O Brasil já se deu conta que nossa recuperação da pandemia depende do ritmo de vacinação. Nas últimas semanas aumentou a disponibilidade de vacinas, atingiu-se uma média de aplicações de cerca de 2M de doses por dia, por alguns dias, e permitiu certo otimismo de que se atingirá a imunização de 90% da população ainda neste ano e as coisas voltarem ao normal de sempre. O mercado não pensa diferente e temos visto novas revisões de projeções de crescimento da economia, leia-se PIB, atingirem a marca dos 5% para este ano de 2021. Como nossa economia encolheu como um todo 4,1% no ano passado, esses 5% praticamente nos põem no mesmo patamar de 2019.
A indústria de transformação segue aquecida e sofrendo carências de matérias-primas diversas, que têm puxado os preços das commodities para cima e por consequência, dos automóveis. O reajuste de preços dos modelos disponíveis ultrapassa 30% em 12 meses. Ou seja, há uma aceleração de inflação em curso, que atinge bens de consumo, alimentos e serviços e que o Banco Central está cuidando de conter com a elevação das taxas de juros. Até chegar no setor automobilístico demora um pouco.
Os compradores de automóveis parecem não se darem conta da inflação, da queda de renda, enfim, seguem comprando como se não houvesse amanhã. E o fator limitante de vendas segue sendo a falta de chips.
No mês passado esta coluna levantou a questão de que algo de diferente ocorre dentro da GM. Enquanto seus concorrentes, que também sofrem com a mesma falta de semicondutores, fazem breves paralisações de linha para se adequarem à chegada desses insumos ao país, a fábrica de Gravataí está parada desde março e agora a fabricante acaba de divulgar que a retomada de atividades foi postergada em mais um mês.
Que estrago! Os dois modelos mais vendidos do país não são produzidos há três meses, então alguns compradores foram forçados a migrar para modelos de outras marcas. O que vemos nos números do mês de vendas de Onix e Onix Plus são os da versão Joy, aquela geração anterior, hoje produzida na fábrica de São Caetano do Sul. Fica difícil estimar aqui o total de veículos que deixou e deixará de ser produzido pela falta dos chips, mas no caso da GM é mais simples, basta multiplicar o número de dias de fábrica parada pela média de vendas de seus dois modelos e chegaremos a algo como 90 a 100 mil veículos, até o momento. Excetuando a Ford, que encerrou suas atividades produtivas no país no início de janeiro, a GM é a única fabricante que teve um encolhimento de vendas neste ano, comparado com 2020, 1%, enquanto o segmento de veículos leves expandiu-se 30,7% nos mesmos cinco meses.
Posso entender os executivos da marca da gravatinha, em que momento eles tiveram a opção de mudar o curso deste ano, que está sendo marcado por perda de vendas, perda de participação, perdas nas receitas e lucros apenas e somente por que alguns na matriz tomaram a decisão de que aqui parar uma fábrica, que produzia os dois best sellers do Brasil, por cinco meses ou seis meses, tudo bem. Evidente que não está tudo bem. A falta de chips promete estender-se até início de 2022 e só depois dela é que se poderá ter noção dos estragos deixados e como fazer para lidar com eles.
Maio teve um dia útil a mais do que abril, venderam-se um total de 188.678 veículos, sendo 175.574 leves (praticamente o mesmo nível de março), 142.701 automóveis, 32.873 comerciais leves, 11.497 caminhões (número recorde desde o baque de 2014) e 1.607 ônibus. A média diária de emplacamentos de leves segue estável, na casa das 8.200 unidades.
Outra dúvida que se comentou aqui no AE, assim que a Ford anunciou deixaria de fabricar seus automóveis no Brasil foi de qual fabricante ousaria lançar-se a buscar o maior pedaço daquela fatia de mercado de 7-9% que foi abandonada pela marca do oval azul. Estamos falando de grandes volumes, portanto Mustang, Territory, Bronco e Maverick (a picape ainda a ser lançada aqui), mesmo somando as vendas de todos eles, seguirão sendo uma fração dos 15-17 mil carros/mês que a Ford comercializava no país.
