Para quem não conhece todas minhas manias de organização, eis a mais recente: numerar tampas e potes para saber qual corresponde a cada um. Sim, a pandemia talvez esteja me deixando mais maluca do que já era, mas vai aí uma explicação. Guardo alguns potes de sorvete para diversas coisas. Se preparo alguma coisa com muita antecedência, caso da famosa feijoada para 60 pessoas que fiz há um ano e meio, uso esses potes para congelar itens sem ficar sem tupperwares. O mesmo quando, como naquela ocasião, sobra comida que irá para o freezer por um longo tempo. E, principalmente, uso esses potes para fazer gelo antes de reuniões. Começo alguns dias antes a virar as gavetas de gelo dentro dos potes, encher de novo as gavetas e assim seguir o processo por um par de dias — meu marido usa o gelo comprado apenas para esfriar bebidas. Diz que não gosta de usar dentro dos copos porque não tem certeza da procedência da água usada — ok, vejam que as manias são várias aqui em casa e que não sou a única doida.
Mas nunca que eu achava a tampa certa de cada um. Agora, exercitando minha capacidade de organizar tudo, resolvi comprar um esmalte de unhas azul, bem baratinho, e numerar tudo: potes na parte inferior, do lado externo, e tampas também do lado externo.
No primeiro dia, foi fácil, pois parti do zero. Aí foi só 1-1, 2-2, 3-3, 4-4, mas conforme descongelava algo, aparecia um pote sem numeração. Como sou louca por organização, mas não tanto, não fiz lista de números já utilizados — nem pretendo fazer. Então, agora, a cada novo pote numerado uso um critério qualquer. Resolvi pular vários números que certamente não tinham sido utilizados e usar 23-23 e 44 – 44 homenageando o Lewis Hamilton (mal sabe ele que foi parar num pote de sorvete na minha casa). Dias depois, mais um. Aí comecei com desenhos: * – * ou # – #.
Como tudo na minha cabeça acaba formando uma cadeia de coisas (e por isso nunca me falta assunto para esta coluna semanal), comecei a tentar lembrar dos números dos carros de Fórmula 1. Sou do tempo em que o número 1 era do campeão mundial do ano anterior, mas nunca soube qual era o critério usado. Para quem, como eu, ficou com essa curiosidade, pode seguir a leitura. Para quem achou suficiente minha cota de doideiras com a numeração dos potes de sorvete, até a semana que vem.
Vamos lá, então. Avante, valentes curiosos.
O sistema é bastante lógico mas, confesso, gostava mais quando o campeão usava sempre o número 1. Acho uma honraria e um direito merecidos, assim como gostava daquela coroa de louros que se entregava ao vencedor de um grande prêmio.
Até 1973, os números dos carros eram dados pelos organizadores das provas. A partir de 1974, o campeão passou a usar o número 1. O número 2 era usado pelo companheiro de equipe e o restante dos números seguia a ordem do campeonato de construtores do ano imediatamente anterior. Mas já no primeiro ano houve uma exceção: o campeão de 1973 foi Jackie Stewart, que abandonou as pistas no final daquele ano e em 1974 quem ostentou o número 1 no carro foi o primeiro piloto da equipe que vencera o campeonato de construtores do ano anterior (Lotus), Ronnie Peterson.
Como curiosidade, em 1973 o sul-africano Jody Scheckter, que correu a maior parte das vezes com os números 11 e 20, usou o número 0 – a única explicação que achei para esse fato é que foi feito “em caráter experimental”, seja lá o que for isso. Não sei o que seria experimentar um número, mas, vá lá. Apenas em 1993 alguém voltou a usar esse número, mas por outros motivos. O campeão de 1992 Nigel Mansell abandonou a F-1 e como a FIA determinara que apenas o campeão usaria o 1, Damon Hill correu com o número 0. O mesmo em 1994, com a saída do campeão da temporada anterior, Alain Prost e o número 0 voltou para o inglês Damon Hill. Para quem acha que ele não era lá grande coisa como piloto, um prato cheio para trocadilhos — mas não serei eu a fazê-los aqui. Hei de resistir a isso.
É claro que havia lacunas na numeração, que não era exatamente sequencial, pois equipes entravam e saíam da Fórmula 1. Por isso, a partir de 1996, foi reformulada a numeração das equipes. O campeão continuou a ter o direito a usar o número 1, mas os números 3 e 4 iriam para equipe vice-campeã (ou campeã em alguns casos), 5 e 6 para o terceiro e assim por diante.
A partir de 2014, nova mudança. Agora cada piloto poderia escolher o número que quisesse, exceto o número 1 que seria usado apenas pelo campeão, mas somente se quisesse. Deixava de ser compulsório. Foi o caso de Sebastian Vettel, em 2014, mas em 2015 e 2016 Lewis Hamilton, que poderia ter optado por ele, ficou com o 44 — por pura superstição, diga-se de passagem. Depois de sete títulos mundiais, acho que tem alguma lógica ele manter o número, não? Afinal, até agora deu tão certo…
Desde aquele ano, cada piloto estreante escolhe um número que deverá ser usado por toda sua carreira desde, é claro, que esteja disponível. Depois de duas temporadas, os números que não tiverem sido usados voltam a ficar disponíveis – mas isso só vale para pilotos “permanentes”. Cada escuderia tem também um par de números “livres” que usa para pilotos provisórios.
Uma nova restrição apareceu em 2015. Depois da morte de Jules Bianchi, no GP do Japão, em 2014, a FIA aposentou o número 17 em homenagem ao piloto francês, que corria com ele.
Alguns números acabaram sendo quase sinônimo de algumas escuderias. É o caso da Tyrrell, que usou os 3 e 4 durante 21 anos e os 27 e 28 utilizados até hoje pela Ferrari.
Segundo o DataNora, o instituto de pesquisas de campo, pomar e granja, o número mais usado foi o 8. Ele esteve em carros de F-1 em quase 1.000 corridas. Mas também achei outras curiosidades:
O número mais alto pintado num carro foi o 208, usado por Lella Lombardi nos anos 1970.
Como cautela e caldo de galinha dizem que não fazem mal, os supersticiosos da F-1 sempre evitaram o número 13. Ele foi usado apenas pelo mexicano Moisés Solana, no GP do México em 1963 (antes, portanto, da utilização da numeração fixa), pela inglesa Divina Galica, mas apenas nos treinos classificatórios do GP da Inglaterra em 1976. Em 2014 e 2015 foi usado oficialmente pelo venezuelano Pastor Maldonado.
Coincidência ou não, o número 5 foi usado em diversos anos por campeões mundiais como Nigel Mansell e Sebastian Vettel.
Em 2019, Antonio Giovinazzi recebeu o número 36 para seu Sauber, mas continuou a usar o capacete com o número 99 no topo.
George Russell fez algo bacana do ponto de vista marketing: escolheu o número 63, que lembra suas iniciais. Inclusive em suas mídias sociais usa o georgerussel63. Mas não acredito que Hamilton deixe de lado seu número 44 em favor de Alexander Albon, que lembram AA.
Mudando de assunto: Este final de semana teremos Fórmula 1 de volta. Estou bem curiosa e positivamente esperançosa quanto à temporada e às transmissões. Vamos ver.
NG