Na terceira semana do Teste de 30 dias a Toyota Hilux rodou predominantemente na rodovia, só que desta vez com muito mais pressa, e com um motorista diferente. A missão: ir até a região de Queluz, na divisa dos estados de São e Rio de Janeiro, e voltar. Pressa total, somente ele e eu a bordo, caçamba vazia.
Alberto Trivellato, nosso tradicional colaborador, responsável pela oficina paulistana Suspentécnica, sempre é escalado para prestar sua valiosa colaboração ao final do Teste de 30 dias, quando nos dá seus pareceres sobre os carros testados, investigando suas entranhas apuradamente. Desta vez ele começou a trabalhar antes, fazendo esta rápida viagem pelo Vale do Paraíba.
Ayrton Senna, Carvalho Pinto, Presidente Dutra e respectiva volta: nestas estradas com nome de brasileiros notórios Alberto acrescentou quase 500 quilômetros ao hodômetro da Hilux, e capturou muita informação, e bateu o recorde negativo do consumo, derrubando a média de cerca 11 km/l da viagem ao litoral, comportada, para apenas 8,6 km/l. Como ele dirigiu? Explorando ao máximo o desempenho da Hilux, com acelerador indo frequentemente ao fundo.
Se no aspecto dinâmico Alberto dirigiu elogios à Hilux, a estética aplicada a esta versão da Hilux não o agradou, que acha os grafismos Gazoo Racing excessivos. Mas, como ele mesmo observou, isso é um aspecto vinculado ao gosto de cada um, subjetivo, portanto. Ele sustenta que a Hilux é um carro de trabalho, e que uma versão esportiva mereceria bem mais do que toques estéticos.
Lembrei-lhe que o acerto de suspensão desta GR-S II é especial, mas Alberto contra-argumentou: “Para realmente ser uma versão esportiva esta Hilux mereceria algo mais que amortecedores novos, recalibrados. O ideal seria ajuste ainda bem mais diferente, como, por exemplo, reduzir a constante elástica das molas da suspensão traseira. Ela perderia algo em capacidade de carga, mas a traseira não seria tão desconectada da suspensão dianteira como é hoje quando está descarregada. É uma picape que, vazia, ‘soca’ quem está na cabine. Quem a compra nesta versão esportivada talvez não seja aquele utilizador extremo, caçamba lotada dia sim, outro também. E aí a traseira mais suave, quem sabe associada a uns cavalos a mais no motor, seria coerente…”.
É correto o que Alberto observou, conectar aparência com comportamento dinâmico de maneira mais acentuada? É absolutamente normal a Toyota querer aproveitar seus sucesso nos ralis-reides, nos quais o protótipo Toyota Hilux se destaca, como ter vencido o Dakar 2019 sob comando do catariano Nasser Al-Attiyah e do francês Mathieu Baumel, e que chegaram em segundo em 2020 (esta edição teve a estreia de Fernando Alonso com o conterrâneo Marc Coma como copiloto, capotaram e ainda chegaram em 13º na classificação geral). Porém, entre a Hilux Gazzo Racing desse tipo de rali e a Hilux Gazoo Racing vendida nas concessionárias, os pontos em comum são apenas no nome e logotipos. Não é de hoje que a Toyota do Brasil considera que versões esportivas de seus veículos merecem apenas ajustes estéticos, como aconteceu com o extinto Toyota Corolla XRS, um esportivado só na aparência.
Como bem observou Alberto, mesmo se a traseira recebesse o ajuste que ele sugeriu a Hilux estaria longe de ser esportiva, coisa que não combina com o eixo traseiro rígido, mas ao menos traria um comportamento menos rústico às suspensões. E falando em rusticidade, para nosso colaborador — e eu assino embaixo — em uma picape topo de linha, cara, não tem cabimento a chave presencial não permitir, por exemplo, o fechamento dos vidros apertando a tecla da trava, assim como a tampa da caçamba obrigar o uso da chavinha destinada a emergência para ser travada, e não ter nenhum sistema que atenue o esforço de sua abertura e fechamento, como a concorrência já tem. Outra observação foi quanto à altura em relação ao solo. Nesse item, relacionado ao entrar e sair, é importante lembrar que a Hilux é uma picape média com elevada altura de rodagem, 286 mm.
