Historicamente, os testes de pré-temporada da Fórmula 1 servem mais para confundir do que para esclarecer: tal cenário não exige que os carros andem dentro do regulamento, cada equipe tem uma agenda de trabalho específica e raramente coincidente com a dos adversários; há pilotos que mudaram de equipe e os que estreiam e, finalmente, orçamentos ainda não garantidos para a temporada comprometem o trabalho. Uma análise do resultado dos três dias de ensaios em Bahrein na semana passada mostrou que Max Verstappen (foto de abertura) e a Red Bull começaram o ano mais forte do que nunca, Yuki Tsunoda e Kimi Räikkönen surpreenderam e a equipe Mercedes enfrentou problemas que impediram repetir a quilometragem acumulada quando comparado ao ocorrido em anos anteriores. Autor da maior mudança de endereço da temporada, Sebastian Vettel esteve longe de ter uma estreia memorável na Aston Martin. Vale destacar dois fatores que marcaram os testes: uma tempestade de areia na sexta-feira e a alta temperatura das sessões realizadas durante a tarde.
O bom desempenho de Max Verstappen e da Red Bull tem importância porque o holandês sequer usou os pneus de compostos mais macios para obter o melhor tempo no resultado acumulado (1’28”960, domingo, composto C4) e reconheceu que “este foi o meu melhor início de temporada desde que estreei na equipe”. Outros fatos que comprovam o bom rendimento é que a equipe não teve problemas de confiabilidade e Sérgio Pérez (8º tempo, 1’30”187, domingo, C4) somou boa quilometragem em seu período de adaptação ao novo time após seis anos defendendo as equipes Force India e Racing Point. De acordo com a Pirelli, o composto C4 é o mais macio entre as opções disponibilizadas para o GP do Bahrein. Mesmo assim algumas equipes avaliaram o composto mais macio da temporada, o C5.
O segundo tempo do japonês Yuri Tsunoda (1’29”053, domingo, C5) indica que o motor Honda parece ter mais potência do que nunca e que o oriental em pouco tempo poderá ser um adversário forte para seu companheiro de equipe, o francês Pierre Gasly (11º tempo, sexta-feira, C5). Mais experiente, Gasly dedicou-se completar o maior número de voltas possível (andou 27% a mais que Tsunoda), enquanto o japonês aumentou gradativamente sua carga de trabalho: andou 37 voltas na sexta-feira (1’32”727), 57 no sábado (1’32684) e 91, no domingo. Vai valer a pena acompanhar o progresso do japonês em comparação ao francês.
Em seu primeiro trabalho de pista com a Scuderia Ferrari, Carlos Sainz terminou o treino com terceiro melhor tempo (1’29”611, C4, domingo) entre os 21 pilotos que aceleraram pelo traçado barenita em sua configuração de 5.412 metros, a mais longa de três opções. de circuito Se em ritmo de classificação o chassi italiano mostrou-se eficiente, com setup de corrida e pneus de composto médio, o rendimento mostrou-se frágil: os tempos por volta na simulação feita domingo por Charles Leclerc (13º, 1’30″886, C5, sábado) foram piorando de forma alarmante.
A presença de Kimi Räikkönen como autor do quarto melhor tempo (1’29”766, domingo, C5) reforça que o motor Ferrari recuperou a potência cobrada pela FIA após uma violação do regulamento na temporada de 2019. O resultado do seu companheiro na equipe Alfa Romeo, o italiano Antonio Giovanazzi (15º, 1’30”176, C5, sábado) confirma essa hipótese e indica que o time ítalo-suíço (a estrutura da escuderia e a Sauber), terá preferência sobre a Haas como o segundo time de Maranello.
Ao contrário dos anos anteriores, quando sempre liderou os trabalhos de pré-temporada, este ano a Mercedes enfrentou problemas de arrefecimento e, principalmente, de confiabilidade. A melhor marca de Lewis Hamilton (5º, 1’30”025, domingo, C5) ficou a mais de um segundo dos 1’29”960 que Max Verstappen registrou no mesmo dia e com pneus de composto ligeiramente mais duro (C4). Em termos de quilometragem a Mercedes também ficou aquém da sua maior rival e viu Valtteri Bottas marcar apenas o nono tempo no cômputo geral (1’30”289, sábado, C5).
