Depois de ver a rodada de Valtteri Bottas saindo do boxe nos treinos do Grande Prêmio da Estíria, me vieram à lembrança diversas ocorrências nesse lugar — algumas bizarras, como a do próprio finlandês, outras deveras assustadoras.
Quem acompanha minhas escrevinhações há mais tempo sabe que sou fã de Fórmula 1, mas que não gosto de acidentes. Isso, no geral, mas acidentes que provocam mortes ou deixam sequelas permanentes, nananinanão. Nem revejo e faço questão de evitar. Vi duas vezes a morte do meu ídolo Gilles Villeneuve nos treinos na Bélgica em 1982. Uma, no mesmo dia. Outra, porque não consegui evitar, apesar de todos meus esforços. O mesmo o acidente do Piquet em Indianápolis, em 1992 e o do Alessandro Zanardi na Indy em 2001, numa corrida da categoria na Alemanha.
Acidentes estranhos, mesmo pavorosos, mas que não deixaram sequelas, tudo bem. Mesmo o do Grosjean, no Bahrein em 2020, uma corrida noturna, não me incomoda, pois fora ligeiras queimaduras, não houve nada sério com ele. Ou o espetacular incêndio no carro de Gerhard Berger em Ímola em 1989.
Por isso, minha seleção de acidentes estranhos nos pit stops apenas levam em consideração os que não significaram mortes nem sequelas graves. E vem aqui uma breve explicação:
A FIA aluga as garagens e uma área na pista para as equipes de forma absolutamente igual para todos. Dentro dessas áreas cada escuderia tem uma posição onde podem ser realizadas as paradas de boxes durante os treinos livres, a classificação e a corrida.
Por questão de regulamento, as equipes podem apenas secar ou varrer a área da parada e não podem melhorar a aderência de sua posição de parada de nenhuma outra forma. Mecânicos, auxiliares e qualquer pessoa só pode estar no pit lane, a frente dos boxes, imediatamente antes de um carro parar ali, e deve retirar-se para suas garagens assim que seu trabalho estiver completo. Essa é aquela imagem que vemos do pessoal assistindo à corrida pela televisão, dentro dos boxes.
Mangueira de combustível
Esses incidentes costumam ser assustadores, mas felizmente não há consequências:
Cingapura 2008 – Felipe Massa (foto de abertura)
Esta é de fazer qualquer torcedor brasileiro passar muita, muita raiva. Corria-se pela primeira vez de Fórmula 1 em Cingapura. A apenas três provas do final do campeonato, Massa chegou à etapa apenas um ponto atrás do líder, Lewis Hamilton, e largava na pole position. Ainda na liderança, depois do acidente provocado por Nelsinho Piquet, Massa parou para reabastecer (naquela época era permitido) e trocar pneus. Mas o erro da equipe fez com que ele saísse ainda com a mangueira de reabastecimento presa ao carro. Já no fim do pit lane, ele teve de parar e esperar que os desesperados mecânicos da Ferrari chegassem para tirar o trambolho. Massa terminou em décimo-terceiro lugar, Hamilton, que terminou em terceiro, abriu sete pontos na liderança e, bem o resto todos sabem, foi campeão naquele ano. Fernando Alonso, com Renault, venceu, seguido de Nico Rosberg, de Williams-Toyota.
Brasil 2009 – Kovvalainen e Kimi
Esta podia entrar também na categoria “incêndio nos boxes”. O carro do finlandês 1 Heikki Kovalainen foi liberado quando ainda tinha a mangueira de combustível engatada e saiu espalhando combustível por todo o pit lane. O Ferrari do finlandês 2, Kimi Räikkönen, entrava para fazer a parada e passou por cima da mangueira. O combustível voou para cima do carro dele e tudo pegou fogo. Apesar do susto, não houve feridos de nenhum tipo e os dois pilotos continuaram correndo. E, sim, não vou resistir a fazer uma piadinha infame: o homem de gelo não derreteu…
Roda solta
Segundo o DataNora, a ocorrência mais frequente em termos de acidente nas parada para troca de pneus é fixação errada ou deficiente de alguma roda que, geralmente, se solta. Eis alguns casos históricos:
Alemanha 2013 – Mark Webber
Webber liderava a corrida quando, na nona volta, parou no boxe para troca de pneus A equipe falhou e deixou a roda traseira direita solta. Assim que o australiano saiu, a roda saiu quicando na frente dos mecânicos da Red Bull e ainda atingiu um cinegrafista que trabalhava no local, o britânico Paul Allen, que foi levado consciente ao centro médico e depois transferido de helicóptero para um hospital. Ele teve alguns ferimentos no rosto, mas depois disso foram proibidos fotógrafos e cinegrafistas na área dos boxes. Webber foi para o último lugar, mas conseguiu chegar em sétimo.
