Pela primeira vez, em mais de meio século de atividade jornalística, tenho dificuldade em escrever algo atual e útil. Como sempre, após divulgar os fundamentos filosóficos básicos para o equacionamento da mobilidade urbana, que provocou as mais variadas opiniões, a favor ou contra, enfoco algo relevante ocorrido no trânsito.
A atual situação política e esta maldita pandemia excluíram o interesse da mídia em enfocar o que ocorre na epidemia crônica de acidentes de trânsito ou da mobilidade urbana.
Só tive o recurso de apelar para os meus “arquivos implacáveis”, na busca de lhes trazer o conhecimento de algo importante.
Pois bem, encontrei um exemplar da revista Isto É, datada de 19 de abril de 1995, cuja matéria anunciada na capa se intitulava: “NINGUÉM AGUENTA MAIS”, e no seu interior o título era: “TRÂNSITO MUITO LOUCO”. Matéria muito bem enfocada, como sempre sem apontar nenhuma solução utilizável.
Destaco, no entanto um quadro inserido em que noticia as soluções tentadas em diversas cidades do mundo, que merece ser reproduzido, a fim de que os leitores possam avaliar, ao menos no ano 1995, as soluções tentadas que, face à ausência do enfoque filosófico básico, algumas são ridículas, ou melhor, hilariantes.
Ai vão as alternativas adotadas nas grandes cidades, no ano 1995:
Tóquio: Para comprar um carro o motorista deve provar que tem garagem
Hong-Kong: Paga-se pedágio para se circular nas regiões centrais
Cidade do México: Seleção diária de placas pares e ímpares, para trafegar no Centro
Atenas: Restrição de circulação nas áreas onde se situem monumentos antigos.
Londres: Estacionamentos caros no Centro para incentivar o uso de transporte público.
Miami: Autorização para trafegar nas vias expressas somente para o transporte solidário.
São Paulo: Ampliação das avenidas, construção do anel viário, proibição de circulação de caminhões nas marginais em horários de pico.
Rio de Janeiro: Construção de ciclovias
Curitiba: Transporte integrado com o ônibus “ligeirinho”
Salvador: Acordo com as empresas de construção para arcarem com o alargamento das avenidas.
Com a exceção da solução londrina, por possuir o melhor transporte de massa do mundo, as demais demonstram, em alguns casos, ignorância angelical.
Em vista da diversidade de soluções apresentadas, cabe aqui o registro da consideração do escritor inglês G.K. Chesterton: “Não me preocupa os que não enxergam a solução e sim aqueles que não a encontram por não identificarem o problema e suas causas.”
Como estamos indefesos diante da pandemia, causa-me surpresa o elevado número de vítimas na cidade de São Paulo, fruto do descaso no uso de máscaras. Quando por lá trabalhei, era de se notar a disciplina dos paulistanos no trânsito, com os coletivos em fila e a ausência do estacionamento sobre o passeio.
Não entendo o relaxamento no uso das máscaras. Quem sabe se elas passassem a ter o escudo dos clubes de futebol, explorando a paixão clubística, melhorasse o seu percentual de uso?
Não custa nada tentar.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente ao sábados sobre questões de trânsito.