Final do mês de abril de 1931, Stuttgart, Alemanha. Ferdinand Porsche (03/09/1875- 30/01/1951), já então com vasta experiência no projeto e desenvolvimento de veículos, entre eles o Mercedes-Benz SSK (1928 a 1932), mesmo em plena recessão mundial que atingiu todos os países, consequência da quebra da Bolsa de Nova York em 24 de outubro de 1929, e já com 56 anos, inaugura seu escritório de engenharia (foto de abertura, Ferdinand Porsche e Josef Kales, especialista em motores, em 1937). O então denominado Dr. Ing. h.c. F. Porsche Gesellschaft mit beschränkter Haftung, Konstruktion und Beratung für Motoren- und Fahrzeugbau, ou Companhia de Projeto e Consultoria para Construção de Motores e Veículos, numa tradução livre, logo tornou-se um dos mais importantes centros de desenvolvimento automobilístico do mundo.
Nesse mesmo ano de 1931 a Wanderer encomendou o desenvolvimento de um motor e chassi, o Tipo 7 na numeração interna de Porsche. O motor era um seis-cilindros de 1,5 litro. Ainda em 1931, o projeto do Tipo 8 ficou pronto, esse com oito cilindros, que não chegou a entrar em produção pela Wanderer.
Na primavera de 1933 a Auto Union encomendou o projeto de um carro de corrida com motor de 16 cilindros em “V”. Os primeiros testes do Tipo A foram em novembro desse mesmo ano e durante a sua primeira temporada, em 1934, o carro simplesmente bateu três recordes mundiais, venceu diversas provas de subida de montanha e três grandes prêmios. Os recordes obtidos pelo Tipo A foram na pista de Avus, em Berlim, pilotado por Hans Stuck. Entre 1933 e 1939 foram desenvolvidos os Tipos de A até D.
Para entender, a Auto Union foi uma fábrica alemã de automóveis fundada em 1932, resultado da união de quatro fabricantes: Audi, DKW, Horch e Wanderer. Com a Segunda Guerra Mundial a Auto Union deixou de existir, mas em 1949 surgiu uma nova Auto Union, que passou a produzir o DKW. Apesar de tecnicamente competente, a nova Auto Union nunca esteve bem financeiramente, e em 1958 acabou sendo comprada pela Daimler-Benz, e novamente pela Volkswagen em 1964. Nesse momento a marca DKW desapareceu para dar lugar à ressurgida marca Audi, que em 1969 se associou com a NSU formando-se a Audi NSU Auto Union AG. Em 1977 a Volkswagen AG comprou a NSU e nome da empresa passou a ser Audi AG, como a conhecemos hoje.
Desde 1934 o escritório vinha trabalhando no desenvolvimento de um pequeno carro de baixo custo por encomenda do governo alemão, incluída a fabricação de três protótipos que, uma vez aprovados, seriam produzidos numa nova fábrica a ser construída em breve. Surgia o Tipo 60, que daria origem ao sedã mundialmente conhecido.
Nessa época o escritório estava abarrotado de projetos, incluindo o trator Tipo 110, com motor de dois cilindros e arrefecido a ar. Logo após a guerra o Volkstraktor teve enorme variedade de tipos e versões.
Em 1938 o escritório recebeu uma encomenda da Volkswagen para desenvolver um carro de corrida baseado no Tipo 60, para competir numa prova de longa distância entre Berlim e Roma em 1940. Com a designação interna de Tipo 64, os engenheiros da Porsche desenvolveram três cupês durante a primavera de 1939. Com carroceria aerodinâmica executada em alumínio, caixas de roda cobertas, motor boxer Volkswagen modificado e pesando apenas 600 kg, o carro alcançou mais de 140 km/h. A corrida não chegou a se realizar devido à guerra.
No conflito, com o aumento das incursões aéreas sobre Stuttgart em 1944, o escritório foi realocado para Gmünd, no Estado da Caríntia, na Áustria. Com as dificuldades econômicas do pós-guerra, em abril de 1947 o filho do patriarca Ferdinand, Ferdinand “Ferry” Anton Ernst Porsche, juntamente com sua irmã Louise Hedwig Anna Wilhelmine Piëch, conhecida como Louise Piëch, fizeram o escritório renascer.
Ainda em 1947 a italiana Cisitalia encomenda um veículo, o Tipo 360, um carro de competição monoposto de características avançadas, como a suspensão dianteira com dois braços longitudinais e, na traseira, semieixos oscilantes, além da tração integral.
Na primavera de 1947 Ferry Porsche começou a desenvolver suas primeiras ideias para um carro esportivo, projeto de número 356, no sistema de nomenclatura interna que é seguida até os dias de hoje. Em fevereiro de 1948 a mecânica estava pronta, com o motor traseiro-central e uma carroceria aberta, do tipo roadster, em alumínio.
O Porsche 356 número 1 recebeu liberação oficial das autoridades de Caríntia para rodar em 8 de junho de 1948, data que ficou estabelecida como o nascimento da marca. O 356/2 era um carro aberto, mas com motor na extremidade traseira, e começou a ser produzido no segundo semestre de 1948.
No final de 1949 a marca retorna a Stuttgart, no bairro de Zuffenhausen, num prédio ainda ocupado pelos militares americanos, utilizando também as instalações vizinhas da Reutter & Co. GmbH, fabricante de carrocerias. A produção do 356 em Stuttgart começou em 6 de abril de 1950.
A Reutter & Co. GmbH tornou-se a Recaro em 1963, quando a Porsche comprou a oficina de produção de carrocerias, e o restante da empresa foi renomeado como Recaro – REutter-CAROsserie.
