Bem, caros leitores, cá estou eu de novo com minha coluna sobre pais e filhos automobilistas. Por mais que tenha tentado, e apesar de ultrapassar o tamanho normal das minhas escrevinhações, não consegui concluir aqui as histórias. Ou seja, semana que vem tem mais. Em minha defesa, minha memória tem sido avivada pelo meu marido e por alguns leitores que me mandam mensagens pedindo para incluir duplas de pais e filhos corredores. Mas vamos aos nomes desta semana:
Michael, Mick, Ralph e David Schumacher e Sebastian Stahl (foto de abertura)
Michael Schumacher pulverizou inúmeros recordes em sua vitoriosa trajetória na Fórmula 1. Estreou na categoria em 1991, no Grande Prêmio da Bélgica.
Mas o início dele foi, como a da maioria dos grandes pilotos, no kart, aos quatro anos. O pai dele era dono de uma pista na cidade alemã de Kerten. Aos 18 anos estreou em monopostos, na Fórmula König onde ganhou o primeiro campeonato no mesmo ano do début. No ano seguinte, em 1988, foi para a Fórmula Ford, onde foi vice-campeão. Seguiu para a Fórmula 3, onde em 1989 terminou o campeonato em terceiro lugar e, já no ano seguinte, ganha o campeonato. Em 1990, Schumacher entra no programa de formação de pilotos da Mercedes-Benz. A escuderia, contente com os resultados da jovem promessa, lhe dá um carro para disputar a prova de Hockenheim da DTM, que seria disputada em duas baterias e era a última da temporada. Dela deveria sair o campeão do ano, Johnny Cecotto (então líder do campeonato) ou Hans Stuck. Mas na primeira curva Schumacher bateu na traseira do BMW de Cecotto que foi obrigado a abandonar. Sem poder disputar sequer a segunda bateria, Stuck ganhou o título do venezuelano graças à trapalhada de Schumacher que, aliás, nem conseguiu disputar a segunda bateria. O alemão continuou com a Mercedes em 1991, disputou o Mundial de Protótipos e mais uma prova de DTM, em Norisring, mas apesar de seu companheiro de carro (da Zakspeed) ter largado na pole na primeira bateria, o alemão foi apenas 19º no grid e terminou apenas em 24º lugar. Mesmo assim, ele voltou um mês depois a fazer a prova de Diepholz do Campeonato Alemão de Turismo, novamente com péssimo resultado nas duas baterias. Ainda em 1991, Schumacher foi para a Fórmula 3000 japonesa (ou Fórmula Nippon) onde chega a marcar um segundo lugar. A sorte mudou em 1991, quando o piloto belga Bertrand Gachot, da Jordan, é preso por envolvimento num acidente de trânsito. A Mercedes resolve pagar 300 mil dólares e “compra” o lugar de Gachot na Jordan para a corrida da Bélgica, onde apesar do abandono, o alemão chama a atenção de Flavio Briatore, que demite o brasileiro Roberto Pupo Moreno e contrata Schumacher para fazer dupla com Nélson Piquet. A partir daí é a demolição de recordes que todos conhecemos.
Seu filho Mick tinha pouco mais de 13 anos quando o acidente de esqui provocou o coma do piloto, em 2013, que dura até hoje. Mick começou — surpresa, surpresa — no kart em 2008. De lá, ele foi para a Fórmula 4 ADAC alemã em 2015 e em 2018 venceu o campeonato europeu de Fórmula 3 da FIA. No ano seguinte foi para a Fórmula 2 e já no ano seguinte venceu o campeonato. Em 2019, Mick foi chamado para fazer parte da Academia Ferrari de Pilotos e naquele ano e no seguinte foi piloto de testes. Em 2020, ao mesmo tempo que disputava (e vencia) o campeonato de Fórmula 2 da FIA, Mick estreava na escuderia Haas, onde está até o hoje. O irmão de Michael, Ralf, cinco anos mais novo, também começou correndo nos karts na pista que sua família tinha na Alemanha, mas aos 17 anos foi disputar a Fórmula BMW Junior. No segundo ano já era vice-campeão. No ano seguinte, disputou o Campeonato Alemão de Fórmula 3, onde ficou por três anos, alternando com provas de outras categorias. Em 1996 venceu o campeonato da Fórmula Nippon e, no seguinte, a estreia na Fórmula 1, pela Jordan. Ficou na categoria até 2007, somando 182 grandes prêmios, 6 vitórias e 27 pódios. Ao sair da categoria, foi para Deutsche Tourenwagen Masters (DTM) onde ficou até 2012. Seu melhor ano foi 2011, quando terminou o campeonato em oitavo lugar.
