Bem, caros leitores, como já mencionei neste espaço, aquilo que começou como curiosidade virou um monstro com vida própria. Tão monstro que esta parte V precisou ser dividida em duas, ‘a’ e ‘b’. Queria muito recapitular quais eram as famílias de pilotos da história da Fórmula 1, mas o assunto se expandiu bem mais do que eu imaginava. E já vai um mea culpa e um esclarecimento: meu marido me deu um puxão de orelha por não ter escrito sobre os mais novos Fittipaldis quando falei da família. Erro meu, claro. Emo Fittipaldi, filho do bicampeão mundial de Fórmula 1, foi confirmado como piloto da Van Amersfoort para a temporada de 2022 da Fórmula 4. O brasileiro, de apenas 15 anos, irá competir na F4 Italiana e em algumas etapas da F4 Alemã ao longo do ano. Ele já disputou a Fórmula 4 dinamarquesa no ano passado (ficou em terceiro na classificação final do campeonato) e obteve três vitórias na categoria. Pietro Fittipaldi, neto de Emerson Fittipaldi, atualmente é piloto-reserva da Haas na Fórmula 1. Acumula vitórias em categorias Junior da Nascar entre outras categorias de que participa.
Uma curiosidade: Takuma Sato e Marino Sato, apesar da mesma profissão e do mesmo sobrenome, não são parentes. E, apesar de meus esforços de resumir, ainda ficaram de fora Franz, Alexander, Charles e Oscar Wurz e provavelmente mais alguém.
Jean e Giuliano Alesi (foto de abertura)
Bem, chegou a vez de eu escrever sobre um dos meus pilotos favoritos: Jean Alesi ou, a rigor, Giovanni Alesi. Sempre gostei do estilo de pilotar do francês e do jeito de ser. Vi algumas corridas de Fórmula 1 em Interlagos nas quais ele participou e confirmei minha predileção, mas reconheço que se esperava mais dele. Alesi começou em ralis e foi para os monopostos para disputar o Campeonato Francês de Renault 5. Em 1988, já na Fórmula 3, venceu o campeonato francês da categoria. Em 1989 ganhou o Campeonato Internacional de Fórmula 3000, disputado durissimamente com o compatriota Erick Comas. Foi também naquele ano que entrou para a Fórmula 1, ao volante de um Tyrrell, e terminou em quarto lugar no difícil circuito de Paul Ricard. Alesi disputou provas simultaneamente nos dois campeonatos naquele ano e, justamente por isso, não correu em todas as provas. Mas em 1990 Alesi disputou toda a temporada de Fórmula 1.
Pela Tyrrell, carro consideravelmente inferior, conseguiu ficar na liderança nas 30 primeiras voltas da prova de Phoenix, nos Estados Unidos, à frente de Ayrton Senna, que acabaria vencendo a prova com o ótimo McLaren. Aliás, a equipe ganhou o campeonato de Construtores com 121 pontos enquanto a Tyrrell terminou em quinto lugar com somente 16 pontos. Alesi terminou a prova num excelente segundo lugar, e repetiu o feito em Mônaco. O estilo de pilotar lhe valeu o convite para correr pela Ferrari entre 1991 e 1995. Apesar de ter conseguido uma única vitória, no Canadá, em 1995, e de ter terminado apenas duas vezes como quinto colocado no campeonato de pilotos (1994 e 1995) como melhor resultado, os tifosi adoram Alesi até hoje. Ah, ele correu com o número 27, algo meio mítico na equipe, pois havia sido imortalizado por outro ídolo da torcida, Gilles Villeneuve. Mas a ida de Alesi para a Ferrari, que parecia uma boa escolha no final de 1990, revelou-se um erro, pois a equipe entrou em declínio enquanto a Williams, que também havia convidado o francês, ressurgiu como equipe extremamente competitiva a ponto de ser vice no campeonato de construtores em 1991, campeã em 1992, 1993, 1994, 1996 e 1997.
Depois da Williams veio a Benetton (de 1996 a 1997), mas os resultados foram bem apagados. Daí para a Sauber (1998 a 1999) onde o francês teve seu último pódio, um terceiro lugar na Bélgica, em 1998. O ano 2000 marcou a ida para a Prost e a pior temporada de Alesi, com zero ponto. No ano seguinte, a ida para a Jordan, ironicamente a equipe pela qual havia corrido na Fórmula 3000 e pela qual fora campeão em 1989. Em 2002, foi piloto de testes da McLaren o encerramento da carreira na Fórmula 1.
Como muitos pilotos, Alesi foi para o DTM quando saiu da Fórmula 1. Teve algumas vitórias até sair da categoria, em 2006. Atualmente, Alesi se dedica a cuidar de seus vinhedos perto de sua cidade natal, Avignon e acompanha a carreira do filho Giuliano.
