O Porsche Cayenne comemora em setembro 20 anos de produção como um grande sucesso da marca: alcançou o marco de um milhão de unidades há dois anos e, segundo a empresa, “criou o alicerce econômico para o sucesso sustentável sem comprometer os valores automobilísticos da marca de carros esportivos”.
O então executivo-chefe Wendelin Wiedeking estava vislumbrando o emergente mercado asiático. As ambições eram grandes desde o início: a Porsche não estava satisfeita em construir simplesmente um suve esportivo consistente com a marca, mas tinha como objetivo enfrentar os principais concorrentes do mercado off-road.
O Cayenne começou a ser gerado na metade da década de 1990, quando a Porsche precisou tomar decisões importantes para garantir seu sucesso econômico a longo prazo. A empresa estava “no vermelho” e havia entregue apenas 23.060 carros no exercício de 1991/92. Com o Boxster de 1996 a Porsche começou a se reerguer, mas percebeu que o lendário 911 e o novo modelo com motor central não conseguiriam garantir um futuro seguro.
Os planos para um “terceiro Porsche” começaram a ser elaborados. Com base na recomendação da organização de vendas dos EUA, a empresa optou por um suve — a América do Norte era seu maior mercado naquele momento. Foi definido um projeto conjunto com a Volkswagen, denominado “Colorado”, anunciado em junho de 1998: o Cayenne e o Touareg compartilhariam a plataforma, embora com estrutura de chassi e motores próprios. A empresa ergueu uma nova fábrica em Leipzig, inaugurada em agosto de 2002 (a terceira geração seria feita em Bratislava, Eslováquia).
A primeira geração (E1) foi lançada com dois motores V-8. No Cayenne S, o motor de 4,5 litros tinha 340 cv, enquanto o do Cayenne Turbo atingia 450 cv, com velocidades máximas de 242 e 266 km/h, na ordem. Modernos sistemas incluíam distribuição variável de potência entre os eixos (de 100:0 a 0:100, se necessário), gerenciamento eletrônico de suspensão e ajuste de altura de rodagem (de 217 mm até 273 mm). Em 2006 estreava o Cayenne Turbo S com 521 cv.
Um Cayenne ainda mais esportivo, o GTS, era lançado em 2007. O projeto Roadrunner previa tração apenas traseira, mas a versão de produção saiu com tração integral. Ele combinava motor V-8 de aspiração atmosférica de 4,8 litros e 405 cv, câmbio manual de 6 marchas e chassi revisto, no qual a suspensão com molas de aço foi combinada com o controle eletrônico de amortecimento. Também era 24 mm mais baixo do que o Cayenne S. O nome foi baseado nos registros históricos da Porsche – o 928 GTS, descontinuado em 1995, cuja designação originou-se no 904 Carrera GTS da década de 1960.
A segunda geração (E2), em 2010, substituiu a caixa de transferência com reduzida pelo sistema de tração nas quatros rodas sob demanda, com embreagem multidisco controlada ativamente, e introduziu os trens de força híbridos e híbridos plugáveis. Todos os motores ganharam potência com redução de até 23% no consumo de combustível, ajudada pelo peso menor em 180 kg em média. O destaque na parte interna foi o console central elevado. O Cayenne híbrido combinava um motor V-6 de 3 litros e 333 cv com um motor elétrico síncrono de 47 cv, para 380 cv combinados, e já oferecia alcance elétrico acima de 30 km.
As evoluções da geração E3, em 2017, incluíam suspensão pneumática de três câmaras, eixo traseiro direcional, carroceria de alumínio e mais recursos de assistência ao motorista, como condução semiautônoma em trânsito lento, sistema de visão noturna e assistentes de faixa da via. Novos freios com revestimento de carbeto de tungstênio nos discos de ferro obtinham maior atrito, menor desgaste e sujavam menos as rodas, segundo a Porsche. Como opção permaneciam os carbocerâmicos.
A Porsche também se despediu do motor Diesel e se concentrou ainda mais na tecnologia híbrida plugável. Surgia também o Cayenne Coupé, em 2019, com linha de teto mais esportiva. O Cayenne mais potente é o Turbo S E-Hybrid, disponível desde 2019, com 680 cv e capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 3,8 segundos.
O Cayenne tem demonstrado suas habilidades em condições extremas. Em 2006, duas equipes particulares de rali dirigiram um Cayenne S no rali Trans-Sibéria, que partiu de Moscou e atravessou a Sibéria até chegar em Ulaanbaatar, na Mongólia, e chegaram em primeiro e segundo lugares. A Porsche fez a edição limitada de 26 carros Cayenne S Transsyberia, para ralis de longa distância, e eles garantiram os três melhores lugares no Trans-Sibéria de 2007.
Por sua vez, o Cayenne Turbo GT atual precisou de apenas 20,832 km para demonstrar seu desempenho esportivo com um tempo de volta de 7:38.925. Em 2021, o piloto de desenvolvimento e teste Lars Kern estabeleceu o recorde de volta para suves no lendário Nordschleife (anel norte) do autódromo de Nürburgring.
O sucesso mundial do Cayenne ultrapassou as estimativas de vendas. Inicialmente, a previsão era de que 25.000 unidades seriam entregues por ano. Em oito anos da primeira geração, 276.652 carros foram vendidos – praticamente 35.000 carros por ano. Em 2021, mais de 80.000 unidades foram entregues.
FS