A pista do Haras Tuiuti no interior de São Paulo foi utilizada pela Peugeot para apresentar o novo elétrico Peugeot 208 e-GT a um grupo de jornalistas em avaliações individualizadas. Tive a satisfação de acompanhar o Bob Sharp nessa incursão, onde pudemos experimentar o elétrico da marca que estará disponível no Brasil no primeiro semestre de 2021. O carro será importado da Europa e o preço saberemos somente nas vésperas do início de vendas. Mas as reservas já podem ser feitas na rede de concessionários. Atualmente o 208 e-GT tem fila de compradores de mais de 6 meses na Europa, sendo um dos carros de maior procura no segmento elétrico de baixo custo.

Diferente de outras marcas que criaram linhas exclusivas e requintadas para seus modelos 100% elétricos, a Peugeot decidiu fazer uma versão derivada da versão normal do 208, que está sendo apresentado conjuntamente aqui no Brasil. Os painéis externos, teto, portas e vários outros componentes são comuns entre os dois tipos de motorização. Até o bocal de abastecimento foi convertido em tomada elétrica no e-GT. Essa estratégia permitiu uma economia nos custos de engenharia e ferramental devido ao desenvolvimento conjunto.

Motor e dinâmica veicular

O motor elétrico assíncrono trifásico de 136 cv (100 kW) tem torque imediato de 26,5 m·kgf e permite acelerar o veículo de cerca de 1.500 kg de 0-100 km/h em 8,1 segundos. A velocidade máxima é limitada em 150 km/h, visando a conservação de energia. A alimentação é por bateria de íons de lítio posicionadas no assoalho do carro e tem capacidade de 50 kW·h, o que permite autonomia de 339 km dentro do ciclo WLTP. Na vida real isso se traduz para 300-320 km.

Três modos de condução estão disponíveis (Drive, Eco e Sport) e selecionáveis em um interruptor no console central. A diferença de resposta do pedal do acelerador é bem fácil de notar. Como em outros elétricos já avaliados, há o modo B (brake – freio) na alavanca de câmbio, que proporciona maior desaceleração por “freio-gerador” e consequente maior regeneração de energia. Mesmo no modo Drive, ao soltar o pedal do acelerador ocorre regeneração de energia e o nível de desaceleração é semelhante a um carro com motor a combustão nessa condição.

Os freios de serviço são a disco ventilado na dianteira e disco na traseira. O sistema de atuação é eletro-hidráulico e tem boa resposta e modulação de esforço. O freio de estacionamento é eletromecânico,

Dirigir o carro no modo Eco requer uma dose extra de paciência e disposição para o pedal do acelerador percorrer o longo curso. Caso contrário o carro fica com desempenho débil e otimiza a energia da bateria.

A suspensão foi ajustada para a nova distribuição de pesos, e os pneus 205/45R17 Michelin Primacy proporcionam boa aderência em curvas. A avaliação no autódromo limitou-me a observar o bom comportamento em curvas, atuação do controle de tração que é pouco intrusivo, e dirigibilidade geral. Uma avaliação mais completa será feita quando o fabricante nos entregar o carro para o teste de uma semana.

Peugeot está sendo ousada em oferecer um pneu com apenas 92 mm de altura do costado para equipar um carro de 1.500 kg. O índice de conforto desta dimensão de pneu é de 3,3 em uma escala de 10 pontos. O solo lunar brasileiro não perdoa esse tipo de ousadia. A conferir!

Segundo informações dos engenheiros da Peugeot, o carro a ser comercializado no Brasil terá fechamento do assoalho em chapa de aço — diferente do modelo europeu que possui fechamento com chapa plástica. Isso dará maior robustez e proteção à bateria do veículo. Porém, também acarretará um acréscimo de peso. O impacto na autonomia e desempenho ainda não foi contabilizado.

Assim como outros carros elétricos, o novo 208 e-GT é empolgante do ponto de vista de aceleração. O carro acelera rápido, mas o leve ruído de indução do motor elétrico pode ser decepcionante para alguns. O silêncio a bordo é outro atributo que vem junto com o pacote elétrico.