O filho de Ralf, David nasceu em 2001 e em 2017 estreou no Campeonato dos Emirados Árabes Unidos de Fórmula 4. No primeiro ano foi vice-campeão. No ano seguinte foi para a ADAC Formula 4 na Alemanha e desde então correu na Fórmula 3.
Sebastian Stahl é meio-irmão de Michael e Ralph (por parte de pai) e o mais novo dos três. Nasceu em 1978. De 1988 a 1995 correu de kart e em 1996 foi para a Formula König, onde correu durante dois anos. Em 1998 começou a disputar provas de resistência com Porsche, provas de Turismo, e a 24 Horas de Nürburgring.
Graham e Bobby Rahal
O piloto americano Bobby Rahal chegou a disputar os grandes prêmios dos Estados Unidos e do Canadá de 1978 pela equipe Wolf. Não conseguiu marcar nenhum ponto e nunca mais participou das provas como piloto, mas em 2001 voltou à F-1 como chefe de equipe da Jaguar Racing, que tinha como pilotos o britânico Eddie Irvine, o brasileiro Luciano Burti e o espanhol Pedro de la Rosa. No entanto, a participação de Rahal durou apenas um ano, o de 2001. Os maiores sucessos do piloto (e não foram poucos) vieram em outras categorias: foi três vezes campeão da CART (posteriormente Champ Car) em 1986, 1987 e 1992. Venceu a icônica prova 500 Milhas de Indianápolis em 1986. Na CART defendeu equipes como Kraco e Galles (que acabou se associando à Kraco). Terminou 1990 em quarto lugar no campeonato, com 7 pódios. No ano seguinte, foi vice-campeão (perdeu o primeiro lugar para Michael Andretti) e a partir de 1999 continuou na categoria como proprietário de equipe, justamente a Rahal.
Seu filho Graham ganhou a Fórmula Atlantic em 2005. No ano seguinte foi para a Champ Car Atlantic Series, onde terminou vice-campeão depois de ganhar cinco provas. Também participou de provas da Indy Pro Series e de outras categorias, mas jamais disputou um grande prêmio de Fórmula 1. Atualmente corre na Indy Car Series.
Carlos e Carlos Sainz Jr
Carlos Sainz Jr é filho de, adivinhem, Carlos Sainz, que foi duas vezes campeão mundial de rali (1990 e 1992, antes de seu filho nascer), além de quatro vezes vice-campeão e cinco terceiros lugares. Os números alcançados em ralis pelo espanhol são impressionantes. Das treze vezes que disputou o Rali Dakar, foi três vezes vencedor (2010, 2018 e 2020) e duas vezes terceiro colocado, em 2011 e 2021, feitos que, todos somados, lhe dão o título de melhor piloto espanhol de rali da história. É muito querido na Espanha, onde também é reconhecido pela habilidade em acertar carros. O apelido dele nos ralis é El Matador — pela forte personalidade e pelos resultados alcançados. Foi o primeiro piloto não nórdico a ganhar o Rali dos 1000 Lagos, na Finlândia, onde os escandinavos normalmente fazer barba, cabelo e bigode. Nunca correu de Fórmula 1.
O piloto espanhol Carlos Sainz Jr, atual piloto da Ferrari na F-1, está na categoria desde 2015, vindo da Fórmula Renault 3.5 Series, na qual ganhou o campeonato de 2014. Ele começou na categoria na Toro Rosso e desde 2021 está na Ferrari. Para não variar, Sainz Jr começou no kart, em 2006, aos 12 anos. Como é frequente, disputou diversas categorias e provas avulsas com sucesso, até que em 2010, aos 15 anos, foi para a Fórmula BMW Europa e para a BMW Ásia-Pacífico. Na Fórmula 1, disputou 145 grandes prêmios e subiu oito vezes no pódio, mas ainda não conseguiu uma vitória — pessoalmente, acho que talvez não demore muito.
Antonio Sainz, conhecido como Toño, é irmão de Carlos (pai) e também disputa ralis.
Manfred, Markus e Joachim Winkelhock
O piloto alemão Manfred Winkelhock correu na F-1 em 1980 e entre 1982 e 1985, quando morreu no circuito do Canadá. Nesse período, em 56 corridas marcou apenas 2 pontos no Grande Prêmio do Brasil de 1982, quando ainda se corria em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Naquela época, ele corria pela ATS, mas também defendeu as equipes Arrows, Brabham e RAM.
