Se a gente usar a imaginação para transformar a Via Anchieta num circuito de corrida, vamos ver que, lá pelos anos 70, um motorista de Kombi arrasou na Fórmula 1, “levantando poeira” para um dos maiores ídolos da temporada, o sueco Ronnie Peterson (1944-1978), que tinha dois apelidos: Sueco Voador e Super Swede (Super Sueco). Ele andou, em 1970, no Tyrrell P34, de seis rodas, lembram? Faleceu em razão de um acidente tumultuado na chicane logo após a largada em Monza (Itália). Naquele tempo quando da realização da prova em São Paulo, Interlagos, Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace (que deu seu nome ao autódromo paulistano), o Moco, desaparecido precocemente em um acidente de avião, promoviam almoços no Guarujá. Lá eles recebiam amigos, entre pilotos, membros de equipes e jornalistas.
Em um deles o sueco chegou ao Guarujá um muito furioso e dizendo algo mais ou menos assim: “Agora eu sei porque o Brasil tem tantos pilotos loucos. Agora eu sei!” Indagado sobre a razão das suas “insinuações”, ele contou que estava ao volante de um carro, descendo pela Anchieta (ainda não existia a Imigrantes), curtindo “as curvas da estrada de Santos”, como cantou o Rei Roberto Carlos, sem radares, quando chegou naquela que é conhecida com a “Curva da Onça”, a mais terrível da estrada.
Metros à sua frente, uma Kombi seguia rapidamente pela estrada. E quando Ronnie, aproximou-se, o “piloto” da Kombi acelerou e entrou na “Onça” com o pé direito no fundo, e as rodas traseiras da Kombi “quicando” como é característica do veículo em curvas fortes como aquela, um verdadeiro “cotovelo”, como muitas desafiantes curvas do circuito da F-1.
O piloto de F-1 bem que tentou ultrapassar a Kombi mas, enquanto durou aquele curto trecho (ali são três curvas) de serra, não conseguiu — ou não ousou fazê-lo — e, como um motorista comum, ficou vendo o “piloto” brasileiro ganhando distância e “quicando” com a sua Kombi, veículo comercial da VW, que já saiu de produção. Era um veículo não apropriado para curvas, mas tinha uns “loucos” imbatíveis nelas, porque ninguém tinha coragem de ultrapassá-los. Ou melhor, nem mesmo tentar.
Ninguém conseguiu, claro, identificar o “piloto” da Kombi, mas todos riram muito da ira que provocou no Ronnie Peterson.
CL