Beleza interior e exterior

Utilizar a mesma estrutura de carroceria do novo 208 pode ter sido um grande acerto da Peugeot para o novo 208 e-GT. A diferenciação entre os modelos está na utilização de molduras nas caixas de roda na cor preto piano, dando uma característica de esportivo ao modelo. As diferenças exteriores se completam com as rodas de liga de alumínio de 17” escurecidas e face diamantada exclusiva do modelo e seus logotipos distintos. No interior também há muita similaridade e peças comuns entre as versões elétrico e combustão.

O quadro de instrumentos segue o conceito lançado pela Peugeot no 208 em 2012 com o i-Cockpit®, e neste modelo elétrico incorpora a tecnologia holográfica 3D apresentada para o modelo de motor a combustão também. O volante tem dimensões reduzidas e dois segmentos do círculo aplanados. O revestimento é em couro de boa suavidade. Todo esse conjunto segue com a característica diferenciada de visualização do quadro de instrumento por cima do aro do volante. Depois de alguns minutos dirigindo o carro já é possível se adaptar. Outros nunca se adaptarão.

O grafismo do quadro de instrumento é algo que irá agradar alguns e desagradar a outros. Os dígitos são delgados e as cores com intensidade sutil. Nas condições de sol de frente e usando óculos de sol polarizado, fica difícil a leitura. São várias configurações possíveis, e todas tem essa característica de leveza nas cores e dígitos.

Os bancos são muito bem acabados com revestimento em Alcantara com mescla de cor clara e escura, diferente da versão com motor a combustão que tem cor escura predominantemente. Por outro lado, a estabilidade proporcionada ao corpo não é das melhores. Faltou maior apoio lateral para o dorso.

No horário da avaliação os termômetros marcavam mais de 30 graus. Temperatura perfeita para avaliar o desempenho do sistema de ar-condicionado. Fiquei ligeiramente decepcionado, mas os engenheiros da Peugeot já alertaram que o compressor da versão Brasil será mais potente. Isso trará melhor conforto térmico para utilização no nosso clima, assim como maior consumo de energia, visto que o compressor é elétrico.

O painel de instrumentos carrega a central multimídia de 7” com Android Auto e Apple CarPlay com conexão por fio, mas possui um compartimento no console central com carregador por indução. Os demais sistemas de auxilio ao motorista e segurança, que foram apresentados no 208 1,6-l flex também estão disponíveis no e-GT, colocando o carro em um patamar premium de conteúdo, apesar do seu tamanho compacto.

Carregamento e autonomia

Posicionada sob o piso do veículo, a bateria arrefecida por liquido ocupa um volume total de 220 litros distribuídos ao longo do carro. Sob o assoalho do porta-malas, que tem 265 litros de capacidade, foi necessário a substituição do estepe por um kit de reparo e compressor de ar.

A tomada de carregamento é do Tipo2 para carga em corrente alternada e possui o conector combinado para carga rápida em corrente contínua (DC). Pelas informações obtidas no site internacional da Peugeot, o 208 e-GT permite carregamento de até 100 kW·h em carregador DC, elevando a carga da bateria de 5% a 80% em menos de 30 minutos. Em carregador de 50 kW·h DC o mesmo carregamento seria feito em 50 minutos. Para preservar a vida da bateria, os carregadores de carga rápida dificilmente ultrapassam o limite de 80%.

Quem comprar o 208 e-GT receberá um sistema de recarga de bateria desenvolvido especificamente para conectar em tomadas convencionais residenciais. O sistema foi concebido no Brasil e está de acordo com o padrão das tomadas, tensão e frequência da rede local.

A Peugeot ainda não forneceu os dados oficiais de consumo pois o carro está em fase de testes de homologação. Pelo tamanho e porte do veículo o consumo deve ser similar ao Chevrolet Bolt ou Nissan Leaf, ambos já testados no AE e com custo por km ao redor de 15 centavos.

Conclusão

O Peugeot 208 e-GT é um dos primeiros elétricos a compartilhar a mesma arquitetura de uma linha de veículo. Isso pode ser apreciado pelo lado positivo se o preço do carro refletir essa economia de escala obtida com essa estratégia. Por outro lado, a similaridade com o carro de motor a combustão pode afugentar os compradores que prefiram a diferenciação, mesmo tendo um custo maior.

Somente o tempo irá nos responder se a proposta da PSA, que está sendo bem sucedida na Europa, dará resultados pela América do Sul. Vamos aguardar o início das vendas em 2021.

GB