Giuliano Alesi também nasceu em Avignon. Entre 2016 e 2021 foi membro da academia de pilotos da Ferrari. Começou no kart em 2013. Em 2015 migrou para os monopostos e disputou o Campeonato Francês de Fórmula 4, onde conseguiu quatro vitórias. Entre 2016 e 2018 correu na GP3, onde também conseguiu quatro vitórias, e em 2019 foi para a Fórmula 2 da FIA. Em 2020, depois de sair da Fórmula 2, Alesi foi disputar algumas categorias japonesas (a mãe dele é uma ex-atriz japonesa e ele tem um nome japonês: Ryu Goto). Primeiro foi a Super Formula Lights, o campeonato de Super Fórmula japonesa, ambos com bons resultados, com vitórias e um vice-campeonato. Está confirmado na mesma equipe TOMS para a temporada 2022 de Super Fórmula japonesa.
Antonio e Alberto Ascari
Bem, estes nomes tirei do fundo do baú. O italiano Alberto Ascari foi vice-campeão de F-1 em 1951, campeão em 1952 e novamente em 1953. É até hoje um dos nomes mais lembrados pelos fãs do automobilismo e, especialmente, pelos ferraristas, embora tenha corrido também para a Lancia e Maserati. Ele nasceu em 1918 e fez nome na Fórmula 1, onde obteve 13 vitórias, 17 pódios e 14 pole positions em 32 corridas. Cabe lembrar que décadas atrás havia muito menos provas na categoria, por isso sempre faço a ressalva de que números de pontos devem ser levados em conta em função das vezes em que o piloto largou. Mesmo assim, como já disse, a pontuação mudou ao longo do tempo e hoje o vencedor de uma corrida recebe mais do dobro de pontos do que recebia antes.
Ascari havia começado a correr, mas a Segunda Guerra Mundial interrompeu seus planos, retomados logo ao fim do conflito. Com um Maserati, disputou alguns grandes prêmios ao lado de Luigi Villoresi, que acabaria sendo um grande amigo. Sua primeira vitória foi no Grande Prêmio de San Remo, em 1948.
Na primeira temporada oficial da F-1, em 1950, Alberto Ascari estava presente. Estreou com um Ferrari no Grande Prêmio de Mônaco ao lado dos companheiros de equipe, o francês Raymond Sommer e o italiano Luigi Villoresi. Ascari terminou em segundo lugar, mas apesar de alguns bons resultados, terminou o campeonato na quinta colocação. A primeira vitória veio em Nürburgring, em 1951 à qual se seguiu Monza, o italiano terminando o ano vice-campeão, atrás do argentino Juan Manuel Fangio. Encantado com o desempenho do compatriota, Enzo Ferrari lhe cedeu um carro para que Ascari participasse da 500 Milhas de Indianápolis de 1952, que naquela época fazia parte do calendário da Fórmula 1. Depois de apenas 40 voltas das 200, Ascari abandonou, mas foi a única prova naquela temporada que ele não venceu.
As outras seis corridas na Europa tiveram Ascari no degrau mais alto do pódio e, em todas, ele marcou a volta mais rápida (que valia um ponto extra naquela época) e, claro, ganhou o campeonato daquele ano. Em 1953, Ascari ganhou a primeira prova e as outras seis consecutivamente — recorde igualado somente por Michael Schumacher em 2004. No GP da França, Ascari terminou em quarto lugar que, com mais duas vitórias, lhe deram o título daquele ano.
Já 1954 não foi tão memorável e Ascari nem conseguiu concluir prova alguma, mas venceu a Mille Miglia. Paralelamente à Fórmula 1, Ascari competiu oficialmente em provas como a 1000 Quilômetros de Nürburgring em 1953, e a já mencionada prova Mille Miglia de 1954, que então contavam pontos para o Campeonato Mundial de Resistência.
Em 1955 os abandonos voltaram a ocorrer, um deles depois de um acidente espetacular em Mônaco, um mergulho no mar. Na semana seguinte, Ascari viajou a Monza para testar um Ferrari e sofreu um acidente fatal numa das curvas mais rápidas do circuito, perto de onde hoje se entra na reta oposta e que se chama Variante Ascari, onde há uma chicana.
O pai de Alberto, Antonio (1888-1926), havia disputado provas de carros esporte logo após a Primeira Guerra Mundial. Ele começou a carreira como piloto de testes e logo chamou a atenção dos dirigentes da Fiat, que lhe cedeu carros para as primeiras provas depois do conflito. Também correu pela Alfa Romeo nos anos 1920, mas morreu num acidente no Grande Prêmio da França de 1926. Uma curiosidade: Antonio Ascari tinha um parentesco longínquo com outro ídolo do automobilismo italiano, o lendário Tazio Nuvolari. E mais uma curiosidade: foi a pedido de Antonio Ascari que a Alfa Romeo pintou em seus carros um trevo de quatro folhas — quadrifoglio em italiano — para dar sorte, usado até hoje nos modelos de alto desempenho, geralmente na parte dianteira do carro e no painel.
