A segunda semana com a Strada Volcano CD foi pautada pela confirmação daquilo que já imaginava, e faz parte do DNA de todas as Strada não importando a geração: elas são agradáveis de dirigir. Para um carro voltado para o trabalho, este fator é de suma importância, e percebe-se nesta nova edição da picape Fiat a forte vontade da engenharia de ressaltar os bons dotes da motorização, câmbio, da direção à prova de críticas, e da resposta adequada aos comandos de acelerador, freio, etc.
Ponto alto indiscutível? As suspensões. Há tempos que a marca de Betim acerta a mão neste delicado ajuste, que deve premiar conforto, estabilidade, sensação de segurança e capacidade de adaptação. Funcionar bem tanto com lotação máxima quanto vazia. Ainda não carreguei a caçamba da Strada, e tampouco a lotei de gente, mas no dia a dia desta semana — feito na maior parte do tempo em “voo solo” — o ajuste das suspensões me chamou a atenção positivamente.
A Strada engole irregularidades sem as transmitir para a cabine, não é molenga e passa sensação de robustez. Equipada com pneus Pirelli Scorpion ATR medida 205/60R15, definidos pela própria fabricante italiana como 50% off-/50% on-road,, tal opção poderia parecer mais ditada pela estética do que pela real necessidade de se ter na Strada Volcano CD um pneu com capacidades off-road. Porém, o estado de nossas vias é ou não um constante off-road?
O aspecto positivo destes pneus Scorpion ATR é a robustez intrínseca à pneus desenvolvidos para encarar terra, pedras e lama, mas este tipo de opção cobra seu preço, e não me refiro ao custo do pneu. Da fato, o “preço” a ser pago se afere nos prós e contras. Os prós? Certamente a Strada assim dotada funcionará melhor na terra, óbvio, e a carcaça será mais robusta contra impactos, e portanto mais segura. Para um carro que se destina a trabalho, que muitas vezes rodará carregadão,, ter pneus assim é ótimo. E os contras? O Scorpion ATR é ruidoso rodando no asfalto, e seu desempenho em vias pavimentadas, tanto no seco quanto no molhado, fica aquém da de um pneu estritamente on-road.
Tendo em vista meu padrão de uso, 99% urbano, se eu tivesse uma Strada CD Volcano na hora de trocar dos Scorpion ATR cogitaria pneus 100% para asfalto. Aliás, todo este discurso sobre os pneus da Strada não vem do nada, pois durante esta semana fiz uma visita à nova pista de testes da Pirelli no Brasil, em Elias Fausto, distante pouco mais de uma centena de quilômetros da capital paulista.
Meu objetivo não tinha nada a ver com usar o espetacular traçado do Circuito Panamericano — nome de batismo da impressionante estrutura —, mas apenas fazer uma visita protocolar a um lugar que ainda não conhecia. Porém, para minha surpresa, meus anfitriões me deram a chance de rodar no traçado, e assim conhecer mais não apenas a Strada como também seus pneus.
Todo pneu vendido no Brasil deve ter uma etiqueta que, entre outros dados, traz o índice de ruído. No caso dos Scorpion ATR, este índice é de 75 dB. Para fins de comparação, em um Pirelli Cinturato P1, tal índice cai para 70 dB, e nos P7 a 73 dB. P1 e P7 foram pensados para o asfalto, fariam a Strada ser menos rumorosa e acrescentariam melhor performance global em uso no asfalto, incluindo nisso aderência e menor atrito de rolamento, o que se traduziria em menor desgaste dos pneus e maior economia de combustível.
Nas curvas do Panamericano, abusei da Strada por alguns minutos e notei que o ruído dos pneus cresce quando em curva, e não pela gritaria da borracha sendo exigida, mas pela maior atuação dos ombros dos pneus. Não há mistério: sulcos largos, bem espaçados entre si, são ótimos para gerar aderência em piso soltos, mas barulhentos no asfalto. Isso de nenhum jeito significa que a Strada seja um carro ruim em uma tocada animada, mas sim que a escolha deste tipo de pneus traz consequências, entre as quais, maior ruído.
Tive a chance de rodar no traçado off-road do Circuito Panamericano, e claramente comprovei a vantagem dos “sapatos” off, uma prova do nove da competência da Strada na terra, e gostei, aliás, gostei muito! Subi um forte aclive de terra solta para entender a real capacidade do novo sistema E-Locker. Ao contrário do antigo sistema Locker, mecânico, o novo sistema é eletrônico, e atua simplesmente freando a roda que patina, deixando o diferencial jogar mais força a roda com mais aderência.
