Faz alguns anos que uma conversa com meu filho foi mais ou menos essa:
— Oi, filhão, vamos dar uma volta com o Mustang e ir a um encontro de carros legais?
— É só para ver carros parados?
— Sim
— Acho que não…
Na verdade, meu filho não tem muita cabeça para carro. De vez em quando ele dirigia o Mustang V-8 conversível junto comigo e gostava, claro. Mas, ir a algum evento, ele não se liga nisso. Assim, perguntei a ele:
— Seria mais interessante se tivéssemos outro carro?
— Como assim?
— Você gosta de dirigir carro de corrida no PlayStation, não é?
— Sim, mas o que você quer dizer com isso?
— Vamos vender o Mustang e comprar algo que sirva para dirigir num circuito!
— Tem carro “normal” que sirva para isso? — perguntou.
E assim entramos numa conversa sobre carros normais, mas em versões “R” ou “RS”. Um usado com uns cinco anos, por aí, não é tão caro. Assim, fizemos uma lista de carros que achamos interessantes:
Audi TT RS; Ford Focus RS. Honda Civic Type-R; Renault Clio R.S; Renault Mégane R.S.; VW Golf GTI R w VW Polo WRC.
Conversamos um pouco também sobre vários Porsches, mas para ser um Porsche que sirva para um circuito fica bastante caro. Também entendemos que o Audi TT RS era um pouco caro demais. Num circuito aqui o seguro não ajuda, o que se quebra, se paga. Assim pensei que um carro por uns € 15.000 a € 20 000 poderia ser sustentável, e o Mustang ia dar uns € 20 000.
Então reservamos um sábado para ir ver e dirigir carros usados. Nossa conclusão? Renault Mégane R.S.. Com esse objetivo olhei vários Méganes R.S. — original, original Cup e dois preparados. Conclui que tem que ser um Mégane R.S. original Cup, achei um 265 Cup bem conservado, e comprei.
Na primavera chegou um envelope branco na caixa de correio, “Convite, Dia do R.S..” Que surpresa! Tinha que entrar num site e tentar fazer uma reserva. Não deu certo, já estava lotado. Mas isso não perturbou nossos planos e no verão passado eu e meu filho visitamos alguns circuitos que não eram tão longe da casa.
Muito bacana o 265 Cup, é perfeito para nós. Fácil de dirigir, rápido como um Cayman de 300 cv, e freios que não superaquecem, não dão fading. Simplesmente um ótimo carro para um track day.
Chegou 2021 e esse ano deu certo, consegui marcar uma “vaga” para o Dia do RS.. Em outros track days paga-se entre € 100 a € 200 para participar. Mas o Dia do R.S. a Renault Suécia paga, incluindo ótima comida e condições de testar o Mégane R.S. Mk IV junto com o Alpine A110!
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O circuito do evento se chama Gelleråsen e fica a umas três horas da casa. Tem 2,35 km de extensão com umas 12 curvas. Nove horas da manhã, chegando perto do lugar já era fácil ver que dia era, vimos Méganes R.S. por toda parte. Ao todo eram 50 carros “Renault Sport” particulares no paddock, mais dois Méganes R.S. Mk IV e dois Alpines A110 da Renault Suécia.
A variedade dos carros particulares era grande, desde Clio R.S. “197” com quase 20 anos até Clio 220 Trophy seminovo, Méganes R.S. II, III e IV. A maioria era geração 3 e vários deles eram preparados para circuito. Entre os de geração 4 havia um Trophy R, mais leve com muitas partes em compósito de fibra de carbono, sem banco traseiro, freios ainda melhores, escapamento Akrapovic, câmbio manual, etc. O Trophy R era uma série limitada e custava um pouco mais de € 55.000.
Logo no começo tive a oportunidade de dar uma volta com o novo Mégane R.S. Trophy “normal” de 300 cv. O importador sueco decidiu vender só uma versão do Mégane R.S. atual. Ele tem chassi equivalente ao do “Cup” e câmbio robotizado com borboletas no volante e pneus “tipo R”. Preço, uns € 40.000.