O inglês George Russell, há tempos cotado com o substituto ideal de Lewis Hamilton na Mercedes, reforçou que está em condição de ocupar esse lugar. Mesmo treinando apenas um dia ele foi o sexto mais rápido da pré-temporada (1’30”117, domingo, C5) e acumulou a maior quilometragem do time quando comparados com seus companheiros de equipe Nicholas Latifi (18º, 1’31”672, sábado, C4) e Roy Nissany (21º, 1’34”789, sexta-feira).
O australiano Daniel Ricciardo (7º, 1’30”187, domingo, C4) teve dias mais felizes na sua estreia na equipe McLaren do que Lando Norris (14º, 1’30”586, sábado, C4) que parte para sua terceira temporada no time de Woking. Em uma comparação direta com os carros da Red Bull e da Renault, que pilotou em 2018 e 2020, respectivamente, Ricciardo declarou que a maior diferença sentida foi com relação aos freios. Norris filosofou ao comentar que “é melhor que tenhamos problemas nos testes que na corrida.
Talvez o titular da maior expectativa dos testes de Bahrein, Fernando Alonso fechou os Top 10 (1’30”318, domingo, C4) em que pese sua recuperação de um acidente de bicicleta sofrido há algumas semanas. Dada a grande transformação que a organização francesa sofreu na última temporada, incluído aqui o novo organograma do time agora conhecido como Alpine, é lícito esperar até a terceira prova da temporada para julgar o potencial do time francês. Esteban Ocón (16º, 1m31”146, sexta-feira) completou quilometragem semelhante à do espanhol.
Enquanto a Alpine seguiu sua adaptação aos novos tempos, a Aston Martin experimentou um número excessivo de problemas técnicos que impediram Sebastian Vettel de acumular mais que 117 voltas durante os três dias de teste, número que superou apenas os 83 giros de Roy Nissany, piloto de testes a Williams que andou apenas na sexta-feira. Isso ajuda a explicar a diferença entre o melhor tempo de Vettel (20º, 1m 35”041, domingo, C3) e o de Lance Stroll (12º, 1’30”460, sábado, C5). No sábado o alemão avaliou novos pneus da Pirelli e registrou 1’38”849, cerca de 5”mais lento que o 15º tempo do dia registrado por Lewis Hamilton, 1’33”399.
Com dois pilotos estreantes na categoria, ambos recém-chegados da F-2, a Haas pagou o preço do noviciado de Nikita Mazepin (17º, 1’31”531, domingo, C3) e Mick Schumacher (19º, 1’32”053, domingo, C3). Será interessante notar o que falará mais alto durante a temporada: o investimento da família Mazepin no time americano ou o prestígio do sobrenome Schumacher junto à Alfa Romeo e à Ferrari.
Os melhores tempos dos três dias:
1) Max Verstappen, Países Baixos, Red Bull Racing, 1’28”960
2) Yuki Tsunoda, Japão, Scuderia AlphaTauri Honda, 1’29”053
3) Carlos Sainz, Espanha, Scuderia Ferrari,1’29”611
4) Kimi Raikkonen, Finlândia, Alfa Romeo Racing, 1’29”766s
5) Lewis Hamilton, Inglaterra, Mercedes AMG, 1’30”025
6) George Russell, Inglaterra, Williams Racing, 1’30”117
7) Daniel Ricciardo, Austrália, McLaren F1 Team, 1’30”144s
8) Sergio Perez, México, Red Bull Racing, 1’30”187
9) Valtteri Bottas, Finlândia, Mercedes AMG, 1’30”289s
10) Fernando Alonso, Espanha, Alpine F1 Team, 1’30”318
11) Pierre Gasly, França, Scuderia AlphaTauri Honda, 1’30”413
12) Lance Stroll, Canadá, Aston Martin, 1’30”460
13) Charles Leclerc, Mônaco, Scuderia Ferrari, 1’30”886s
14) Lando Norris, Inglaterra, McLaren F1 Team, 1’30”586
15) Antonio Giovinazzi, Itália, Alfa Romeo Racing Orlen, 1’30”760
16) Esteban Ocon, França, Alpine F1 Team, 1’31”146s
17) Nikita Mazepin, Rússia, Uralkali Haas F1 Team, 1’31”531
18) Nicholas Latifi, Canadá, Williams Racing , 1’31”672
19) Mick Schumacher, Alemanha, Uralkali Haas, 1’32”053
20) Sebastian Vettel, Alemanha, Aston Martin, 1’35”041
21) Roy Nissany, Israel, Williams Racing, 1’34”789
WG
A coluna “Conversa de pista” é de exclusiva ressponsabilidade do seu autor.