O filho de Manfred, Markus fez uma única corrida dentro da F-1 — o Grande Prêmio da Europa de 2007, em Nürburgring, pela equipe Spyker, já extinta. Ele havia largado em vigésimo-segundo lugar (a última colocação) mas durante a primeira volta começou uma chuva fortíssima e Markus havia apostado em pneus de chuva. Com isso, chegou a liderar a prova por pouquíssimo tempo até que os outros carros foram retomando as posições lógicas na prova. Mas o motor Ferrari deu problemas e o piloto teve de abandonar sua única participação na categoria. Em outras categorias, no entanto, teve resultados muito melhores. Ganhou o campeonato de 2012 da FIA GT, a 24 Horas de Nürburgring em 2012, 2014 e 2017 e a 24 Horas de Spa, em 2014.
Nesta família, há mais um caso de tio-irmão-sobrinho piloto: Joachim Winkelhock, irmão de Manfred e tio de Markus. Como muitos pilotos alemães, Joachim fez carreira em campeonatos monomarca (Renault 5 e Fórmula Ford), DTM, Fórmula 3 alemã (onde foi campeão em 1988). Em 1989 foi para a Fórmula 1, onde participou de sete etapas pela escuderia AGS. Não conseguiu nenhum ponto e no meio da temporada foi substituído pelo francês Yannick Dalmas. Foi então para a 24 Horas de Nürburgring (ganhou em 1990 e 1991, venceu o Campeonato Britânico de Turismo em 1993, o Campeonato Asiático de Turismo em 1994 e o Campeonato Alemão de Superturismo em 1995. Ganhou a 24 Horas de Spa em 1995 e a 24 Horas de Le Mans de 1999. Em 2003 anunciou a aposentadoria.
Jody, Thomas e Ian Scheckter
O sul-africano Jody Scheckter venceu o Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1979 correndo pela Ferrari. Ele começou a carreira em categorias locais em seu país natal correndo onde acumulou reclamações e até mesmo desclassificações por “condução perigosa”. Em 1970 foi para o Reino Unido disputar a Fórmula Ford e em 1972 já estreava na Fórmula 1, onde ficou até 1980. Em 1972 venceu o campeonato da Fórmula 5000 (naquela época era comum pilotos disputarem outras categorias simultaneamente). No total foram 113 grandes prêmios de F-1, 10 vitórias e 33 pódios pela Ferrari, McLaren, Wolf e Tyrrell. Em 1979 venceu o campeonato pela Ferrari. Quando deixou a Fórmula 1, Scheckter se tornou um empresário de sucesso ao abrir uma fábrica de simuladores, vendida tempos depois por uma fortuna.
Tomas Scheckter, filho de Jody, nasceu em 1980 em Mônaco e desde pequeno correu de kart. Aos 11 anos, em 1995, ganhou o Campeonato Sul-africano da modalidade. No ano seguinte fez sua estreia em monopostos ao passar para a Fórmula Vee e depois migrou para a Fórmula Ford. De lá foi para a Fórmula Vauxhall britânica, para a Fórmula Opel Euroseries (venceu o campeonato de 1999), para a Fórmula 3 britânica (vice-campeão de 2000), Masters de Fórmula 3, Euro Open Nissan (vice-campeão). Em 2001 Tomas foi contratado como piloto de testes da Jaguar na F-1, mas acabou sendo demitido por mau comportamento social. Em 2002 estreou na IRL (IndyCar) e após duas vitórias se envolveu no acidente que resultou na morte do piloto Dan Wheldon, seu amigo pessoal. Jody teria pedido ao filho que abandonasse a Indy depois do acidente fatal e Tomas parou de correr.
O irmão de Tomas, Toby, competiu no kart, na Eurocup Fórmula Renault 2.0 e na Fórmula 3 britânica. Atualmente, tem uma indústria de bebidas orgânicas.
Ian Scheckter, irmão mais velho de Jody, estreou na Fórmula 1 antes de Jody — exatamente em 1974, justamente no Grande Prêmio da África do Sul na equipe Lotus. Em 1975 disputou algumas provas pela Frank Williams Racing Team e pela Lexington Racing. Em 1977 foi contratado como piloto oficial da March, mas, sem alcançar nenhum ponto, no final da temporada abandonou.