No circuito dá para sentir a diferença em relação ao meu 265 Cup de 2013 e o Trophy de 2021. A principal diferença é que o carro novo é mais ágil e entra um pouco mais facilmente nas curvas, pois as rodas dianteiras estão “guiadas” pela “direção nas quatro rodas”. O câmbio robotizado funciona bem, mas as borboletas no volante ficam perto de outras coisas e a ergonomia é pior do que a de um Ferrari 488, por exemplo. Fora isso, é um carro novo e sem dúvida ótimo para track days.
Depois do “4” dei duas voltas com o meu “3”. Mesmo que ele tenha uns 35 cv amenos e o câmbio seja manual e não tenha as rodas traseiras esterçantes, fui só um segundo por volta mais lento. E preciso dizer que o meu “3” tem mais “caráter”, o ronco do motor é mais alto, o escapamento faz “pops & bangs”, e o carro é um pouco mais leve. Entrando nas curvas o meu sai um pouquinho mais de frente, mas estou acostumado com isso. Digo que pelo dinheiro o 265 Cup é também um ótimo carro para track days.
Durante o dia dei algumas voltas com um “4” e outras com um Alpine A110 S. Nesse caso o “S” significa algo igual a Trophy ou Cup, algo que se presta bem para andar em pistas. Na Suécia o A110 é vendido em três versões:
– Pure, 252 cv, chassi normal, pouco equipamento. Uns € 65.000
– Legend, 252 cv, chassi normal, mais luxuoso e um peso um pouco maior, dependendo do nível de equipamento. Uns € 70 000
– S, 292 cv, chassi Sport e mais preparado para circuito. Uns 75.000.
Todo A110 tem cambio de 7 marchas com borboletas e o peso fica em torno de 1.100 kg, bem leve para ser carro moderno.
Entrando na pista com o “S” é fácil sentir o peso menor e de pronto gostei da experiência. O carro é bem neutro com leve tendência de oversteer quando se acelera dentro da curva. Como o carro era emprestado não o experimentei com o modo Race, mas no modo Sport nada ficava me perturbando (os Méganes são iguais, o ESP em modo Sport nunca fica intrusivo na pista).
O motor atrás dos bancos tem um bloco igual ao do Mégane mas tudo fora do bloco é modificado para instalação no Alpine. O ronco do motor também ficou bem diferente do Mégane, e para um quatro-em-linha é muito charmoso. (escapamento Sport é opcional e sai por uns € 1.700).
Na parte mais rápida no circuito as velocidades eram mais ou menos essas:
A110 S, 200 km/h, Mégane IV R.S, 190 km/h, Mégane III R.S., 180 km/h.
E falando em tempo de volta, a diferença entre os carros, eu dirigindo, ficou na casa de um segundo.
A conclusão desse dia? O evento foi bem organizado com boas oportunidades para muitos dirigirem seus próprios carros. Testar o R.S. 4 e o A110 foi também muito interessante. Todos esses Renault Sport são carros que não cansam nem esquentam demais num circuito. Por ser carro para rua vindo diretamente da fábrica, isso é raro. O meu 265 Cup é um ótimo carro pelo que custou. O novo Mégane R.S. é mais moderno e um pouco mais rápido. Para quem às vezes precisa ter espaço para cinco, e pelo preço e desempenho, o “4” ficou um carro muito bom. E o Alpine? Uma alternativa interessante para quem fica pensando em carro tipo Porsche Cayman, mas quer algo diferente com um desempenho igual ou um ainda um pouco melhor. É claro que Porsche tem o GT4, mas é caro, na faixa de € 100 000.
Voltando para casa fomos conversando, será que é para comprar um Alpine um dia no futuro?
O meu filho com certeza não reclamaria…
HJ
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