Há 75 anos, em 17 de julho de 1945, nascia o primeiro Jeep civil, o CJ-2A, (foto). Porém, só no começo de 1950 a marca Jeep seria registrada, e em nome da Willys-Overland, uma das três fabricantes que produziu o Jeep. A outras fabricantes eram a Ford Motor Company e a American Bantam Car Company. Qualquer das três poderia reivindicar o direito à marca Jeep, mas foi a Willys-Overland, que logo passou a ser Willys Motors Inc., que teve a visão de futuro que hoje sabemos ter sido brilhante.
O nome Jeep não pertencia a nenhuma, era apenas o nome genérico de um veículo utilitário leve com tração temporária nas quatro rodas destinado ao uso militar que viria a ter papel de extrema relevância na Segunda Guerra Mundial, período que se estendeu de 3 de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945, no qual a Willys-Overland produziu 361.339 Jeeps e a Ford Motor Company, 277.896. A American Bantam Car Company, a primeira a apresentar um protótipo após a licitação do exército dos EUA, era uma indústria relativamente pequena e produziu apenas 2.605 Jeeps. No total foram 641.840 unidades, um número impressionante que mostrou ao mundo o poderio da indústria automobilística americana.
Em 1953 a Willys Motors foi vendida por 60 milhões de dólares para Henry J. Kaiser, da Kaiser Motors Inc, surgindo a Kaiser Jeep Company. A história do Jeep continuaria em 1969 com a venda da Kaiser Jeep para a American Motors Corporation (AMC), Esta, dez anos depois, em 1979. passaria a ser controlada pela então estatal Renault com 17,5% do capital. Mas em 1987 acabou vendida para a Chrysler Corporation, formando-se a Divisão Jeep-Eagle (esta marca da AMC).
Mas a história do Jeep não terminaria aí. Em 1998 a Daimler-Benz adquiriu a Chrysler por 35 bilhões de dólares formando-se a DaimlerChrysler, para em 2007 vender (por 7 bilhões de dólares) tudo que era Chrysler para a americana Cerberus LLC, que formou a Chrysler LLC (LLC é a nossa Ltda). A marca Jeep continuava, agora propriedade da Chrysler.
Porém, em maio de 2009 a Fiat SpA adquiriu 20% do capital da Chrysler LLC, que na crise financeira mundial iniciada com a quebra do Banco Lehman Brothers em outubro de 2007, veio a falir. Nesse redemoinho a Fiat, capitaneada pelo astuto executivo-chefe Sergio Marchionne (1952-2018), com o óbvio apoio do presidente do conselho de administração da Fiat, John Elkann, da família Agnelli,foi aumentando a participação na Chrysler, que sobrevivera com ajuda do governo americano), para finalmente, em 2014, completar o controle total da Chrysler.
Nesse processo fundiram-se as duas fabricantes formando-se a FCA Fiat Chrysler Automobiles. A Jeep, é claro, veio junto, hoje é fabricada até no Brasil na portentosa fábrica da FCA em Goiana, PE, inaugurada há apenas cinco anos, onde são produzidos o Renegade, o Compass e a Fiat Toro.
Portanto, a vida atribulada do Jeep, industrialmente falando, pelo jeito continua nesse diapasão com a definida e iminente fusão meio a meio PSA-FCA, o que mostra que nada pode deter o Jeep — no sentido real e figurado.
O CJ-2A não teve uma vida tão longa: sua produção durou quatro anos e terminou em 1949, com apenas 215.000 unidades produzidas. No entanto, sua importância histórica é significativa e ele acabou dando origem à família CJ (abreviação de civilian jeep – Jeep civil) que seguiu até a década de 1980 e cuja tradição continua viva até hoje no Wrangler e na picape Gladiator.
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O CJ-2A
O CJ-2A se parecia muito com o Jeep pioneiro, o militar Willys MB. No entanto, certas características o distinguiam: a porta traseira que, por sua vez, jogou o estepe para a lateral, os faróis maiores e a grade com sete fendas, duas a menos que no MB. Ele também contava com bocal de reabastecimento externo, além de outros itens não incluídos no antecessor militar. O câmbioT-90 substituiu o T-84 do MB, mas o motor Go-Devil, um 4-cilindros Willys de 2,2 litros, válvulas no bloco, 61 cv de potência bruta e torque bruto de 14,5 m·kgf, foi mantido
Vários recursos do CJ-2A, como o câmbio de três marchas, a caixa de transferência Spicer 18 com reduzida e os eixos flutuantes (Dana 25 na frente e Dana 23-2 atrás) foram encontrados em diversos veículos Jeep nos anos seguintes. Foi o veículo deu origem à linhagem CJ, que teve mais de 1,5 milhão de veículos fabricados entre 1945 e 1985.
Os anúncios da Willys da época divulgavam o modelo como um veículo de trabalho para agricultores e trabalhadores da construção. O CJ-2A podia ser equipado com tomada de força para implementos agrícolas, guincho, removedor de neve e outras ferramentas. Outras opções eram bancos traseiros, espelho retrovisor central, capota de lona, elevador hidráulico traseiro, cortador de grama, limpadores de para-brisa duplos com acionamento a vácuo (sistema comum naquela época), lanternas traseiras duplas, aquecedor, estribos e protetor da colmeia do radiador.
