Existir, sempre existiu. Mas o besteirol triunfou — de verdade — quando ganhou as redes sociais, fruto da internet com conexão de alta velocidade. Vamos a algumas:
Motor 16 válvulas não presta? Boa parte dos modernos motores a combustão aplica a solução das quatro válvulas por cilindro para maior eficiência. Entretanto, os primeiros assim lançados no Brasil, na década de 1990, eram mesmo problemáticos. E a fama ficou…
E o de três cilindros? Com o downsizing,ou redução da cilindrada, conquistou o mundo inteiro (foto de abertura). Mas alguns “doutores“ em automóveis no Brasil defendem teses contrárias. Se menos sofisticados, podem apresentar uma ligeira e quase imperceptível vibração. Se são duráveis? Estão rodando firmes até hoje os DKW-Vemag produzidos no Brasil de 1957 a 1967, com motores tricilíndricos. Os atuais fabricados aqui estrearam há oito anos (Fox BlueMotion, 2013). No ano anterior foi lançado o Hyundai HB20 com uma versão 3-cilindros de 1 litro, mas o motor vinha da Coreia do Sul. Na década de 1990 chegaram alguns 3-cilindros, como o Daihatsu Cuore 1-L. Sem esquecer o Smart que era importado regularmente.
Câmbio de dupla embreagem não é confiável? Quem criou a imagem negativa desta excelente solução foi o PowerShift da Ford, por problemas de manufatura ou projeto. Mas existem vários outros, como o DSG da Volkswagen e o PDK da Porsche, considerados os melhores automáticos do mundo.
Válvula termostática é besteira ? Alguns mecânicos resolvem o problema do motor superaquecendo eliminando a válvula do circuito de arrefecimento. O problema não é a válvula, mas por ela ter travado e prejudicado o arrefecimento do motor. A solução não é se desfazer dela, mas substitui-la. Ela é importante para que o motor não trabalhe “frio” muitos quilômetros após ser acionado ou em longas descidas.
Troque aos 40 mil km – Quilometragem “mágica” usada por fábricas, autopeças e oficinas para induzir a troca de amortecedores, cabos de velas e catalisadores. Absolutamente desnecessárias, todos eles têm durabilidade muitas vezes maior.
Economizador economiza?– A internet é a grande fonte dessas trapizongas anunciadas como economizadores de combustível. Não acredite em nenhum deles, pois, fossem eficientes, seriam obviamente utilizados pelas fábricas de automóveis.
Carro turbinado é “bomba-relógio”? Oficinas irresponsáveis adaptam turbinas em motores não projetados para recebê-las. É claro que sua durabilidade vai para o espaço, prejudicando a imagem dos motores desenvolvidos para o receberemem, que são tão resistentes e confiáveis quanto os aspirados.
Tanque na reserva destrói a bomba? Nada a ver: o que refrigera a bomba dentro do tanque de alguns carros é exatamente o combustível que passa em seu interior. E não aquele que a envolve. Há também quem ache que ao usar o combustível até as últimas gotas, a eventual sujeirinha depositada no fundo do tanque pode entupir a bomba: coisa de quem não sabe o que diz, pois o combustível sempre é aspirado do fundo do tanque independente da quantidade de combustível nele.
Revisão geral por R$ 99? E ainda tem quem acredita nisso. E em Papai Noel…. Oficinas com este apelo promocional querem ver seu carro lá dentro. Depois de desmontado, começam a surgir os “pepinos” e as contas nas alturas. R$ 99,00 não paga sequer o estacionamento…
Aditivo no óleo – Engenheiros das fábricas de automóveis e de óleos se dedicam centenas de horas para determinar a melhor aditivação de cada motor. Aí vem os Militecs da vida anunciar milagres…
Portas travadas – Carro pronto para a viagem com a família, malas acomodadas, tanque cheio, pneus calibrados? Então, s’imbora com os cintos afivelados, portas fechadas e travadas! Opa: nada de travar portas na estrada, só no trânsito urbano. Porque, no caso de acidente, quem aparecer para ajudar ainda terá que enfrentar portas travadas, caso o carro não tenha sistema automático de desbloqueio numa colisão.
Óleo para motor diesel no carro a gasolina – Outro besteirol sabe-se lá de onde veio. O “argumento” é que o óleo lubrificante do motor diesel deve ser muito mais eficiente para suportar suas exigências mais rigorosas. Mas cada óleo é projetado para “conviver” com os gases que chegam no cárter provenientes da combustão e, no caso diesel, com o enxofre nele, até não muito tempo atrás em porcentagem gigantesca, 2.000 partes por milhão, hoje 10 ppm no diesel S-10..
Querosene no tanque? Só se estivermos falando de avião a jato. Ou seu carro tiver turbina a gás em vez de motor a pistão. Querosene prejudica a câmara de combustão dos automóveis e tem parca octanagem, 15… Não serve.
Derrapagens do Inmetro – Nem todas as certificações do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia são dignas de fé. Pneus remoldados não ostentam informações essenciais da carcaça reaproveitada, exigidas em outros países. Aqui, convenientemente (para os fabricantes) abandonadas pelo órgão do governo. Que já certificou também cadeirinhas infantis reprovadas depois em testes da Unicamp. Entre outras…
Chip milagroso? Tem oficina que anuncia aumento de desempenho além de redução de consumo e emissões com a simples troca de um chip. Tão óbvio e as fábricas não perceberam? Ou transforma o carro a gasolina em flex. Tão barato, simples e as fábricas investiram fortunas nisso?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Mais Boris? autopapo.com.br