Um dos segredos do sucesso da Porsche era os testes de seus projetos. Desde 1953 um pequeno aeroporto perto de Malmsheim, a 30 quilômetros de Stuttgart, era usado para experimentar os esportivos. Mas a necessidade de testes mais completos e complexos levou à criação, em 16 de outubro de 1961, do campo de provas em Weissach e em Flacht, dois distritos vizinhos, a 25 quilômetros a oeste de Stuttgart. Uma pista circular (skidpad) e dois circuitos foram inaugurados, e depois o centro de Weissach recebeu pistas de pavimento rugoso, buracos, desníveis e outras condições para testar os carros de rua e de corrida.
Apesar do sucesso como fabricante de veículos, os serviços de engenharia e projetos continuaram como parte integral das atividades da Porsche. Entre 1952 e 1954 ela desenvolveu um sedã de quatro portas com estrutura monobloco para a Studebaker Corporation. O Studebaker Z-87, projeto Porsche número 542, tinha motor de 6 cilindros e 3 litros, com potência de 106 cv. Foram testados com arrefecimento por ar e por água, mas o Z-87 ficou apenas como protótipo, pois a marca americana passava por dificuldades financeiras.
Os anos 1960 marcaram um grande crescimento da Porsche, com o final da linha 356 e a chegada do 901 em 1963, depois renomeado para 911 por causa da Peugeot, que havia patenteado para a França a designação de três dígitos com o “0” no meio, e a Porsche não quis criar animosidade num mercado que já lhe era importante. Além dos carros de grã-turismo, os modelos de competição alcançavam sucessos seguidos, aumentando a fama e a procura por veículos da marca. No final daquela década os planos mais ambiciosos para o Centro de Desenvolvimento da Porsche em Weissach foram postos em prática. No outono de 1971 os departamentos de projetos e de estilo foram deslocados de Zuffenhausen para o novo local. Em 1974 o prédio em forma hexagonal foi construído.
Em 1973 foi desenvolvido o projeto de um automóvel de longa duração (FLA), encomendado pelo governo alemão. O carro conceito, internamente conhecido como Tipo 1989, tinha como objetivo maximizar a conservação de recursos. Ele foi projetado para uma vida útil de 20 anos e uma duração de pelo menos 300.000 km.
Em 1981 a Linde, empresa alemã especialista em tecnologia de armazéns, solicitou o projeto de uma nova geração de empilhadeiras. Além do desenho funcional do veículo, os engenheiros desenvolveram um novo conceito para o banco do motorista, baseado em pesquisas de ergonomia.
O Centro não parou de crescer e se desenvolver. Em 1986 o túnel de vento inaugurado pela Porsche foi considerado o mais moderno do mundo. Em 1994 a Opel encomendou o monovolume Zafira, baseado no modelo Astra. Os engenheiros da Porsche projetaram a carroceria, adaptaram a parte mecânica e realizaram todos os testes preliminares.
Mas para os entusiastas pelos automóveis de alto desempenho, a Porsche Engineering desenvolveu veículos especiais que marcaram época. O Mercedes-Benz 500 E foi montado pela Porsche em Zuffenhausen entre 1990 e 1995, num total de 10.479 veículos. O motor V-8 de 32 válvulas tinha 5 litros. Entre 1993 e 1995 os Audi RS 2 Avant foram montados em Weissach, com diversos componentes Porsche, sendo as rodas e os retrovisores os itens mais notados. Quase três mil dessas peruas saíram da Porsche.
Em 2001 foi criada a Porsche Engineering Group GmbH, nova razão social da empresa, dedicada a cuidar do maior volume de projetos de clientes externos. Um dos primeiros trabalhos, em 2002, foi o motor V-2 arrefecido ar água para a Harley-Davidson.
O trenó do tipo Luge utilizado por Georg Hackl foi desenvolvido pela Porsche, dando ao alemão a medalha de prata nas Olimpíadas de Inverno de 2002 em Salt Lake City, Utah, nos Estados Unidos. Nos trenós Luge o atleta desce pela pista com os pés à frente do corpo e o rosto voltado para cima, ao contrário do Skeleton, no qual ele desce com a cabeça à frente do corpo e o rosto voltado para baixo.
Em 2007 a empresa desenvolveu os sistemas eletrônicos do Seabob, da Cavago, equipamento de lazer que pode ser usado na superfície ou sob a água, puxando o banhista.
Desde 2012 a Porsche opera um dos mais conhecidos locais de testes do mundo, em Nardò, em Apúlia, ao sul da Itália. Com mais de 20 opções de traçados nas pistas, a Porsche Engineering oferece também serviços de testes acústicos e de sistemas de assistência ao motorista. A pista circular para testes de alta velocidade tem 12,6 km de extensão e seu diâmetro é de 4 km. É uma verdadeira reta “infinita”.
O ano de 2014 foi decisivo na história do escritório, com o desenvolvimento completo do Porsche 919 híbrido que venceu por três anos consecutivos a 24 Horas de Le Mans, começando por 2015.
A Porsche Engineering projetou em 2016 as cabines das séries R e S de caminhões pesados da Scania. A estrutura leve foi projetada para ser especialmente segura em colisões, utilizando aços com níveis de resistência diferenciados.
Mas a tecnologia avança rapidamente e a Porsche Engineering está presente em outras localidades da Alemanha, além de Weissach. Também na República Checa, na Romênia, na China e na Itália existem filiais. Atualmente os maiores pacotes de serviços são para as áreas de eletrônica e de informática, entre outros serviços.
AB