Na viagem disparada, os itens positivos apontados pelo colaborador foram o bom comportamento dinâmico e as reações ao volante, destacadas nesta condição rodoviária específica de poucas curvas e muita reta. Motor e câmbio mereceram também palavras de elogio. Não sobra potência, mas graças ao torque máximo de 45,9 m·kgf a 1.600 rpm ela está bem presente nas rotações baixas, um ponto a destacar, assim como o câmbio automático que permite esquecer sua existência. Na volta para São Paulo, noturna, queixas sobre o farol quando em facho baixo: segundo Alberto, dotar a Hilux com uma regulagem da altura do facho seria importante, nem que fosse manual.
No restante da semana, o uso da Hilux foi estritamente urbano, situação na qual ela não se mostra à vontade, pois tarefas como estacionar e manobrar não são fáceis apesar da existência da câmera de ré. Mas o pior é o pula-pula nas ruas cheias de remendos, praticamente todas na cidade de São Paulo, com as raras exceções sendo as vias expressas. Definitivamente, a Toyota Hilux não é um veículo feito para uso urbano. Não é prático e tampouco confortável.
Para a última semana, nenhum plano especial a não ser a visita à Suspentécnica, levantar a Hilux no elevador e olhar como a picape mais vendida do Brasil em sua categoria é feita, observar as opções técnicas adotadas pela fabricante japonesa e o padrão construtivo em termos de qualidade de montagem e componentes, que já sabemos ser bem elevada.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Toyota Hilux GR-S II 4×4 aut diesel
Dias: 21
Quilometragem total: 1.275 km
Distância na cidade: 287 (77%)
Distância na estrada: 988 (23%)
Consumo médio: 10,5 km/l
Melhor média: 13,3 km/l
Pior média: 7,2 km/l
Velocidade média: 47 km/h
Tempo ao volante: 26h54min
Mais fotos, a seguir ficha técnica:
FICHA TÉCNICA TOYOTA GR-S II 4×4 AUT DIESEL | |
MOTOR | |
Designação | D-4D 2.8 L 16v Turbo |
Descrição | 4 cilindros, dianteiro, longitudinal, bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, 4 válvulas por cilindro, injeção direta com common rail, admissão forçada por turbocompressor de geometria variável com interrestriador, Diesel |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido / alumínio |
Configuração / n° de cilindros | Em linha / 4 |
Diâmetro x curso (mm) | 92 x 103,6 |
Cilindrada (cm³( | 2.755 |
Taxa de compressão (:1) | 16 |
Potência máxima (cv/rpm) | 177/3.400 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 45,9/1.600 a 2.400 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Automático epicíclico de 6 marchas com conversor de torque, trocas manuais sequenciais pela alavanca seletora, tração 4×2, 4×4 e 4×4 reduzida com acionamento eletrônico, bloqueio do diferencial traseiro |
Relações de transmissão (:1) | 1ª 3,600; 2ª 2,090; 3ª 1,488; 4ª 1,000; 5ª 0,687; 6ª 0,580; Ré 3,732 |
Relação dos diferenciais (:1) | 3,909 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, triângulos superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido, feixe de molas semielípticas de duplo estágio e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica indexada à rotação do motor |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 12,8 |
Relação de direção | n.d |
N° de voltas entre batentes | 3,43 |
FREIOS | |
De serviço | Duplo-circuito em paralelo, servoassistido a vácuo por bomba dedicada |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / n.d. |
Traseiros (Ø mm) | Tambor com válvula proporcionadora sensível à carga /n.d. |
CONTROLE | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 7,5Jx17 |
Pneus | 265/65 R17H Bridgestone Dueler A/T |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 2.065 |
Carga máxima | 1.000 |
Cap. máx.de tração, inclusive reboque | 5.850 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Carroceria sobre chassis, 4 portas, 5 lugares |
CONTROLE DINÂMICO DO VEÍCULO | Controle de estabilidade e tração |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 5.315 |
Largura | 1.855 |
Altura | 1.815 |
Distância entre eixos | 3.085 |
DIMENSÕES DA CAÇAMBA (mm) | |
Comprimento/largura/altura | 1.569 / 1.645 / 481 |
DADOS OFF-ROAD | |
Distância mínima do solo (mm) | 286 |
Ângulo de entrada (º) | 31 |
Ângulo de saída (º) | 26 |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 1.240 (aproximadamente.) |
Tanque de combustível | 80 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | n.d |
Velocidade máxima | n.d |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) | 9 |
Estrada (km/l) | 10,5 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª (km/h) | 62,7 |
Rotação em 6ª a 120 km/h (rpm) | 1.900 |
Rotação em velocidade máxima (rpm) | n.d |