O trânsito atua em dois elementos, que compõem o meio ambiente urbano:o ruído e a qualidade do ar.
Na Holanda, onde residi por dois anos (1958/60) e dei os primeiros passos para conhecer a “ciência do controle do trânsito”, havia absoluto respeito ao silêncio, inclusive a inteligente exigência da lei sobre o ato de buzinar: “Só buzine se não puder usar o freio”, o que é, sem dúvida, a base da prática da direção defensiva.
Quando assumi o Detran-GB, em 1967, iniciei proibindo o uso das buzinas musicais, que proliferavam, nos carros de passeio. Mais tarde, pesquisando, chegamos à conclusão de que o uso abusivo da prática de buzinar, pelos motoristas de ônibus, atuavam como verdadeira “caixa de ressonância”, no trânsito do Estado.Em entendimento com os proprietários das empresas, mandei, contrariando a lei, desligar as buzinas deste tipo de veículo. Foi um sucesso, não só numa condução mais cuidadosa, como no silêncio resultante. Está assim até hoje, mais de meio século de ilegalidade construtiva, com apoio unânime da população,
O outro ponto, mais sério e nocivo, era a presença abusiva do monóxido de carbono (CO) na descarga dos motores do ciclo Otto e de fumaça preta (fuligem) nos motores de ciclo Diesel.
Os do ciclo Diesel, dos ônibus, eram os mais poluentes, até porque o tubo de escapamento de seus motores era direcionado para cima (foto de abertura), junto ao teto, tornando impossível o controle técnico da presença de fuligem em excesso. Mandei baixá-los, como seria o lógico original, desta maneira possibilitando rigorosa fiscalização com equipamento apropriado fabricado pela Bosch chamado de opacímetro, em que a opacidade dos gases é medida e, estando acima de determinado grau, denuncia o excesso de fuligem.
Já os automóveis, a verificação era mediante a introdução de uma sonda, também de fabricação Bosch, no tubo de escapamento para aferir se os gases estavam dentro dos limites regulamentares em monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC) e óxidos de nitrogênio (NOx). Foi inestimável a cooperação dos técnicos desta empresa alemã. Conseguimos, ainda, limitar na bomba injetora (Bosch) a velocidade máxima dos ônibus em 60 km/h.
Hoje não sei se ainda vigoram estas fiscalizações e limitações. Não sei nem me interessam, já dei o meu recado. Agora quero desfrutar do dito latino “otium cum dignitate”.
Limito-me, graças à boa-vontade de Bob Sharp, a dar o meu recado, quinzenalmente, para uma elite de leitores autoentusiastas.
Volto a registrar: não é a toa que, graças ao péssimo ar de São Paulo, o número de óbitos das vítimas da pandemia é o triplo dos do Rio. Os paulistanos que reclamem seus direitos à vida.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente aos sábados sobre questões de trânsito.