Estoril 1991 – Nigel Mansell
Como diria o Agente 86, “o velho truque do pneu solto”. Ao chegar a Portugal, Senna liderava o campeonato com 77 pontos, mas o inglês tinha 59. O Leão foi liberado antes da hora e uma roda ficou solta no pit lane. Na segunda trapalhada da Williams, os mecânicos colocaram a roda que faltava ali mesmo, no pit lane. Mansell voltou em décimo-sétimo lugar e deu show. Bateu seguidas vezes o recorde da pista e chegou a estar em sexto lugar, com reais chances de subir ao pódio. Mas a manobra no pit lane era proibida e o inglês foi desclassificado, deixando Ayrton Senna muito mais perto do tricampeonato por causa dos seis pontos marcados por Senna do segundo lugar (Riccardo Patrese foi primeiro) e zero de Mansell. O inglês foi vice-campeão naquele ano.
Melbourne 2018 – Grosjean e Magnussen
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas
Esta vale pela trapalhada extrema. A escuderia Haas conseguiu liberar seus dois carros com rodas ainda soltas. O dinamarquês Kevin Magnussen estava em quarto lugar — algo absolutamente inédito para a Haas, sua melhor colocação desde a estreia da equipe em 2016, quando parou para trocar pneus. Foi liberado antes da hora, com uma roda ainda não totalmente fixada e imediatamente a equipe gritou no rádio para parar o carro . Por incrível que pareça, quando Romain Grosjean, que estava em quinto lugar, parou para trocar pneus, aconteceu o mesmo. Ou seja, a Haas foi do paraíso ao purgatório em pouco tempo. Mas além dos 22 pontos que potencialmente poderia conseguir com seus dois pilotos, a equipe perdeu mais 10.000 libras esterlinas (US$ 14.000) por liberar seus carros de maneira insegura. Na corrida seguinte, no Sakhir, toda a equipe que faz as trocas de pneus foi mudada de posição. Até então eram três mecânicos para cada roda — um para removê-la roda, outro para encaixar a próxima e o terceiro para posicionar a parafusadeira que rosqueia e aperta a porca única e central da roda. Após a manobra ser completada, um botão é pressionado sinalizando com uma luz que o piloto pode retornar a pista. A partir desse incidente, colocaram mais uma pessoa no boxe para impedir a saída do carro se um erro fosse detectado.
Incêndio nos boxes
Outra categoria de acidentes que impressionam:
Alemanha 1994 – Jos Verstappen
Para mim este é o acidente mais espetacular nos boxes e, por incrível que pareça, ninguém se feriu com gravidade. Verstappen (seu filho Max só nasceria em 1997) estreara na categoria em Interlagos, substituindo JJ Lehto, que estava machucado. O holandês capotou, mas não se machucou. Na sua segunda corrida, em Aida (Japão), Verstappen rodou ao sair do boxe com os pneus frios.
Naquele ano os reabastecimentos estavam de volta. Mas, como dizem, o diabo está nos detalhes e para ganhar tempo no reabastecimento, a Benetton retirou um filtro de segurança da mangueira. Até chegarem a Hockenheim, não houve problemas com o truque, mas quando Verstappen entrou nos boxes, na 16ª volta, o mecânico não conseguiu conectar a mangueira por causa da alta pressão do combustível que era injetado. A gasolina vazou e, no momento em que o combustível chegou às partes quentes do carro, o carro de Jos ficou envolto em chamas. Rapidamente os bombeiros e mecânicos não só da Benetton, mas das outras equipes, correram para apagar o incêndio que resultou em apenas uma ligeira queimadura no nariz do piloto, que havia levantado a viseira ao chegar ao parar no boxe.