Como já contei, numa das viagens de carro que fiz pela África do Sul com meu marido decidimos que se algum dia tivéssemos um leopardo, ou chita ou algo assim como mascote, o nome dela seria Jody Scheckter. Passamos vários quilômetros imaginando nomes de animais selvagens que teríamos como mascotes. E, sim, longas viagens me levam a inventar assunto para passar o tempo…
Jonathan e Jolyon Palmer
O britânico Jonathan Palmer ganhou o campeonato Britânico de Fórmula 3 em 1981 e em 1983 o campeonato de Fórmula 2. No mesmo ano estreou na Fórmula 1 pela equipe Williams, mas já no ano seguinte foi para a RAM. Em 1985 foi para a alemã Zakspeed, onde correu até 1986 mas seu melhor lugar foi um oitavo lugar no Grande Prêmio dos Estados Unidos. Em 1987 foi para a Tyrrell, onde marcou seus primeiros pontos (dois, em Mônaco) e terminou o ano com um total de 7 que lhe valeram a décima-primeira colocação no campeonato. Palmer ficou na equipe até 1989, onde acabou ofuscado pelo promissor Jean Alesi. Em 1990 foi para a McLaren como piloto de testes e em 1993 abandonou a categoria. Uma curiosidade: Palmer se formou em Medicina antes de optar pela carreira de piloto e chegou a exercer a profissão em Londres. Depois de sair dos circuitos de carros, foi ser comentarista de televisão.
Jolyon Palmer é filho de Jonathan e, assim como o pai, é inglês. Ele nasceu em 1991 e estreou nos karts MiniMax em 2004. De lá foi para a categoria T-Car britânica (onde ganhou duas provas), para a Fórmula 2 (da FIA) e depois disputou a Fórmula Palmer Audi — uma categoria criada pelo seu pai e cuja vitória garantia uma vaga na Fórmula 2, mas que durou de 1998 a 2010. Em 2011 disputou a GP2 pela equipe Arden e em 2014 foi campeão da GP2 Series, onde disputou o ano todo com o brasileiro Felipe Nasr.
Em 2015 foi o terceiro piloto da Lotus e chegou a substituir Romain Grosjean em alguns treinos livres. Em 2016 foi contratado como segundo piloto da equipe Renault ao lado de Kevin Magnussen e, posteriormente, com Nico Hulkenberg, mas em 2017 foi substituído pelo espanhol Carlos Sainz Jr.
Hans, Hans-Joachim e Johannes Stuck
O piloto alemão Hans Stuck von Villiez (1900-1978) começou a correr em 1923 com um Austro-Daimler. Entre 1927 e 1931 foi o piloto oficial da Auto Union e conseguiu alguns pódios. Em 1935 disputou o Campeonato Europeu de Pilotos e foi quinto colocado. Entre 1937 e 1939 conseguiu apenas alguns pódios, mas não venceu nenhuma corrida. Era conhecido de Hitler e o governo nacional-socialisa fez pressão para que fosse recontratado pela Auto Union depois de ter sido demitido — e assim Stuck voltou às disputas. Seus melhores resultados, no entanto, foram nos campeonatos de subida de montanha. Só se aposentou depois dos 60 anos, com mais de 700 provas disputadas. Nos três anos de Fórmula 1 (1951 a 1953) não marcou um único ponto e largou apenas 3 vezes.
Hans-Joachim Stuck nasceu em 1951, quando seu pai ainda corria na Fórmula 1. Seus melhores resultados foram nas categorias Turismo e de protótipos. Ganhou também na 24 Horas de Le Mans de 1986, 1987 e 1996, três vezes a 24 Horas de Nürburgring (1970, 1998 e 2004), além de ter vencido alguns campeonatos alemães de Turismo e de Resistência. Em 1974 foi vice-campeão da Fórmula 2 Europeia e correu entre 1974 e 1979 na Fórmula 1 — seus melhores resultados foram dois terceiros lugares. Defendeu as escuderias March, Brabham, Shadow e ATS num total de 81 corridas (74 largadas).
Mudando de assunto: depois de um final de semana de uma indigestão de Fórmula 1 (não, mentira, que nunca me canso disso) tive algum tempo para avaliar tudo e vi novamente a corrida. Ao contrário do que me acontecia no ano passado, adorei a corrida sprint deste ano. Não apenas pelo resultado, mas pelo novo formato. É muito bom ver jovens pilotos disputando, embora alguns tenham errado bastante. Adoro ver as ultrapassagens de Checo Pérez, ando meio triste com o desempenho de Ricciardo e fiquei feliz não apenas com a pilotagem, mas também com a felicidade de Lando Norris. Destaco, claro, o feito de Max Verstappen: o sujeito ganhou a corrida sprint, fez a pole, ganhou a corrida e ainda fez a volta mais rápida. Não é pouca coisa, não. Este ano promete muito.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.
Fonte das biografias: Wikipédia