Em tempos de pandemia não podemos, nós que temos o privilégio de nos comunicarmos pela mídia, deixar de falar do assunto, mesmo como leigos neste quesito.
No nosso calamitoso quadro de acidente de trânsito fatais, temos o nosso “vírus”, sendo que o seu grupo de risco, em sua maioria, o ignora.
E, qual é este grupo de risco? Todos nós motoristas, devido a diversos fatores a serem analisados.
Em primeiro lugar, este “vírus”, a “velocidade imprópria” para as condições provocadoras dos acidentes os torna fatais e é necessário que as autoridades, a quem cabe minorar o seu efeito, tomem as providências para, se não eliminar, amenizar o seu efeito.
Note-se que não é a velocidade excessiva que provoca o acidente. Ele acontece em função de diversos defeitos ou deficiências das vias rodoviárias para as quais o condutor não tem tempo em face — repito — da velocidade imprópria para enfrentá-los. Isso piora os efeitos desta deficiência, dependendo das circunstâncias tornando-os fatais.
Infelizmente as estatísticas comprovam o que afirmo. Eu e os mestres consagrados, a quem sempre consulto; meus livros, cuja abrangência do assunto trânsito talvez seja a única existente na nossa pátria e que consta de meu testamento como herança a ser enviada à CET de São Paulo, cuja fundação ajudei a fazê-la com meu saudoso amigo Roberto Scaringella.
Vamos, pois, continuar a comentar a publicação inglesa, do Her Majesty Stationery Ofiice, “How Fast” (Quão Rápido), na sua parte rodoviária.
Como no caso do estabelecimento dos limites de velocidade urbana, foi realizado exaustivo estudo das pesquisas práticas, examinando os resultados dos dados colhidos de acidentes e das velocidades, apenas com registro por radar, praticadas nas rodovias pelos seus usuários, a fim de seguir.um critério técnico.
Findo o período desta exaustiva pesquisa, obtiveram, como ocorreu na limitação urbana, duas velocidades-limites: 100 km/h e 120 km/h.Utilizaram dois nomes curiosos para os dois limites: blanket e taylor made, ou seja, “cobrir toda a extensão” e “sob medida’.
A primeira abrangendo um limite único para toda a rodovia e, a segunda, tendo trechos com limitação.Estabeleceram que a velocidade maior seria para as rodovias, de sentido único e, o menor para as de duplo sentido.Estabeleceram também, desprezando aos limites sinalizados, um indicativo de velocidade máxima para caminhões, sempre inferior ao permitido,de acordo com sua capacidade de carga indicada junto à sua placa de licença.
Convém aqui registrar que esta publicação é de 1967 e que as rodovias britânicas não são tão espetaculares como as alemãs, por exemplo, onde conseguiram eliminar o “blanket” ou o “taylor made”, nas autobahnen da Bavária, por exemplo.
É também verdade que todas as informações deste folheto, para discussão ampla do assunto, são por enquanto provisórias, sujeitas às obras de aprimoramento ou ao aumento das deficiências, atendendo ao contínuo controle estatístico da sua circulação rodoviária.
É bom lembrar que aqui no nosso Brasil, onde não creio sejam os limites de velocidade estabelecidos conforme o resultado de pesquisas, no governo Geisel, por ocasião da crise mundial de petróleo iniciada em 1973, foi estabelecido em toda a malha rodoviária nacional o limite de 80 km/h a fim de economizar combustível. Como resultado paralelo, conseguiu-se uma significativa queda de acidentes fatais. Ficou implicitamente demonstrado quão deficientes eram as nossas rodovias. Aliás, no final da década de 1970, ao viajar no meu carro, um Dodge Charger, que reunia conforto, segurança e excelente desempenho, ao entrarmos no trecho da Via Dutra já no Estado de São Paulo, onde normalmente ao conservação é impecável, perguntei ao meu companheiro de viagem, o maior empresário de sinalização gráfica horizontal da Alemanha , com a sua empresa Yoshu,com faturamento anual de quase 30 milhões de dólares, como ele classificaria, pelos critérios de sua terra, a rodovia em trafegávamos. A resposta dele de que a classificaria de terceira ou quarta categoria fez-me viajar calado até a capital São Paulo.
Esta publicação, aqui servindo de base aos meus comentários tem a sua responsabilidade avalizada pela Divisão de Engenharia de Tráfego do Ministério dos Transportes britânico, e lá, na Velha Albion, aberta aos comentários e sugestões de quem quer que deseje fazê-lo.
Em tempo: não saiam de casa, mas não esqueçam de, periodicamente, ligar o motor de seus carros a fim evitar a descarga da bateria.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente no AE sobre questões de trânsito.