É muito gratificante para quem escreve receber as opiniões dos que o leem. No exercício do escrever na mídia ou exercer uma função pública, como dizia o presidente Nereu Ramos, ”É preciso se ter muita paciência e autocontrole, para se ser julgado pela tirania da opinião pública”.
O governador Negrão de Lima, ao deixar o seu excelente governo, agraciou-me com uma foto sua, com uma dedicatória agradecendo a minha colaboração e enfatizando o meu fair play para exercer o meu cargo de diretor de Trânsito do Estado da Guanabara: “Impossível, mas sensacional”. De fato, talvez a minha vocação esportiva, para jogar futebol no gol tenha ajudado o meu comportamento. A liberdade de expressão é das grandes conquistas do regime democrático.
Nos meus escritos quinzenais para o AUTOentusiatas, onde procuro, sem esperar, nem mesmo a compreensão, procuro transmitir o que aprendi no já mais de meio século de vivência com o trânsito urbano. Sou exemplo do que escreveu a notável poetisa goiana Cora Coralina, de quem mereci a sua amizade, o seguinte pensamento:
”Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
Todo sábado em que escrevo, ao acordar ligo o meu companheiro na minha “terceirísima” idade, o meu computador, para ler o que escreveram os leitores. Não respondo por estar ciente de ser impossível se convencer quem está na “meia ciência”, seria pura perda de tempo, mas no meu último artigo, quando, defendia e sugeria o uso da “onda verde” na coordenação dos semáforos, quando a esmagadora maioria dos leitores nunca a viu funcionando, fruto da atraso como é tratado o importante problema do trânsito, “superfunção urbana” , houve duas exceções nos 27 comentários recebidos, exatamente, opiniões de pessoas que haviam visto uma “onda verde” funcionado.
É para essas duas exceções que vou tecer explicações. Por feliz coincidência, tive alguma influência ou testemunho nos casos citados como bom exemplo de funcionamento do sistema ótimo de coordenação de semáforos que sempre defendo.
Quando o leitor confessa que transitou ao longo dos vinte e dois quilômetros da avenida Rivadávia, em Buenos Aires, sem parar, surfando na sua “onda verde’, devo lhes dizer que em 1969 um grupo de engenheiros de tráfego, quatro de Buenos Aires e eu, do Rio, visitamos todas as cidades alemãs com o sistema Siemens de “onda verde” instalados, a convite daquela grande empresa, durante quinze dias. Saímos mais do que convencidos da sua eficácia.
Era, evidentemente, através destas demonstrações ao vivo, uma tentativa de instalá-lo em nossas cidades.
Pois bem, na Argentina deram a verba para instalá-la; aqui no Rio, não. Nossa penúria orçamentária não permitiu.
Também a vi funcionado quando visitei Buenos Aires em 1972. Senti-me com o mesmo estado de espírito quando, no final dos anos 30, assisti a seleção argentina de futebol golear a nossa por 5 x 1 na Copa Roca em pleno Estádio de São Januário.
O outro exemplo para mim foi deveras gratificante, um morador de Brasília elogiar o seu funcionamento na Av. W3, que fora projetada para ser via de serviço, mas que se tornou de passagem, coletora.
Não pude conter as lágrimas ao ler o que escreveu o leitor elogiando o sistema projetado por mim, em 1972, então consultor da Ericsson, que tentava se impor neste ramo no Brasil. O mesmo leitor lamenta não ter havido continuidade nas instalações deste tipo de coordenação.
Eu também lamento.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente aos sábados no AE sobre questões de trânsito.