos parecem entender a importância disso. Se você não pode evitar que o outro faça uma besteira no trânsito pode, ao menos, sair ileso dela. E, por princípio, eu sempre acho que alguém que não eu vai fazer besteira. Algo assim como quando era pequena e meu pai comentava as manobras ao dirigir. Lembro que sempre me disse que ao passar perto de um ciclista ou motociclista eu deveria supor que ele VAI cair. Por isso, deveria deixar uma certa distância para que quando (não “se”) isso acontecesse, não houvesse nada mais grave ou pelo menos ou não estivesse envolvida. Até hoje faço isso na medida do possível e tenho ataques de caspa quando eles passam muito perto do meu carro sem que eu possa evitar.
Acredito que cursos de direção defensiva seriam extremamente úteis para todos. No caso dos motociclistas acho fundamental, mas sendo realista num universo em que as pessoas saem por aí atrás do volante ou guidão sem sequer ter habilitação para tanto, sei que é ilusão da minha parte achar que fariam voluntariamente cursos de direção defensiva. Mas, vá lá, como dizia aquele filme que todo final de ano passa na Sessão da Tarde, “de ilusão também se vive”.
Mudando de assunto: meu marido me mostrou um vídeo sensacional, que repasso aqui. Aliás, embora eu não beba cerveja (todos que me conhecem sabem disso) tiro o chapéu para as campanhas da Heineken estreladas por Nico Rosberg. Acho simpáticas, responsáveis e muito bem feitas — especialmente porque subvertem a lógica de que uma empresa de bebidas faria campanhas para que as pessoas não bebam. De quebra, aproveitei para ver o sempre simpático Keke Rosberg. Vale a pena:
NG