Mais uma final de semana de Fórmula 1, mais um final de semana de recorde igualado por Lewis Hamilton. Até aí, tudo mais ou menos como tem sido nos últimos anos. Como já disse várias vezes, acho o inglês um piloto excepcional e que tem muita, muita sorte — algo que sempre acompanhou os campeões. Faz parte do combo, como aquele sanduíche que já vem com refrigerante e batatas fritas. Tudo junto e misturado.
Mas além de mais uma lindíssima ultrapassagem do grande “ultrapassador” (sei lá, acho que inventei esse termo) Daniel Ricciardo, gostei da corrida do Nico Hülkenberg. Sempre admirei o estilo de pilotar do alemão – rápido, arrojado e megacuidadoso com o carro. Assim como o Kimi (foto de abertura) e o próprio Ricciardo, é daqueles sujeitos que mantém o equilíbrio do carro, consegue fazer os pneus durarem mais do que os outros e tem uma tocada linda. Infelizmente, não vai ganhar campeonato de F-1, pois lhe faltam outros predicados e, no caso dele, também carece de sorte mas, assim como digo sempre, gosto de pilotos que nem sempre são os que mais pontos ou mais títulos tem. Mais ou menos como meu marido gostar de mim. Nem de longe sou a mulher mais cheia de predicados do mundo (nem do meu prédio, diria), mas tenho outras qualidades que o fizeram casar e continuar casado comigo.
O Nico foi chamado de última hora, mais uma vez, para ocupar uma vaga no grid de alguém que estava doente. Eu certamente o contrataria para ocupar o lugar de alguns pilotos que tem vaga cativa e que acho tecnicamente inferiores e que não tem as habilidades do alemão. Ainda assim, gostei de vê-lo no grid e acho que fez uma bela corrida para alguém que nem treino livre com o carro havia feito.
Claro que pensei o mesmo que alguns jornalistas e comentaristas. O sujeito deveria ir até mesmo à padaria com o capacete, não? Vá que é chamado para pilotar um F-1 e tem que sair com as baguettes embaixo do braço direto para o cockpit de um carro?
Desta vez, ele correu com o capacete antigo dele, o da época da Renault. Nem acho ele grande coisa, mas como sempre gostei de pintura de capacete resolvi fazer algo que há tempos não fazia: minha lista de capacetes favoritos. Mas já aviso que tem de tudo e não são exatamente na ordem. Diria que gosto de todos os 10 quase da mesma forma. Infelizmente, hoje essa arte é muito menos apreciada e até mesmo vista, pois o piloto fica pouco visível, o halo atrapalha nossa visão do capacete e eles mudam a toda hora em função de patrocinador, mensagens sociais ou apenas para chamar a atenção.
Pessoalmente, gosto de reconhecer um capacete e que ele tenha características do piloto. Entendo e aceito mudanças de patrocinadores e mesmo homenagens, mas acho que ele deve ser reconhecível como sendo daquele piloto. Apenas a partir dos anos 1970 é que este acessório começou a receber mais atenção. Até então eram basicamente lisos, às vezes quase sem pintura. Então, vamos lá:
Nélson Piquet
Com algumas pequenas variações, a linda e aerodinâmica gotinha é uma marca registrada. A origem da gotinha é controversa. Eu sempre li e ouvi que era uma ideia do piloto, desenvolvida definitivamente pelo gênio das pinturas automobilísticas Sid Mosca e há versões de que seria inspirada numa bola de tênis, esporte muito praticado pelo piloto. Mas num vídeo de retrospectiva da Globo vi o próprio Nelson dizer que a ideia de gotinha foi de um amigo, mas que os primeiros capacetes não tinham nenhuma estética e eram um horror e que posteriormente foi desenvolvida pelo Sid. Enfim, o fato é que é dos mais lindos e o gênio da criação de pinturas automobilísticas, o brasileiro Raí Caldato. concorda comigo, pois já disse isso, e pessoalmente. Uma particularidade bem prática é que a faixa vermelha ao redor da gota permitiu que fossem inseridos diversos patrocinadores, mas sem mudar as características do capacete. Nelsinho Piquet também usa uma versão com gotinha, assim como Pedro Piquet. Então, lá vai ele para o primeiro lugar.
