Desde o final da década 1930, o então presidente Washington Luís já declarava que governar é abrir estradas.
Causa-me tristeza, vergonha e revolta quando vejo nos noticiários televisivos caminhões carregados de grãos com destino aos portos para exportação atolados nas estradas que, com as chuvas, se transformam em imensos atoleiros (foto de abertura).
Quando o presidente Juscelino Kubitschek construiu Brasília, transferindo a capital da República para o Planalto Central, recomendou ao seu Ministro de Viação e Obras Públicas, Almirante Lúcio Meira, que, por rodovia, integrasse a nova capital a todos os Estados do país.
Contou-me pessoalmente, em nossos almoços quinzenais enquanto fui diretor de Trânsito do finado Estado da Guanabara, o então ministro a quem o presidente ordenara fazer aquela interligação, a sua satisfação, assim como a Marinha mantivera a integração nacional logo após a Proclamação da Independência, de caber a ele, um “marinheiro”, esta mesma tarefa a fim de integrar a nação brasileira à sua nova capital. Evidentemente, não poderia realizar esta tarefa construindo estradas com os requisitos de segurança e de tráfego que seriam desejáveis durante o período do governo JK, mas na esperança da continuidade dos governantes em aprimorá-las.
No período de novembro de 1960 a março de 1962, eu então Capitão de Corveta, exerci o honroso cargo de Capitão dos Portos do Estado da Paraíba, quando pude conviver com o Comando-Geral de Engenharia do Exército, em João Pessoa, com o Quartel-General do Primeiro Grupamento de Engenharia. Este prestava relevantes serviços ao Nordeste brasileiro, construindo ou realizando o seu acabamento asfáltico e de sinalização de trânsito das poucas estradas existentes, e criando frentes de trabalho durante o vergonhoso período da seca.
Neste período realizou-se, em João Pessoa a terceira reunião do presidente Jânio Quadros com os governadores da Paraíba, Pernambuco e Território de Fernando de Noronha. Pude testemunhar as cobranças de recursos para as obras necessárias para aquela sofrida região, feitas ao presidente por diversos coronéis comandantes de batalhões de engenharia da área sob a responsabilidade do Primeiro Grupamento.
Adolf Hitler (com perdão da má palavra), na sua tarefa de reconstrução da Alemanha, desgastada por enorme desemprego pela vigência da República de Weimar, investiu num vasto plano de construção de autoestradas, (autobahnen) criando milhares de empregos e construindo uma malha viária impecável, tendo o seu piso concretado com cerca de 40 cm de espessura.
Poia estão lá funcionando até hoje.
Tudo isto que procurei trazer ao conhecimento dos nossos dedicados leitores, o fiz para demonstrar ou, se preferirem, motivar o Governo Federal, hoje com um excelente Ministro da Infraestrutura, a erradicar esta vergonhosa deficiência, gerando empregos convocando a iniciativa privada e, prioritariamente, utilizando a competência e o patriotismo dos batalhões de engenharia do nosso Exército, mui corretamente tendo como seu lema Fator de integração Nacional.
Por questão de economia não será possível construí-las em pista dupla, mas que tenham um piso com uma espessura capaz de resistir às pesadas cargas que por elas circularão e, como teriam sentido duplo de direção, ser proibido o tráfego de caminhões nos fins de semana e feriados, prática utilizada há meio século nas excelentes estradas da Alemanha.
Tal proibição tem como propósito evitar os acidentes pelas ultrapassagens arriscadas ou ilegais do tráfego rápido de lazer, praticado por autos, sobre o tráfego lento dos veículos de carga.
Parece-me que não é pedir muito, em prol da economia brasileira e de nossa autoestima patriótica.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente no AE sobre questões de trânsito.