Sem a menor sombra de dúvida, o excesso de velocidade ou a velocidade imprópria para o momento, estão presentes em quase a totalidade dos acidentes de trânsito.
Nunca se encaixou tão bem no aforismo do autor inglês G K Cherteston, quando disse: Não me preocupam os que não enxergam a solução, mas, os que não a enxergam por não verem o problema.
Antes de analisarmos o problema, identificando-o, permitam-me enunciar os princípios básicos de meu raciocínio, oriundos de dois conhecidos mestres do passado, Sir Alker Tripp, inglês, e Henry Barnes, americano.
Aconselhou o primeiro: “No equacionamento dos problemas do trânsito, sempre se deverão utilizar as medidas construtivas em lugar das restrições legais” e, o último, “Trânsito são pessoas em movimento.”
As pessoas, quando motoristas, são primatas condicionados, segundo o autor e psicólogo inglês Desmond Morris.
O Manual de Engenharia de Tráfego, publicado nos Estados Unidos, no capítulo em que trata do comportamento do motorista, nos ensina que suas ações, quando ao volante, são comandadas pelo Principio do PIEV, ou seja, a Percepção, a Inteligência, a Emoção e a Volição.
Cabe ao responsável pelo trânsito comunicar-se com o motorista, através da sinalização, a fim de que, sempre, a Percepção e a Inteligência prevaleçam sobre as outras duas reações. Caso não aconteça, o motorista estará em condições favoráveis para se acidentar, evidentemente por estar trafegando na velocidade imprópria.
O que acontece no nosso “Pindorama”, sem nenhuma exceção, é que existe, na sincronização dos semáforos, nas nossas vias de trânsito rápido, uma indução à cultura da velocidade, na medida em que, chamam de sincronia, a abertura de até seis cruzamentos ao mesmo tempo, criando um incentivo a correr a fim de aproveitar todos, ou o máximo dos semáforos com a luz verde.
Está crida a cultura da velocidade acima da máxima permitida e a vantagem do isolacionismo, inimigo figadal da coordenação da chamada “Onda Verde”, ou seja, a abertura sequencial, na velocidade onde se obtém o maior aproveitamento da capacidade da via, geralmente de 60 km/h.
Como exemplo, verificado por mim, aqui no Rio, na Avenida das Américas (foto de abertura), onde a velocidade máxima é de 80 km/h, para se aproveitar todos os quatro sinais verdes, abertos juntos no que chamam de sincronia, deve-se andar a 110 km/h.
Em 1969, a convite da Siemens, quatro engenheiros do Departamento de Trânsito de Buenos Aires e eu estagiamos naquela empresa visitando as cidades alemães, onde funcionava a “Onda Verde”. Ficamos maravilhados e, ao voltarmos aos nossos países, os hermanos a instalaram e a mim não deram a verba necessária. Nada pude fazer, nem me queixar. A obra prioritária era o alargamento da Avenida Atlântica que, convenhamos, era bem mais importante.
Se tiverem a oportunidade de visitar a bela Buenos Aires irão constatar que ninguém corre demais, são poucos os acidentes e, praticamente, nunca vi os indesejáveis redutores (quebra-molas/lombadas), aqui utilizados sem nenhum critério lógico, às vezes até por interesse político.
Temos que, acatando o que nos ensinou na década de 1930 Sir Alker Tripp, corrigir este erro fundamental, adotando a “Onda Verde“ onde irão “surfar” os pelotões de veículos irmanados pela sinalização inteligente.
- Ao mesmo tempo, é preciso que se ensine, lembrando aos motoristas que de acordo com o Art. 61 do CTB, onde não houver sinalização o limite de velocidade nas vias urbanas Locais é de 30 km/h, nas Coletoras, 40 km/h, nas Arteriais, 60 km/h, e nas de Trânsito Rápido, 80 km/h.
- A categoria destas vias deverá ser identificada com uma faixa horizontal, de cerca de 40 cm de largura, nas cores VERMELHA pintadas nos postes de iluminação de via LOCAL, LARANJA nos de via COLETORA, AZUL nos de via ARTERIAL, e VERDE nos da de TRÂNSITO RÁPIDO, sendo estas dotadas de semáforos que, se sincronizados em “Onda Verde”, lhes garantirão a velocidade correta.
É preciso que os semáforos e os “pardais” só funcionem nos horários onde de fato é necessária sua ação. Lembrá-los também que os cruzamentos com rotatória são acima de tudo “chicanas”, onde a velocidade deve ser reduzida e a preferência de passagem para os veículos que nela estejam circulando, respeitada.
Complementando a minha sugestão, deverá ser obrigatório, acompanhando a sinalização de PARE, de importância igual à do sinal vermelho, com a antecedência de um redutor físico calculado para criar o menor embaraço nas velocidades de 30 km/h, devidamente sinalizado, com o aviso da existência de uma placa PARE logo adiante.
No local de parar, a cerca de cinco metros em obediência ao sinal gráfico vertical PARE, outro redutor, calculado para 10 km/h, com a complementação da mensagem “Pare Mesmo, Olhe e Viva.”
Não me recordo de quaisquer outras circunstâncias onde se necessite a utilização dos redutores que, pelo que recebo da colaboração dos leitores, liderados pelo nosso editor Bob Sharp, são detestados.
No caso aqui indicado ele garante a obediência, hoje rara, de um sinal que equivale ao semáforo vermelho.
Será, evidentemente, necessário algum tempo para que os motoristas estejam condicionados, pela sinalização correta, aos regimes de velocidade, nas diversas vias da malha viária urbana.
Será necessário também que as autoridades sobre as vias cumpram à risca a regulamentação do Contran no que tange dimensões dos quebra-molas, pois arrisco dizer que 90% deles não atendem a este fundamental requisito.
Até que se alcance este propósito é indispensável a ação policial, sempre que possível, apenas advertindo, como propus no último artigo que escrevi.
Esta é a receita gratuita para se ter um trânsito disciplinado quanto aos limites de velocidade, pelo comportamento correto de um motorista corretamente condicionado, onde a sua Percepção e a sua Inteligência estarão no comando de suas reações, sobrepujando as tentações da Emoção e da Volição.
Tenham presente, no entanto, que tudo que aqui tentei explicar de nada valerá se o motorista estiver sob o efeito da ingestão excessiva de bebida alcoólica, de uso de tóxico, de cansaço e de sono.
A escolha é dele. Afinal, a sua integridade física ou a sua vida pertencem somente a ele.
CF