Ao olharmos os licenciamentos da Fiat e Jeep, elas saltaram respectivamente 94% e 91% sobre os mesmos cinco meses de 2020, Argo (foto de abertura) e Mobi foram os modelos mais vendidos, Renegade em 3º. Se olharmos para 2019, ano pré-pandemia, quem vendia 40.000 carros por mês era a GM e a Fiat 30.000. Neste último mês de maio a situação inverteu-se, a Fiat faturou 40.000 veículos e a GM 17.291. Em maio de 2019 a indústria emplacara 234 mil veículos leves quase 60mil a mais que o mês passado. Portanto a Fiat vende hoje o mesmo que a GM vendia em 2019, num mercado ainda 25% menor do que aquele. Os louros de quem se aproveitou melhor do abandono da Ford vão para a marca italiana, foram eles que se atreveram a caçar os clientes, entendê-los e cativá-los. Notamos também haver longo caminho a percorrer até se chegar aos patamares de vendas e produção de 2019. Que já eram menores que o pico que tivemos em 2012-2013.
As vendas diretas aumentaram a sua proporção no bolo, com 45% do total de emplacamentos. As grandes locadoras voltaram às compras, mas também há nesse número certa agressividade dos fabricantes em desovar mais modelos por esse canal.
RANKING DO MÊS E DOS PRIMEIROS CINCO MESES
A Fiat liderou as vendas do mês, com 40.489 emplacamentos, seguida distante pela VW, com 28.960, Chevrolet em 3º, 17.291 e com a Hyundai quase encostada em 4º, 16.847. Toyota, Jeep, Renault, Honda, Nissan e Caoa Chery completam os dez primeiros. Cabe ressaltar que a marca Chery chegou ao 10º lugar do ranking, posição inédita e que deve incomodar os de cima daqui pra frente, foram eles que lançaram maior número de modelos, que o mercado está começando a conhecer. No ano temos a Fiat em 1º também, com 179.331 licenciamentos registrados, VW em 2º, 142.613, Chevrolet em 3º, 112.996. Ford ainda figura em 10º, mas deve cair mais posições, estimamos seu novo tamanho fique em cerca de 25.000-30.000 veículos por ano, ou entre 12º e 14º no ranking geral.
O Onix que figurara por longos sete anos no topo do ranking e pode ser que retorne a esse lugar assim que a falta de chips for equacionada, cedeu seu lugar para o Argo, que emplacou 10.929 veículos, Mobi em 2º, 7.443, Renegade em 3º, HB20 em 4º. Chama a atenção o bom volume do Corolla Cross, encostou no seu irmão clássico e pode ser o ultrapasse de agora em diante, haja visto a preferência do consumidor pelos suves.
Nos comerciais leves a Strada reina sem competidores, licenciou 9.918 unidades, seguida pela irmã maior, Toro, com 3.942, Hilux em 3º, 3.132, Saveiro, S10, Fiorino. A Stellantis trouxe mais um modelo de sua picape grande, a Ram, e agora, os dois modelos, 1500 e 2500 somam quase 400 unidades por mês, um feito em se tratando o elevado nível de preços deles, acima dos 400 mil reais.
A VW anunciou que abandonou a ideia de produzir sua picape média, a Tarok, que foi apresentada no Salão do Automóvel de 2018 e causara frisson. Portanto, a Toro seguirá só e pode ser ganhe a um novo competidor quando a nova Montana vier, esta ainda por ser confirmada.
Este mês teremos mais um contendor no segmento de suves médios, o VW Taos, vem cheio de atributos competitivos para atrair mais clientes para a marca e esse segmento passará a ter três grandes contendores daqui para frente.
Que venham mais novidades, o mercado precisa.
Até mês que vem!
MAS