Linhagem CJ
O CJ-2A ainda tem mais um destaque em seu currículo. Ele deu origem à extensa família CJ, veículos off-road compactos, construídos e vendidos por várias gerações sucessivas da Jeep por mais de 40 anos (de 1945 a 1986). Em 1949 foi introduzido o segundo membro da linhagem, o CJ-3A, que passou a ter para-brisa inteiriço e eixo traseiro mais forte, mantendo o motor original de quatro cilindros com comando lateral e válvulas no bloco.
O modelo foi atualizado em 1953, tornando-se o CJ-3B. Um ano depois, começou a ser montado em São Bernardo do Campo, SP pela Willys-Overland do Brasil. Tinha grade frontal e capô mais alto que o antecessor militar para acomodar o novo motor de quatro cilindros Hurricane, da Willys também, de cabeçote em “F” — válvulas de admissão no cabeçote e de escapamento no bloco, como conhecemos aqui no motor Bf-161/Bf-184 seis-cilindros do Aero-Willys. O CJ-3B permaneceu em produção até 1968 e um total de 155.494 unidades foram fabricadas nos Estados Unidos.
Com a venda da Willys-Overland para Henry J. Kaiser em 1953, a Kaiser Jeep iniciou um extenso programa de pesquisa e desenvolvimento que ampliaria a gama de produtos Jeep. Dois anos depois, a fabricante lançou o CJ-5, baseado no M-38A1 de 1951, usado na Guerra da Coreia. Em relação ao CJ-3B tinha distância entre eixos e comprimento total maiores.
Além disso, melhorias no motor, eixos, transmissões e conforto fizeram do CJ-5 um veículo ideal para o crescente interesse do público em veículos off-road. As linhas de estilo eram mais suaves, incluindo contornos arredondados da carroceria. Mais de 600 mil unidades foram contabilizadas até o final da produção em 1983, um dos maiores sucessos da marca Jeep.
No Brasil, o CJ-5 foi fabricado de 1957 a 1982 com o motor seis-cilindros Bf-161, substituído em 1978 pelo quatro-cilindros de 2.301 cm³ de comando no cabeçote, assim ficando até o final. Houve também o CJ-6, com entre eixos alongado (2,56 m), introduzido em 1956 e produzido até 1975. Quase idêntico ao CJ-5, ele podia ter quatro portas e entre os brasileiros ganhou o apelido de “Bernardão”, em referência à cidade paulista onde era fabricado.
Nos 13 anos de propriedade da Kaiser, fábricas foram estabelecidas em 30 países e veículos Jeep foram comercializados em mais de 150 países. Em 1965, o novo motor V-6 Dauntless foi introduzido como opção tanto para o CJ-5 quanto para o CJ-6. Com 155 cv, quase dobrou a potência do motor de quatro cilindros. Foi a primeira vez que um Jeep CJ pôde ser dotado de um V-6.
Tradição que segue até hoje
Em 1969, com a aquisição da Kaiser Jeep pela American Motors Corporation (AMC), os veículos com tração 4×4 estavam mais populares do que nunca. Em 1978, a produção total de veículos Jeep chegaria a 600 veículos por dia – mais de três vezes a produção no início da década. A partir de 1973, todos os CJ tinham motor V-8 5-litros ou 5,9-litros da AMC. O CJ-5 e o CJ-6 receberam ainda eixos mais robustos, freios maiores e bitolas mais largas.
A primeira grande mudança no design da Jeep em 20 anos veio em 1976, com o CJ-7. A distância entre eixos era 25 cm maior que o CJ-5 a fim de permitir espaço para um câmbio automático. Pela primeira vez, o CJ-7 ofereceu teto de plástico moldado e portas de aço como opcionais. O CJ-7 com entre eixos de 2,37 m e o CJ-5 com 2,12 m foram produzidos até 1983, quando a demanda pelo modelo maior deixou a AMC sem escolha a não ser descontinuar o CJ-5, após 30 anos de produção.
O Scrambler, introduzido em 1981, era semelhante ao CJ-7, mas com maior distância entre eixos. Conhecido internacionalmente como CJ-8, estava disponível nas versões com teto removível ou com capota. Menos de 30 mil Scramblers foram fabricados até 1985, tornando-os extremamente populares entre colecionadores. O Jeep CJ-7 foi substituído em 1986 pelo Jeep Wrangler, que trouxe mais tecnologia preservando o estilo tradicional, para seguir na mesma trilha. O modelo segue evoluindo no mercado até hoje, estando na quarta geração. Vale lembrar ainda que o CJ-8 tem na nova picape Gladiator uma digna herdeira, desde 2018.
No total, foram produzidos mais de 1,5 milhão de veículos CJ, mantendo não apenas o estilo básico de carroceria por 40 anos desde que apareceu pela primeira vez, como também a capacidade off-road e o espírito de liberdade.
AE
Nota:Texto baseado em material divulgado pela área de imprensa da FCA