Esta matéria, escrita por Pedro Junceiro, do site português Motor24, nos foi enviada pelo leitor Fernando Glufke. Julguei ser interessante compartilhá-la com o leitor ou leitora do AE por se tratar da opinião de Carlos Tavares (foto), executivo-chefe da PSA, um dos principais grupos da indústria automobilística do mundo, fabricante das marcas Peugeot, Citroën. DS Automobiles e Opel, sobre o futuro próximo da indústria automobilísticas e os problemas enfrentados e por enfrentar. Muito do que Carlos Tavares diz está em sintonia com a opinião do AE
O texto resultou de entrevista do presidente-executivo à revista do Automóvel Clube de Portugal e está publicado na íntegra, inclusive respeitando a ortografia original. Os grifos são do AE.
Boa leitura!
Bob Sharp
Editor-chefe
Carlos Tavares (PSA): Indústria automóvel vai sofrer “transformação profunda entre 2020 e 2030”
Líder de um dos maiores e mais importantes grupos automóveis do mundo, Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA, considera que a crise provocada pelo novo coronavírus vem dificultar ainda mais a tarefa dos construtores automóveis num contexto de enormes investimentos para acelerar a eletrificação.
Em entrevista à revista do ACP, o português, grande defensor da liberdade pessoal e das potencialidades do automóvel nesse âmbito, explica que toda a situação causada pela pandemia de Covid-19 terá graves consequências sociais e económicas, pedindo assim uma atuação rápida e atenta para a saída do momento de crise sanitária que se vive atualmente.
“O desafio da mobilidade zero emissões, os investimentos astronómicos que estão a ser feitos em termos do desenvolvimento de veículos autónomos e de conectividade e, portanto, esta crise sanitária e a crise económica vêm abalar ainda mais uma indústria que já estava fragilizada pelas decisões que foram tomadas pelos Estados e pelas pessoas que têm a seu cargo as novas regulamentações”, aponta Tavares, argumentando ainda que a indústria automóvel “está a atravessar um período muito difícil e é muito provável que entre 2020 e 2030 se assista a uma transformação profunda”. Augura mesmo que, em 2030, “seja uma indústria que não tenha a nada a ver com o que existe agora”. Nesse sentido, admite que investimentos essenciais como os da eletrificação e dos veículos autónomos poderão ter ser repensados ou mesmo adiados.
“Essa é uma questão essencial que deverá ser posta logo que a dimensão sanitária desta crise esteja ultrapassada. (…) Neste momento a única prioridade é a saúde de todos. No entanto, acho que os líderes políticos e económicos têm de se preocupar já com o que vai acontecer depois da crise sanitária porque não vai haver tempo nem distância entre a crise sanitária e a crise económica”, afiança, reforçando aquele que é um dos seus pontos de vista mais defendidos nos últimos anos: a liberdade de movimentos das pessoas é fundamental e está em risco pelas regulamentações impostas nos últimos anos ao setor automóvel.
“Toda a gente está atualmente a medir o valor extraordinário que representa a liberdade de movimentos e talvez até esta crise sanitária esteja a abrir os olhos de muitos cidadãos e de muitos responsáveis políticos sobre o verdadeiro valor da liberdade de movimentos. Essa liberdade de movimentos é oferecida aos cidadãos através de um objeto que se chama automóvel”, no qual as marcas terão de investir fortemente para desenvolver novas tecnologias que vão ao encontro das expectativas dos cidadãos.
“A questão do financiamento do desenvolvimento dessas tecnologias vai estar em cima da mesa desde que se constate que os construtores automóveis estão muito débeis em termos financeiros”.
Porém, acredita que esta crise e a restrição de movimentos associada terão o condão de “demonstrar de maneira exemplar o papel que o automóvel nos oferece na nossa vida quotidiana. Ou seja: um meio de transporte seguro, um meio de transporte que protege a nossa saúde, um meio de transporte que pode vir a ser zero emissões de maneira generalizada e, de certa maneira, um meio de transporte que nos dá a liberdade de movimentos a que todos aspiramos”. Em contraponto, antevê uma perda de rendimentos dos consumidores, naquele que será um desafio para a própria sociedade.
De resto, o CEO do grupo que detém as marcas Peugeot, Citroën, DS Automobiles e Opel garante que não vê necessidade de uma moratória das regras do CAFE (Clean Air For Europe – programa da UE para baixar as emissões médias dos carros vendidos na Europa, porque “está a responder de maneira até mais rigorosa do que é pedido pela União Europeia.”
AE