Em 1923, no Grande Prêmio de Monza, o companheiro de equipe de Ascari, Ugo Scivocci, sofreu um acidente fatal na atual Variante Ascari e a equipe abandonou a corrida e o resto do campeonato. Ascari disputou várias provas e mais uma curiosidade sobre o piloto: reza a lenda que no GP de Spa, em 1926, ele e seu companheiro de equipe Giuseppe Campari venceram a prova depois de uma folclórica parada nos boxes para comer, com direito a toalha de mesa e pratos.
Depois do acidente de Ascari na França, a Alfa Romeo abandonou a prova e só voltou a competir em Monza. E mais uma história folclórica: na corrida de Monza, Brilli Peri venceu com um Alfa e dedicou à vitória a Antonio Ascari. O fato marcou o primeiro campeonato mundial da equipe e a partir de então uma coroa de louros passou a fazer parte do emblema da marca. durando até 1982.
Johnny, Johnny Jr e Jonathan Cecotto
Sou justa, este nome foi lembrança do meu marido. Eu ter esquecido do nome é uma profunda injustiça da minha parte, pois o venezuelano Johnny Cecotto tem grandes feitos registrados no motociclismo, como dois campeonatos mundiais, um na categoria 350 cm³ em 1975¨, outro na 750 Formula em 1978, embora sem o mesmo brilho no automobilismo.
Sobre quatro rodas, Cecotto começou em 1980 na Minardi no Campeonato Europeu de Fórmula 2. Em 1982, já pela March, venceu três corridas e terminou empatado com o italiano Corrado Fabi, seu companheiro de equipe, mas o sistema de pontuação deixou-o em segundo lugar. Mesmo assim, seu desempenho lhe valeu um convite para a Fórmula 1 no ano seguinte. Nela, Cecotto correu no campeonato de 1983 pela Theodore, onde marcou um único ponto na temporada inteira, e em 1984 pela Toleman, onde foi companheiro de Ayrton Senna, mas correu somente quatro provas e não marcou nenhum ponto. Após um total de 23 corridas (largou 18 vezes) encerrou sua participação na modalidade tendo obtido apenas um ponto, prejudicado pelos problemas financeiros das equipes pelas quais correu.
Mas sua incursão na Fórmula 1 foi encerrada por outro motivo: no treino de classificação para o GP da Grã-Bretanha de 1984 Cecotto sofreu um sério acidente e fraturou as duas pernas, ficando impossibilitado de continuar na modalidade, mas não de competir na modalidade Turismo, no DTM, o Campeonato Alemão de Carros de Turismo. Participou de provas do DTM até 1992 com um BMW M13 e, embora não tenha vencido um campeonato, foi vice em 1990 e teve 14 vitórias. Entre 1994 e 1998, também ao volante de um BMW, venceu o Campeonato Alemão de Superturismo e obteve 12 vitórias. Entre 2001 e 2002 passou para um Opel e venceu o Campeonato Alemão Star V8.
Johnny Cecotto Jr é o filho mais velho do venezuelano. Ele tem dupla cidadania, venezuelana e alemã. Começou no kart em 2005 em diversas categorias e, no mesmo ano, também correu na Fórmula Renault 2.0 italiana. Estreou em 2006 na Fórmula 3 alemã, onde conseguiu uma vitória, mas sem grandes conquistas. Em 2007 foi para a Fórmula Master Internacional, onde subiu três vezes no pódio e voltou para a Fórmula 3 alemã em 2008. Correu em várias categorias simultaneamente até que em 2012, aos 22 anos, venceu a prova de Mônaco da GP2. Mesmo assim, a equipe o substituiu por Edoardo Piscopo. Continuou na GP2 até 2016.Entre 2011 e 2013, Johnny Jr participou de testes como jovem piloto para a Force India e Toro Rosso. Em 2016 foi para a Fórmula V8 3.5, mas acabou ficando sem equipe para correr.
Jonathan Alberto Cecotto é o filho mais novo de Johnny Cecotto. Estreou no kart, para não variar, participou da Fórmula 4 alemã pela equipe Motopark e da GT3 italiana.
O sobrenome Cecotto é venerado na Venezuela. Os venezuelanos sempre citam com orgulho uma entrevista de Ayrton Senna ao semanário italiano Autosprint no qual ele disse que seu companheiro de equipe mais competitivo foi Johnny Cecotto. Pessoalmente, sempre tomo este tipo de declaração com muitíssimo cuidado pois, como disse Ortega y Gasset, “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Senna pode ter dito isso para ficar bem com o público venezuelano, por simpatia ou até mesmo com sinceridade. Mas acho pouco provável esta última hipótese, pois Cecotto foi absolutamente fantástico sobre duas rodas mas não chegou nem perto disso sobre quatro.
(Continua na próxima quarta-feira)
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de de sua autora.
Fonte das biografias: Wikipédia