Jackie Stewart
Chiquérrimo e superescocês como o próprio piloto tricampeão mundial. A simplicidade do “tartan” da Casa dos Stewarts (sim, há diversos tipos de xadrez que representam os muitos clãs) dando a volta no capacete é de uma elegância incrível. Por sinal, é o mesmo tartan real que representa a rainha Elizabeth II e, sim, o mesmo que aparece nas latinhas de biscoitos super populares, os Scottish Shortbreads produzidos pela Walkers. Sofisticado, lindo e superidentificável com Jackie Stewart.
Ayrton Senna
(21/03/1960-1/05/1994)
Um dos capacetes mais icônicos e mais reconhecíveis de todos os tempos. Imortalizou as cores verde, azul e amarela do Brasil e as tornou mais conhecidas no mundo inteiro. Houve outros antes do mais famoso, mas as ligeiras variações em torno daquele usado a partir de 1979 são as minhas favoritas. Gosto muito justamente pelo mesmo motivo dos outros que estão nesta lista: além de plasticamente lindo, tem características do piloto e/ou do país que representa.
Lewis Hamilton
Usou diversos capacetes, mas meu favorito é o desenhado pelo Raí Caldato em 2017. Ele mantém diversos elementos dos modelos anteriores, incluindo as muitas cores e um lindo vermelho “maçã” sobre prata. Na época, Hamilton abriu um concurso no seu Instagram e deu 10 dias de prazo. Participaram 8.000 projetos e o piloto escolheu pessoalmente o vencedor, um desenho do designer brasileiro que já em 2010 havia desenvolvido o capacete usado por Bruno Senna no GP Brasil para lembrar que Ayrton Senna completaria 50 anos de idade. O capacete do Hamilton tem elementos que remetem aos 10 anos (naquele momento) de carreira do inglês na Fórmula 1. O branco homenageia os títulos da Mercedes; na lateral, o “candy apple” desce em faixas e o designer manteve as três estrelas que já constavam do anterior e representavam os títulos mundiais então ganhos, mas trazendo-as para dentro amarelo que remete a um ídolo de Hamilton, Ayrton Senna.
Gilles Villeneuve
(18/01/1950-8/05/1982)
O capacete tem um desenho simples, como eram quase todos os dos anos 1970 e 1980 — um lindo “V” de Villeneuve estilizado sobre fundo azul escuro. Reza a história que o design foi dele em conjunto com a esposa Joann. Não duvido, pois ela sempre foi uma parceira devotada à carreira do marido em todos os sentidos. Poucos tiveram tanto apoio de um cônjuge quanto o que Gilles recebeu. O fato de o capacete ser predominantemente vermelho escarlate ficou muito associado à Ferrari, scuderia que o canadense defendeu de 1977 até sua morte, em 1982. Certamente, um dos pilotos que melhor representaram a marca em todos os tempos — para mim, junto com Jean Alesi. O capacete pouco mudou ao longo dos tempos, mas o lindo “V” sempre se manteve e foi usado, reformulado, pelo filho Jacques desde os anos 1990 quando correu na Fórmula 3 e depois na Fórmula 1. Como era bem o estilo rebelde de Jacques, as cores eram muito mais fortes – segundo ele, inspiradas num vestido que a mãe tinha. Mas o estilo dos dois capacetes é inconfundível.
