Foi em 1992, depois do lançamento do Chevrolet Omega. O presidente da GM do Brasil era Mark Hogan, um dos americanos mais brasileiros que já conheci. Uma pessoa muito especial, que tinha emoções e as demonstrava. Deixou saudade quando foi embora do Brasil.
E Mark se apaixonou pelo Brasil e pelo nosso carnaval, Todo ano, vinha de Detroit para o Rio de Janeiro torcer e assistir aos ensaios da sua escola do coração, a Portela, que fica na rua Clara Nunes, e que tinha integrantes famosos, como Maria Rita, uma sambista de primeira e outros nomes da nossa música.
Só que o ex-presidente da GM do Brasil não era apenas um apaixonado pela Portela. E desfilou pela escola de Paulinho da Viola. E não foi apenas um elemento em uma ala qualquer da escola. Não, o Mark não se contentaria em desfilar de novo em uma dessas alas, o que já tinha feito. Queria algo maior, mais participativo, mais emocionante
E foi parar na bateria. Verdade! Foi tocar tamborim na bateria da Portela, apesar do ceticismo de muita gente na escola e também na GM. Poucos acreditavam que ele iria conseguir. Venceu o seu lado brasileiro.
Mas, acostumado ao sucesso, como lançamentos do Corsa/Omega/Vectra, e remodelação das fábricas no Brasil e construção de uma em Gravataí (para produção do Celta), Mark dedicou-se a ensaiar, sempre que podia, para sair-se bem tocando seu tamborim direitinho na Marquês de Sapucaí. E tocou!
É agora que entram o Omega e o Severino.
Como ele não conseguiria participar de todos os ensaios da Portela, em Oswaldo Cruz, no Rio, ele transformou o Omega de seu uso numa verdadeira “quadra” para ensaiar pelo menos umas duas horas ao dia.
Todos os dias, seu motorista na GM, o simpático Severino Garcia (foto), ia buscá-lo em casa, em São Paulo. Ele entrava no Omega, cumprimentava o Severino com a simpatia de sempre, colocava o cassete (isso mesmo, pois ainda não existia pen drive), com o samba-enredo gravado, para ensaiar. Pegava seu tamborim e acompanhava a bateria da escola no percurso até a GM, que durava de 40 minutos a uma hora, dependendo do trânsito em São Paulo, no caminho para São Caetano do Sul,, no ABC paulista. Na ida e na volta!
“No começo era difícil”, confessou Severino, que infelizmente já nos deixou.
Mas com o passar do tempo ele percebeu que Hogan melhorava a cada dia. Várias vezes, antes do desfile, o presidente da GM ia ao Rio para “submeter-se” a um teste. E passou por todos. Desfilou, sem desafinar, numa das mais importantes baterias do carnaval carioca. Aliás, o Mark não foi o primeiro executivo da GM a sair na Portela. Antes dele, Warren Browne, diretor na casa já havia saído numa das alas, junto com esposa e filha. Depois evoluiu para a bateria e “carregou” o colega, Mark, com ele.
Até hoje, quando de suas, infelizmente raras, visitas ao Brasil, Mark e eu lembramos, com alegria e saudade, dos seus desfiles na bateria da Portela.
CL