O sistema entra em ação acionando a tecla TC+ no alto do painel, e na tal rampa notei que, sem ativá-lo, a subida ainda era possível, mas com uma progressão menos decidida por conta da perda de aderência na fase final. Outra ação da tecla é acionar um padrão de frenagem ABS diferente, dedicado ao uso off-road, que permite breves travadas das rodas para formar cunhas de terra diante dos pneus, e assim melhorar os espaços de frenagem. Nesta nova geração todas as Strada vem com controle de estabilidade e de tração, e a tecla TC+ que deve ser usada quando em piso solto para adequar o comportamento da eletrônica a tal utilização.
Na volta à São Paulo o ritmo foi bem diferente do da ida, tranquila, e o consumo do motor Firefly de 1,3 litro acusou o golpe: rodando calminho a 110-120 km/h da lei vi consumo médio de 14 km/l. Na volta, a pressa derrubou a cifra para ainda razoáveis 11 km/l. Porém, a Strada nessa tocada mais apressada exige claramente mais trabalho com a alavanca de câmbio, uma vez que, como dito no relatório da primeira semana, os pouco mais de 100 cv com cerca de 14 m·kgf de torque máximo não fazem da Strada um portento de desempenho quando se tem pressa. A 120 km/h o ponteiro do conta-giros lambe as 4 mil rpm, e desta marca até o corte de rotação, a 6.400 rpm, a progressão não é lá essas coisas.
Na semana que vem está programada uma viagem bem mais longa, com a Strada devidamente carregada de bagagem e pessoas, em trajeto pleno de aclives e declives. Ao fim destes quilômetros variados poderei falar com mais propriedade deste picapinha que, até agora, vem me dando muito prazer em dirigi-la, mantendo a tradição dos Fiat com caçamba que tão bem me serviram nas últimas décadas.
RA
Leia o relatório da 1ª semana
Fiat Strada Volcano cabine dupla
Dias: 14
Quilometragem total: 829 km
Distância na cidade: 567 km (88%)
Distância na estrada: 262 km (12%)
Consumo médio: 9,9 km/l (56% gasolina/44% álcool)
Melhor média (álcool): 10,8 km/l
Pior média (álcool): 5,4 km/l
Melhor média (gasolina): 13,2 km/l
Pior média (gasolina): 8,7 km/l
Média horária: 28,0 km/h
Tempo ao volante: 29h36 minutos
FICHA TÉCNICA NOVA STRADA VOLCANO CABINE DUPLA 2021 | |
MOTOR | |
Designação | 1.3 GSE Flex |
Descrição | 4-cil. em linha, dianteiro,transversal, bloco e cabeçote de alumínio, comando no cabeçote, corrente, variador de fase, ciclo Miller, duas válvulas por cilindro, injeção no duto, coletor de escapamento integrado ao cabeçote, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70,0 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 101/6.000 / 109/6.250 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 13,7/14,2/3.500 |
Corte de rotação (rpm) | 6400 – corte limpo |
Rotação de marcha-lenta (rpm) | 750 |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Bateria, tensão (V) | 12 |
Bateria, capacidade (A·h) | 50 |
Alternador, corrente (A) | 110 |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Monodisco a seco, comando hidráulico |
Diâmetro do disco (mm) | 190 |
Tipo | Transeixo com câmbio manual de 5 marchas mais ré, comando a cabo, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,429; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,600 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido tipo ômega, mola parabólica longitudinal por lado e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3 |
Relação de direção (:1) | n.d. |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/228 |
Controle | ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
Duplo circuito hidráulico, disposição | Cruzado |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6Jx15, offset 40 |
Pneus | 205/60R15 ATR |
Estepe | Aço, 4Jx16, offset 15, pneu T125/80R16, sob a caçamba |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, picape cabine-dupla, 4 portas, subchassi dianteiro |
CAÇAMBA | |
Capacidade (L) | 844 |
Superfície (m²) | 1 |
Largura máxima/entre as caixas de roda (mm) | 1.310/1.059 |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 55 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.179 |
Carga útil | 650 |
Peso rebocável (sem freio) | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.480 |
Largura sem/com espelhos | 1732 / 1.967 |
Altura | 1.595 |
Distância entre eixos | 2.737 |
Bitola dianteira/traseira | 1.457/1.480 |
Distância mínima do solo | 214 |
ÂNGULOS (º) | |
Entrada/rampa/saída | 23,4/21,6/28,4 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 12,7/11,2 |
Retomada 80-120 km/h em 5ª (s) | 21/18,4 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 163/168 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 12,1/8,4 |
Estrada (km/l, G/A | 13,3/9,4 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 31,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.800 |
Rotação à vel.máxima em 5ª (rpm) | 5.300 |
Alcance nas marchas a 6.400 rpm (km/h) | 1ª 38; 2ª 66; 3ª 112; 4ª 156; 5ª 166 |