Corria o ano de 2007 e lá estávamos, eu e meu querido amigo Vicente Alessi, viajando pela Itália num potente Alfa Romeo, cedido pela Fiat. Nem precisava tanta potência, pois só viajamos pelas estradinhas vicinais onde, além de não pagar pedágio, é possível conhecer melhor o País e as pessoas. Havíamos participado de um dos mais sensacionais lançamentos que já assisti, o do Cinquecento, ou o Fiat 500, como querem alguns, às margens do rio Pó, em Turim, a “capital” da Fiat. Foi um evento que marcou a história da fábrica, com jornalistas do mundo inteiro.
Eu dirigia, pois o Vic, alegando preguiça, recusava-se a pegar no volante. Para mim, tudo bem. Eu adorava e ainda adoro dirigir.
Depois de vários quilômetros e visitas, entre outras, a Prato (onde tem um maravilhoso Museu, o do Tecido), à Torre de Pisa, menos torta que muitos prédios aqui da orla da minha amada Santos. E temos uma vantagem, além do Santos FC, claro! Enquanto a torre italiana não pode nem receber visitas, os prédios tortos de Santos são habitados.
Bem, seguindo por uma das estradinhas vicinais da Itália, passando por pequenos vilarejos, encontramos um semáforo/sinaleira/sinal na entrada de uma delas. E estava vermelho. Ou seja, não podíamos seguir adiante.
Parei e ficamos ali parados, aguardando que o sinal verde permitisse nossa passagem.
Com razão, o Vic ficou mais impaciente que de costume e dizia: vamos embora, isso tá quebrado. Usando minha vantagem de estar dirigindo, neguei.
De repente, um Cinquecento, modelo antigo, passa reto e entra na cidade. Vic enfureceu, alegando que estávamos ali que nem bobos esperando abrir um semáforo que não tinha nenhuma serventia. E dizia para irmos logo, reafirmando “isso aí tá quebrado”. Resisti à sua “ordem” e, segundos depois, veio o sinal verde e então pudemos seguir nossa viagem.
Acontece que, nestas pequenas localidades, há sempre uma área para se parar, naquela que é a única e estreita via dos lugares, onde dois carros passam quase “raspando” os retrovisores
Resolvemos parar para elucidar o enigma do semáforo. A resposta foi lúcida e simples:
— Nossa única rua é muito estreita, temos crianças e idosos andando por aí e não queremos que corram risco, com carros vindos de um lado e de outro.
Quanto ao Cinquecento que desobedeceu ao sinal: “Era um morador da terra. E nós podemos. Simples assim”. Simples demais, não é verdade?
Como era hora do almoço, por indicação dos residentes fomos comer num pequeno e encantador restaurante, debruçado sobre um vale, com uma comida dos deuses. E tudo graças ao enigmático sinal da entrada da cidade.
O único desentendimento entre nós na viagem foi que o Vic se recusou a ir até Pistoia, onde poderíamos conhecer o cemitério onde estavam enterrados os corpos dos nossos pracinhas, grandes heróis da II Guerra Mundial.
Ah, ia esquecendo de duas coisas: confesso que tomei uma pequena taça do delicioso vinho local. E outra coisa, como fumava o meu amigo Vic! Mama mia!
CL