No último dia 7, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, no encontro mensal com os principais cadernos econômicos e do setor automobilístico, resumiu bem o ano de 2021, “apesar da crise global de componentes eletrônicos, indústria fecha ’21 com leve recuperação”, ao todo foram 2.119.851 emplacamentos, modestos 3% sobre as vendas do ano anterior, quando houve paralisação de atividades produtivas que se estenderam por longos dois meses.
Fato é que a crise dos semicondutores pegou a indústria de surpresa, causando paralisações nas fábricas ao longo dos três trimestres que se seguiram ao primeiro, que foi o último normal de ’21. Tampouco há previsão de normalização para este ano, ou seja, ainda veremos vendas serem ditadas por disponibilidade de modelos em vez de preferências de mercado.
Segundo as contas da Anfavea, a carência de microchips e, numa menor extensão, de aço e outros itens de matéria-prima, levou os fabricantes no Brasil a perderem produção de 300.000 veículos leves no ano passado, aproximadamente 15% do total. No mundo, a estimativa foi de 10 milhões de autoveículos, ou cerca de 10~11%. A GM foi de longe a mais impactada, com cerca de 100 mil. Nos EUA eles chegaram a perder o topo das vendas para a Toyota, depois de mais de 80 anos de protagonismo quase inconteste.
Em 2021 também tivemos o adeus da Ford à produção de veículos local, anunciada nos primeiros dias de janeiro, depois de mais de 80 anos de atividades. Eles fecharam ’21 com vendas de 37.781 unidades, mas se descontarmos o residual de Ka e EcoSport, desovados até esgotamento dos estoques, seu volume dos modelos que disputarão os consumidores de agora pra frente foi de pouco mais de 24.000, o que lhes posicionaria entre 13º e 14º lugar no ranking.
Alguém tinha de tomar o seu lugar e a Fiat foi a marca das três grandes que mais cresceu e ocupou espaços, com 34% de crescimento sobre 2020. Para termos uma ideia, a paralisação de atividades produtivas da Ford lhes custou 103.000 unidades a menos de vendas, a GM perdeu outras 100.000 com os cinco meses parados em Gravataí, a Fiat somou 110.000 unidades a mais e a Jeep outras 38.000 adicionais. Caoa Chery dobrou de tamanho (20 mil para 40 mil), e as marcas francesas da agora Stellantis cresceram outros 25.000 somados. Basicamente foi essa a dança das cadeiras no ano passado.
O mercado de leves totalizou 1.974.431 unidades, ou 1,2% a mais que em 2020, em dezembro foram 193.990 licenciamentos, um salto de 20% sobre novembro, e sim, o melhor mês de um ano difícil, com emplacamentos diários 9.238 unidades, porém 17% a menos que mesmo mês do ano anterior. A expectativa da Anfavea para 2022 é que a recuperação será limitada pela oferta de semicondutores, teremos 9,4% a mais que em ’21 e talvez a normalização dos chips para o final do 4º trimestre.
Por região, o centro-oeste foi quem mais cresceu no ano passado, 5,4% e o sudeste ficou com uma parcela inferior aos tradicionais 50%.
Em dezembro as vendas no varejo foram 22% menores para automóveis (sempre comparado com mesmo mês do ano anterior), já nos doze meses elas foram 2,6% superiores a mesmo período de 2020. Mais vendas no varejo significam mais consumidores nas lojas, um sinal positivo.
Algumas marcas deixaram menos prioridade nas vendas a frotistas, como mostra o quadro acima, VW -30.000, Hyundai -5.000, Nissan -7.000 e a Fiat e Jeep ocuparam bem esse espaço, com respectivamente +63.000 e +23.000. Porém ambas cresceram também no varejo, com respectivamente +45.000 e +15.000, ou seja, ocuparam espaços de forma razoavelmente equilibrada.
RANKING DO MÊS E DO ANO
O bicho papão de 2021 foi a Fiat, mesmo com a quase normalização de entregas dos modelos Onix da GM, a marca italiana manteve o ritmo e liderou o mês com 35.461 unidades, seguida de perto da marca da gravata-borboleta dourada, com 33.684, depois VW, com 27.657, Toyota, com 18.882. A marca japonesa vem tendo uma resposta bastante positiva do mercado com o Corolla Cross, que aliado a um mês excepcional de Hilux (mais abaixo), carimbou 4º lugar nas vendas, posição que deve frequentar algumas vezes ao longo deste ano. Nos doze meses a Fiat comercializou 431.092 unidades, seguida da VW, com 302.307, depois Chevrolet, Hyundai, Toyota. A Caoa Chery deve figurar em 10º lugar no ranking.
O automóvel mais vendido em dezembro voltou a ser o Onix, seguido do Onix Plus, seguido do Gol e mais um GM, o Tracker em 4º lugar, com 7.936 unidades vendidas. A boa surpresa desse segmento ficou por conta do Fiat Pulse, segundo mês de vendas e já figurando entre os 15 do ranking.
No ano o automóvel mais vendido foi o HB20 (foto de abertura), num quase fotofinish com o Fiat Argo, 86.464 unidades licenciadas, Renegade num surpreendente 3º posto, com 73.927, depois Onix, Compass.
Nos comerciais leves a Strada segue mandando no segmento, emplacou 9.060 unidades e seguirá reinando enquanto aguarda a chegada de sua concorrente da Chevrolet para polarizarem a preferência dos consumidores por picapes compactas. Hilux num surpreendente 2º lugar, com 5.408 unidades, seguida da Toro, com 5.139, Saveiro mais distante, Ranger ultrapassando S10, com 2.289 picapes.
No ano, Strada liderou com 109.114 unidades, tomando à frente também dos automóveis, Toro em 2º, depois Hilux, S10, Saveiro. Interessante notar que a Frontier tomou a posição que antes era da Amarok, depois que esta priorizou as vendas para somente os modelos V-6 Diesel. Cabe registro do bom crescimento da Mitsubishi L200 também, os agroboys puxaram bastante a venda de picapes.
O ano 2022 será de menos lançamentos e com mais disputa, o Brasil tem um parque produtivo de quase cinco milhões de unidades ano e estamos com uma ociosidade média de quase 60%. A normalização dos semicondutores nos permitirá alcançar 2.6~2,8 milhões de unidades por ano, ainda assim aquém do desejado e salutar para nossa indústria. Havia previsões que em 2023 estaríamos voltando ao patamar de 3,5~4,0 milhões/ano, mas elas devem ficar para depois de 2025.
Um ótimo ano a todos nossos leitores e leitoras!
MAS