Sei perfeitamente que nossas cidades e estradas têm enormes problemas de buracos, sinalização, manutenção… Se começar a enumerar aqui usarei provavelmente todo o espaço da minha coluna apenas para fazer a lista — e se começar a dar exemplos será maior ainda. Precisaria de vários dias para isso.
Mas há diversas soluções boas que tem sido perdidas por aí justamente por falta de manutenção. Coisas simples que ajudam a organizar o trânsito e facilitam a fluidez, mas que por falta de cuidados mínimos deixam de executar as funções para as quais foram implementadas.
Uma delas da qual recentemente fui vítima involuntária é a colocação de “postinhos” entre as faixas de rolamento para evitar a mudança de faixa e obrigar o trânsito a se manter numa determinada via.
Perto de casa há um cruzamento pelo qual passo várias vezes por semana (bem, passava, antes do confinamento provocado pelo coronavírus) que foi extremamente mal planejado. Assim como acontece em vários outros pontos da cidade, carros vindo de vários lugares têm de atravessar pistas para ir para outras ruas ou avenidas. Sempre acho que estes cruzamentos poderiam ter sido melhor desenhados – e este não é o único.
Como nas alças de acesso a determinadas pontes nas marginais aqui em São Paulo, em que quem vai entrar o faz bem na frente de quem vai sair. O bom senso e o que vemos em outros países (e aqui em alguns casos) diz que se faz ao contrário: primeiro saem os carros da pista e, mais adiante, entram os outros.
Aqui é comum atravancarmos pistas com uma enxurrada de veículos numa via expressa ou mesmo em rodovias para, metros depois, termos a saída da pista. Não precisa ser um gênio da Geometria nem da Física para ver que não tem como isso dar certo, não?
Temos no Brasil, a olhos vistos, um excesso de péssimo planejamento. OK, entendo que alguns acessos foram acrescentados depois de certas vias já instaladas, mas qual é a necessidade de se fazer tantos cruzamentos?
Há poucos dias implementaram uma solução que era óbvia num acesso da marginal do Pinheiros para a ponte Eusébio Matoso. Antes a saída da pista em direção à marginal era pela rua Henrique da Cunha, pouquíssimos metros depois de uma entrada de veículos que vinham da Av. Afrânio Peixoto. Aí, quem queria atravessar a ponte tinha de fazer um xis com quem queria sair da Eusébio Matoso antes dessa mesma ponte. Era sempre um horror, pois a ponte estava logo ali e não havia espaço para que, como o princípio da impenetrabilidade já descrito por Isaac Newton já dizia, dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Agora, depois de trocentos anos de confusão, batidas e quase-batidas, fizeram o óbvio. Quem sai à direita da Eusébio Matoso para entrar na marginal o faz alguns metros antes, virando na rua Bento Frias que, diga-se de passagem, já existia. Não foi necessário executar nenhuma obra viária, derrubar nada. Apenas passar a mão da rua para dupla, sinalizar e pronto. E quem sai da marginal tem de usar a rua Pero Leão (fotos abaixo e de abertura). Quem passa lá com frequência, como eu, já percebeu a melhoria na fluidez do trânsito. Algo simples, óbvio e eficiente.
Mas teve jornal que destacou que agora em vez de o motorista percorrer 180 metros terá de andar “o dobro”. Sim, caros leitores, absurdos 400 metros e sim, este comentário contém muita, muita ironia. Só quem nunca passou por esse entroncamento de carro acharia que andar 200 metros a mais, de carro, seria algum problema. Olha, é cada uma que vejo que meus colegas de profissão escrevem que desanimo muito, o tempo todo.
No caso dos “postinhos”, eles estão colocados em diversos pontos por uma questão banal e até vergonhosa: motoristas não respeitam a sinalização e trocam de pista mesmo quando há uma clara linha continua que proíbe a a manobra. Ouso dizer que muita gente que sai por aí atrás de um volante nem sabe disso e muitos outros nem olham para a sinalização horizontal. Triste. Tristíssimo, aliás. Não consigo fazer uma foto deles, pois teria de ir acompanhada para fotografar enquanto dirijo, mas são semelhantes a estes, instalados na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, SP:
Já comentei neste espaço que vi em outros países como essa sinalização, quando respeitada, ajuda muito a organizar o trânsito e a prevenir acidentes. Uma das várias vezes que comentei isso foi quando estive na África do Sul. É algo extremamente simples que evita, por exemplo, que quem acessa uma rodovia vindo numa velocidade inferior entre na frente de alguém que já está mais rápido. E vice-versa.
No Brasil, infelizmente, sinalização é seguidamente desrespeitada. No trecho sobre o qual vou escrever agora há várias placas dizendo “proibido mudar de faixa”. A marcação nas pistas é bastante razoável, inclusive com setas que indicam quais pistas são para seguir em frente, quais para conversão à direita e quais para conversão à esquerda. Ainda, está demarcada linha continua ou tracejada, dependendo do lugar. E, no entanto, antes dos “postinhos” era comum que carros cruzassem na frente ou espremessem quem vinha da direita que, aliás, nem tem para onde ir pois nem acostamento há no local.
Mas esses postinhos tiveram vida curta. Muitos deles já foram totalmente arrancados, alguns estão tombados e acontecem as duas coisas e acabou ficando uma fileira longuíssima muito banguela. Recentemente, acabei passando entre eles justamente numa parte onde faltam muitos para dar de cara e bater de leve numa segunda leva destes postinhos. Passei exatamente num trecho longo onde não há mais nenhum e a pintura de solo aparece com falhas justamente por causa das bases dos postinhos, que ainda estão lá e dão a impressão de faixa tracejada.
Felizmente, eles são bem macios e não danificaram meu carro, mas me deram um susto e involuntariamente me fizeram mudar de faixa onde não deveria ter feito isso — algo terrível para minha personalidade com Transtorno Obsessivo Compulsivo por fazer o que é certo.
Os postinhos são práticos? Sim, quando o motorista é sem educação e não respeita a sinalização, mas precisam de manutenção, pois a falta de tantos acaba criando uma confusão ainda maior, pois é muito difícil enxergar adiante e perceber se eles continuam depois da falha ou não, já que a pista é sinuosa.
Aliás, como quase tudo no trânsito: mesmo as boas ideias podem ter seus efeitos diluídos por falta de manutenção. E, às vezes, prejudicar motoristas e veículos ou mesmo provocar acidentes.
Mudando de assunto: senti falta da primeira corrida de Fórmula 1 do ano, mas embora tenha algumas teorias sobre o surgimento deste vírus, tenho seguido rigorosamente o isolamento pedido. Na verdade, sempre gostei de ficar em casa e sou meio eremita, mas agora tenho obrigação de sê-lo. Mas aí me aconteceu algo pelo qual não esperava: percebi que este quadro (veja abaixo) que está na minha casa estava pendurado de cabeça para baixo. As glicínias em vez de cair, “subiam”.
No sábado passado meu marido, que também está de romiófici, trocou os ganchinhos que o sustentavam e agora está corretamente colocado, como notarão meus leitores mais atentos. Como havia 10 anos que eu o mandara emoldurar e foi entregue com os ganchinhos colocados erradamente e eu apenas percebi isso recentemente, tenho algumas ideias do que pode ter acontecido:
- Não tenho TOC. Apenas algumas manias de arrumação, estética, harmonia e limpeza
- Estou ficando totalmente cegueta
- Não entendo patavina de arte
- Todas as anteriores
Respostas para a redação.
NG