Em 8 de setembro último,, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, apresentou os números do mês e do ano, nos atualizou quanto aos semicondutores, que se espera se readéquem à demanda global em cerca de um ano. Sim, o mercado deu uma guinada para baixo, produção e vendas saíram do viés de recuperação e o “para baixo” preocupa. Preocupa por que afeta emprego e resultados dos fabricantes, que por sua vez redefinem investimentos, cortando-os onde possível.
A recuperação do setor vem sendo derrubada pela carência dos semicondutores e de matéria-prima. A produção mundial de automóveis chegou a atingir 93 milhões de unidades por ano antes da pandemia, há previsões que chegue a 78 milhões neste ano e 83 milhões em 2022. Com as vacinas e o mundo correndo na busca da normalidade, não fossem esses dois fatores, o volume tenderia a se aproximar daquele patamar. Não mais o será, espera-se um impacto de cerca de 7 a 9 milhões de veículos a menos em ‘2021. No Brasil estamos falando de algo entre 240 e 280 mil. Menos matéria-prima do que demanda puxa o preço das commodities para cima, em consequência os preços dos veículos também sobem. Mais preço = a menos volume vendido.
Aí entra o fator inflação brasileira, que já subiu também, então entram a alta da taxa Selic, para conter essa inflação, que por sua vez eleva os juros para tomada de empréstimos para os financiamentos. O volume menor derruba o emprego. Fácil de entender.
O assunto semicondutores, que fez com que cada fabricante no mundo definisse uma estratégia diferente para enfrentá-los, vimos que a GMB foi uma das mais afetadas, a fábrica de Gravataí, que produz os modelos Onix e Onix Plus da nova geração e que representavam mais de 60% do volume de vendas do fabricante, parou por cinco meses e voltou em 16 de agosto em um turno só, ou seja, meia-força. A fábrica de Fairfax (estado do Kansas, EUA), mesmo fabricante, que produz os modelos Malibu e Cadillac XT4, ficou ainda mais tempo inativa, parou em fevereiro e está voltando agora em setembro. Só que no Brasil custou o emprego do presidente Carlos Zarlenga. Aqui também os chips estão definindo as posições do ranking, quando antes era a preferência dos consumidores por este ou aquele modelo.
Os números de produção e vendas de agosto apresentados pela Anfavea foram respectivamente 164 mil e 172.784 unidades. Produzimos menos do que vendemos no mercado interno. A situação agravou-se ao invés de aliviar. A Toyota, que vinha sofrendo menos que as demais por que haviam se preparado para a escassez dos semicondutores com estoques estrategicamente planejados, anunciou que sua produção global de outubro sofrerá cortes de 40%. A pandemia deu lugar aos chips e em algumas regiões do planeta há paralisações em fábricas de chips por conta de altas de casos de Covid. Um inferno de Dante.
As vendas de caminhões seguem em alta, há carência de semicondutores para eles também, mas em menor grau. Os números deste ano se aproximam dos de 2014, pré-recessão Dilma.
Foram ao todo 119.813 automóveis (3% a menos que julho) e 38.701 comerciais leves (igual a julho), em licenciamentos diários de leves, um importante parâmetro, tivemos 7.207, o pior resultado dos últimos cinco anos. No curto horizonte até o final do ano fica a torcida que a corda não se estique mais do que já está. Juros e preços de veículos 0km puxam a ponto de vermos fiapos aparecendo. Se o crédito começar a se restringir esqueçamos os planos e projeções.
Um breve respiro nas vendas diretas observou-se nos últimos dois meses.
Até mês passado, quando eu havia tirado alguns dias de descanso, o mercado vinha se recuperando a passos cada vez mais lentos, mas ainda assim, nos aproximávamos dos números de 2019, pré-pandemia. Agosto último teve vendas inferiores ao mesmo mês do ano passado e essa diferença tenderá a aumentar.
Nas vendas por região vemos que o sudeste e nordeste vêm puxando a recuperação, puxando a média para cima.
Varejo e vendas diretas nos mostram escolhas de cada fabricante por esses canais. Abaixo um comparativo com mesmo período do ano pré-pandemia (2019). No final desta coluna encontramos os números 2021 vs. 2020 para esta tabela.
Ranking de agosto e dos primeiros oito meses
Este é o ano da Fiat. A marca italiana desde janeiro sob o guarda-chuva da Stellantis, tomou decisões de estratégias comerciais e de produção diferentes de seus rivais, abocanhou a maior parte da fatia deixada pela Ford e retomou a liderança do mercado. Em agosto ela licenciou 39.040 veículos leves, quase o equivalente à soma da 2ª e 3ª colocadas, respectivamente VW e Toyota, com 23.283 e 17.426. No acumulado de oito meses a Fiat vendeu 306.502 unidades, alta de 85% sobre mesmo período de 2020. Se comparados com 2019, eles também cresceram, 30%.
Cabe ressaltar os resultados da marca sino-brasileira, Caoa Chery, em agosto figuraram em 10º lugar no ranking, superando Ford, Peugeot, Citroën e Mitsubishi e se aproximam da Nissan.
O líder do mercado em agosto também o é no acumulado do ano, Argo, antes um modelo de volumes modestos, tomou a frente dos compactos e do mercado em geral. Estou curioso para ver em que posição figurará quando as entregas do Onix se normalizarem. Tivemos o lançamento do Creta 2022 (foto de abertura), estreando a motorização 1-litro turbo 3-cilindros de injeção direta e a resposta do mercado foi imediata, figurou em 7º lugar no ranking. Dos dez primeiros, cinco são suves.
Outro modelo que superou as expectativas do fabricante e do mercado foi o Corolla Cross, em 8º no ranking e filas de espera. A Toyota anunciou início de 3º turno para a fábrica de Sorocaba, onde esse modelo é produzido, portanto espera-se uma disputa mais renhida com o líder do segmento, o renovado Compass.
Nos comerciais leves a Strada reina absoluta, 9.111 unidades licenciadas, líder também no ranking geral de modelos. Toro em 2º, S10 num salto surpreendente, talvez para compensar a falta de chips, seguido da Hilux. Nos primeiros oito meses a picape Strada acumula alta de 109%, mais que o dobro, um case de sucesso, realmente.
Não se espera mais normalização de abastecimento de chips até o final do ano, os rankings de vendas seguirão sendo ditados pela disponibilidade deles para cada fabricante.
De lançamentos, espera-se a chegada da motorização três-cilindros turbo para o Renegade, e também a chegada do suve compacto da Fiat, o Pulse.
Até mês que vem!
MAS