Poucas vezes se viu um início de temporada, que começa em marco, em Abu Dhabi (foto de abertura) com tanta movimentação na estrutura técnica das equipes de Fórmula 1. A Williams recém anunciou a dispensa de Alan Carter, seu diretor de engenharia, a Aston Martin confirmou que Dan Fallows deixou a Red Bull e se integrará ao time de Silverstone em abril e a propalada transferência de Otmar Szafnauer para a Renault poderá incluir o passe de Andy Green, discípulo de Gary Anderson e atualmente diretor técnico da Aston Martin. Após ter anunciado a contratação de Ben Hodgkinson em 23 de abril de 2021, a Red Bull confirmou ontem que o ex-número 2 da área de motores da Mercedes começa a trabalhar em seu novo endereço em maio próximo.
O ritmo de trabalho da F-1 se caracteriza por duas vias no que diz respeito aos carros. Uma equipe trabalha na pista e faz a manutenção e desenvolvimento do modelo no ano e outra se concentra no escritório para projetar o modelo da próxima temporada e alguns de seus integrantes eventualmente aparecem em uma ou outra corrida. Por isso mesmo fica estranho a dispensa de Alan Carter: em princípio ele é o responsável pelo projeto do chassi FW de 2022 e supõe-se que ninguém conheça esse carro melhor do que ele. Ao separar o pai da criança a Williams estaria arriscando comprometer irremediavelmente o desenvolvimento do projeto que estreará este ano nas pistas.
Ocorre que no ano passado a Dorilton Capital, empresa que adquiriu o time de Grove da família Williams, deu um passo importante para recuperar o prestígio do time e contratou o alemão Jost Capito para liderar o empreendimento. Junto com ele vieram dois amigos de longa data e parceiros no sucesso de empreitadas lideradas por Capito, como, por exemplo, o departamento de rali da VW. A dupla formada por FX Demaison e Sven Smeets, contratação mais impactante de Capito, certamente tem mais afinidade e cumplicidade com o novo líder do que Carter, cuja passagem pela equipe não foi marcada exatamente pelo sucesso. Nos últimos três anos a Williams ficou sem marcar pontos em 2019 e 2020.
Ex-aerodinamicista da Red Bull, onde era um dos nomes do triunvirato de líderes técnicos, Dan Fallows começa a trabalhar na Aston Martin no dia 2 de abril. Sua contratação foi anunciada em abril e só confirmada agora após uma intensa negociação entre as duas equipes. A equipe negociou com a Mercedes que Ben Hodgkinson fosse liberado de um contrato que terminaria em 2023 e, com isso pode começar a trabalhar na Red Bull Technologies em 24 de maio. O engenheiro vai dirigir a fábrica onde serão projetados e construídos os motores da equipe para a temporada de 2025, quando entra em vigor um novo regulamento para esse equipamento.
Para evitar que seus colaboradores transfiram conhecimento a equipes rivais, os times da F-1 praticam o chamado “gardening leave”, uma quarentena onde funcionários que pedem demissão seguem trabalhando e recebendo salários, mas são afastados das pesquisas e projetos avançados. Isso explica por que a Aston Martin só oficializou o italiano Luca Furbato como novo diretor técnico seis meses após ter sido anunciada a sua contratação. Até dezembro Furbato era um dos líderes técnicos da Alfa Romeo/Sauber.
Mudança tão discreta quanto significativa, ainda por ser confirmada, envolve Andy Green, engenheiro que estreou na F-1 no projeto do Jordan 191, um dos carros mais simples, eficientes e bonitos da F-1 moderna. Discípulo de Gary Anderson, famoso por sua capacidade de conseguir bons resultados com orçamentos reduzidos, Green mostrou que aprendeu bem essa lição ao garantir que os carros da Force India e Racing Point conseguissem bons resultados com recursos muito menores que os das equipes de ponta.
A reestruturação que atinge a Aston Martin Racing atualmente já causou o desligamento de Otmar Szafnauer e, segundo o jornal espanhol Marca, deverá integrar-se à Alpine em breve e levando Green como novo diretor técnico do time francês, cargo que até o final do ano era ocupado por Marcin Budkowski. É voz corrente que Szafnauer e Green sentiram-se desprestigiados com as diretrizes impostas por Martin Whitmarsh (ex-McLaren) como diretor técnico da equipe.
Novos carros estão chegando
Quatro equipes já anunciaram a data de apresentação de seus modelos para a temporada 2022. O primeiro carro a ser conhecido será o Aston Martin AMR22, dia 10 de fevereiro; em seguida serão apresentados o McLaren MCL32 (11), Ferrari (17) e o Mercedes W13 (18). Alfa Romeo, Alpine, AlphaTauri , Haas, Red Bull e Williams ainda não definiram as datas de lançamento.
Sigma P4 venceu a 1000 Milhas Chevrolet Absoluta 2022
A vitória do protótipo Sigma P4 na edição 2022 da 1000 Milhas Chevrolet Absoluta pode ser considerada uma das mais significativas da história da tradicional competição. O modelo concebido pela Sigma P1 Engenharia pelos engenheiros Pedro Fetter e Evandro Flesch largou na pole position, fez a volta mais rápida da prova e marcou a despedida do piloto Jindra Kraucher da categoria P1 nas provas do Campeonato Brasileiro de Endurance; Aldo Piedade Júnior e José Roberto Ribeiro completaram o trio de pilotos. O Porsche 718 Cayman GT4 de Alan Hellmeister/Marcel Visconde/Ricardo Maurício e o MRX de Alex Seid/Henrique Assumpção/Leandro Totti/Pedro Queirolo completaram os três primeiros colocados da competição que durou 11h52’12″648. O evento deste ano consolidou o renascimento da prova, que terá sua próxima edição em janeiro de 2023.
Confira os cinco primeiros:
1) Jindra Kraucher/Aldo Piedade Jr/José Roberto Ribeiro, Sigma P4 Chevrolet, 373 voltas em 11h52’12″648 voltas (categoria P1); 2) Alan Hellmeister/Marcel Visconde/Ricardo Maurício, Porsche Cayman, 362 voltas (GT4); 3) Alex Seid/Henrique Assumpção/Leandro Totti/Pedro Queirolo, MRX, 340 voltas (P1); 4) Aldoir Sette/Estevão Garcia/Gerson Zarpelão Júnior/Gustavo Bandeira, MRX, 330 voltas (P4); 5) Carlos Antunes Filho/Marcelo Campagnolo/Yuri Antunes, 319 voltas (P3).
Eleições na Federação Gaúcha de Automobilismo
O automobilismo gaúcho vive hoje um dia importante: duas chapas estão inscritas na eleição que vai definir os mandatários que comandarão o esporte local nos próximos quatro anos. Uma delas é comandada pelo atual presidente Carlos de Deus, que tenta um quarto mandato. A outra é resultado da junção de composições lideradas por Arlindo Signor, vice-presidente da diretoria atual, e do ex-piloto Jorge Fleck. A federação gaúcha é uma das mais atuantes do País e reúne 37 clubes, número inigualado pelas demais federações automobilísticas de outros estados.
WG
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