Jean Alesi
Este não costuma aparecer entre as listas dos mais bonitos capacetes, mas estou aqui para desfazer essa injustiça (rsrsrsrs). Para mim, um dos mais lindos de todos os tempos. Claro que alguém pode dizer que gosto das gotinhas no alto do capacete porque sou fã de Nelson Piquet, mas o fato é que acho mesmo lindo o design dele — especialmente do modelo usado por ele na Ferrari em 1995. Mas, a rigor, o que eu chamo de gotinhas são penas de pavão. Ok, nunca fui boa em artes plásticas e sempre sou escorraçada quando tento brincar de Imagem e Ação justamente pela minha dificuldade em desenhar e em entender desenhos. Sempre penso em algo que não tem nada a ver com o que foi mostrado — algo assim como Sheldon Cooper do seriado “Big Bang Theory” jogando “Pictionary”. Mas as tais penas garantem a rápida identificação do piloto e, para mim, um desenho maravilhoso. Jean-Eric Vergne, admirador confesso de Alesi, chegou a usar um capacete inspirado nele no Grande Prêmio de Mônaco de 2012, justamente quando Jean disputava a 500 Milhas de Indianápolis. O desenho, e especialmente as cores, foi inspirado no capacete do Elio de Angelis, considerado um dos mais bonitos da F-1 pelos designers e por muitos pilotos. O problema é que o capacete de De Angelis mudou tanto ao longo da carreira que fica difícil escolher qual capacete usar como referência. Mas pelo menos ele mantinha as cores. Coloco aqui a foto, mas não o incluo na minha lista pessoal.
Elio de Angelis
26/03/1958-15/05/1986)
Ronnie Peterson
(14/02/1944-11/09/1978)
Não apostarei nenhum vidro de doce de leite argentino em quem adivinhar a nacionalidade deste piloto apenas por ver o capacete. Justamente esse é um dos motivos que me fazem gostar da super simplicidade dele: o uso das cores azul e amarelo não deixam dúvidas da nacionalidade sueca de seu usuário. Outra raridade no desenho foi o uso do amarelo em volta da viseira, algo raríssimo e que dá ainda mais destaque às cores da nação. Em várias corridas ele tinha uma “aba” sobre a viseira, algo também pouco frequente e, ainda por cima, novamente com o uso do amarelo. O também sueco Marcus Ericsson se inspirou em diversos elementos para criar seu capacete.
Graham Hill
(15/02/1929-29/11/1975)
Incluí este muito mais pela simplicidade e pelo fácil reconhecimento que proporciona do que pela estética – embora ache ele elegante. Outra coisa que me agrada é que o desenho tem uma razão de ser para o piloto. Os traços brancos sobre o fundo azul muito escuro são oito remos, já que Hill havia competido internacionalmente como remador do Clube de Remo de Londres nos anos 1950. O filho Damon usava um capacete também com uns riscos, mas ele nunca foi remador e fazia isso como homenagem ao pai.
Nigel Mansell
Mais um capacete facilmente reconhecível e que conta algo sobre seu usuário, pois é uma estilização da Union Jack, a bandeira do Reino Unido. Mansell começou a usar este modelo em 1992 e seguiu com pequenas variações durante toda sua carreira. Do ponto de vista dos patrocinadores era ótimo, pois proporcionava bastante espaço para inserir diversas marcas. Gosto também da representação de uma flecha apontada para a viseira do piloto.
Tony Kanaan
Antes que me façam ajoelhar no milho, sei que Tony Kanaan nunca disputou uma corrida de Fórmula 1, mas incluo o capacete dele aqui porque Rubens Barrichello correu com ele o GP de Mônaco de Fórmula 1 de 2015 (foto de Rubinho em Mônaco com o capacete de Tony). Acho muito bonito e, principalmente, facilmente reconhecível, pois dependendo da ocasião, Tony mudava as cores das listras, mas o design era sempre o mesmo. Azul sobre prata, amarelo quase fosforescente sobre cinza, amarelo sobre verde, azul sobre vermelho… Mas sempre com o mesmo desenho, criado há mais de três décadas. A explicação dada pelo próprio Tony para as listras curvas é hilária. Ele sempre se considerou feio, narigudo e seu cabelo crescia somente para cima, mas tinha um amigo superbonitão, com longos e bonitos cabelos que colocava atrás das orelhas e formavam lindas ondas — algo que ele queria muito ter. Como isso era impossível, reproduziu a cabeleira que nunca teve no capacete. O resultado ficou excelente, não?
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NG
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