Bélgica 1995 – Eddie Irvine
Outro acidente de incrível visual pirotécnico, mas felizmente sem maiores consequências. Durante o abastecimento da Jordan do irlandês, espirrou combustível sobre o motor quente. As chamas foram imediatas, mas duraram apenas segundos. O susto foi que o capacete do piloto e o painel do carro se incendiaram, mas o fogo foi rapidamente apagado pela equipe.
Áustria 2003 – Schumacher
Na volta 23 do GP da Áustria de 2003, Schumacher levou seu Ferrari até os boxes, mas um problema com a bomba de reabastecimento (que já havia falhado na parada de Rubens Barrichello, pouco antes) provocou o vazamento de um pouco de combustível. Houve incêndio, mas também foi extinto muito rapidamente, a ponto de fazer com que a parada do alemão fosse de apenas 12 segundos (Foto xx-xx-xx acidente nos pits Schumacher 2003). Ele continuou correndo e ainda ganhou a prova, sua terceira vitória seguida naquele ano.
Batida nos boxes
São relativamente comuns, mas alguns são insólitas
Canadá 2008 – Hamilton, Kimi Räikkönen e Nico Rosberg
Esta batida é mais comum nas ruas e estradas brasileiras — nos boxes nem tanto. Kimi Räikkönen parou seu Ferrari na saída dos boxes, aguardando a luz verde. Enquanto ele aguardava corretamente parado, Lewis Hamilton simplesmente o abalroou, destruindo a asa dianteira de seu McLaren e provocando sérios danos no Ferrari. Para concluir o momento “Trapalhões”, Nico Rosberg errou o cálculo de distância com seu Williams e bateu na traseira de Hamilton . Ironicamente, logo em seguida a luz ficou verde, mas Räikkönen e Hamilton abandonaram e Rosberg deu mais uma volta para parar novamente para substituir o bico de seu carro.
Hungria 2010 – Kubica e Sutil
Não consegui uma foto para esse fato. Chega a ser raríssimo dois pilotos de Fórmula 1 baterem entre si nos boxes, mas acidente como este é pouco frequente. Em 2010, na Hungria, o polonês Robert Kubica e o inglês Adrian Sutil conseguiram a façanha. Com a entrada do carro de segurança, 16 carros entraram nos boxes ao mesmo tempo nos pits, resultando num tremendo congestionamento tudo. Aconteceu de tudo: uma roda se soltou do Mercedes de Nico Rosberg e o sujeito do “pirulito” (apelido da placa de sinalização) da Renault liberou Kubica bem na frente do Force India de Sutil e a colisão foi inevitável Kubica conseguiu rodar algumas voltas, sofreu uma punição “stop-and-go” antes de abandonar, mas Sutil ficou ali mesmo, assim como Rosberg. A Renault liberou Fernando Alonso com a roda dianteira direita frouxa que se soltou na saída à pista. Renault e Mercedes foram multadas em US$ 50.000 cada uma e o Renault de Alonso foi impedido de correr na prova seguinte, mas na base do grito a equipe conseguiu reverter a punição para uma advertência.
Boxe errado
Estes provocam risadinhas divertidas em todos:
China 2012 – Jenson Button
Esta não é a única vez que algo assim aconteceu (ver abaixo), mas é uma situação engraçada por si só. O britânico Jenson Button entrou por engano no espaço da Red Bull. Rapidamente ele percebeu o engano e se dirigiu ao boxe da McLaren, sua escuderia naquele momento.
Malásia 2013 – Lewis Hamilton
Esta trapalhada tem até uma possível razão. Durante a prova da Malásia, Hamilton entrou no boxe da McLaren. O que haveria de errado com isso? Bem, ele estava um ano atrasado, pois já não corria pela equipe. Depois de risadinhas dor mecânicos, o inglês saiu e procurou o boxe da escuderia correta: a Mercedes.
Mudando de assunto: mais uma vez, juntando meus hobbies: carros e piadas infames.